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Sabia que há um torneio nacional de futsal dos padres?

10 jun, 2022 - 09:30 • Olímpia Mairos

É o Clericus Cup e vai realizar-se de 4 a 6 de julho, na cidade de Chaves. Em competição vão estar 100 padres de todo o país. O objetivo é testemunhar a vivência da fé no desporto.

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Após dois anos de interregno devido à pandemia, o torneio de futsal entre os padres das várias dioceses do país, chamado “Clericus Cup”, está de volta.

É organizado pelos padres da diocese de Vila Real, campeã em título, com a colaboração da Câmara Municipal de Chaves”, e vai decorrer de 4 a 6 de julho, na cidade transmontana.

A ideia é celebrar em festa o centenário da diocese, mostrar um outro lado da vida dos padres, sim, porque os padres também praticam desporto e promover a modalidade que tantos e tão bons frutos tem dado a nível nacional e internacional.

“A importância é grande. É uma forma, também, de promovermos a nossa diocese, de celebramos o centenário. E nós, claro, como competitivos que somos, queremos juntar o convívio e a partilha à taça”, conta à Renascença o padre Ivo Coelho.

Questionado sobre se um sacerdote joga de forma diferente, o capitão da equipa de Vila Real garceja. “Só se por causa da barriga. Mas, não! É igual. Somos competitivos e queremos ganhar sempre. Podemos jogar menos bem, mas a ideia é a mesma - ganhar”, diz.

Adversários em campo, unidos na vocação e missão

“É uma atividade, uma dinâmica onde nós, no fundo, passamos o amor que é Deus, Deus que é amor de uma forma mais subtil, através do futebol, através do convívio”, sublinha.

É também uma forma de chegar aos jovens, não através da Palavra de Deus, mas do futebol e do testemunho de vida.

“Testemunho da nossa unidade”, diz, explicando que os padres em competição são “adversários em campo, mas irmãos no sacerdócio e há grande convívio, grande amizade entre todos”.

Em competição vão estar cerca de 100 padres de todo o país e nas bancadas querem ter muitos jovens a aplaudir.

“Participem, venham ver e venham conhecer. Mais do que estar a julgar e fazer, muitas vezes, um julgamento de fora, venham ver e participar”, desafia, destacando que “um jogo é apenas um pretexto para darmos a conhecer aquilo que nós somos, que somos padres”.

Ao encontro dos jovens

Conhecido pela sua veia goleadora, o padre André Meireles conta que a equipa de Vila Real se tem aprumado e treinado com afinco. O objetivo é revalidar o título em ano em que a “diocese está de gala”.

“Nós sentimos que é uma exigência maior. Esta vontade de revalidar implica-nos a todos com esse primor, com essa vontade de darmos uma nova alegria à nossa diocese, sobretudo neste ano de centenário. Portanto, estamos todos focados nesse objetivo e, naturalmente, com a nossa individualidade pomos todo o nosso esforço, todas as nossas virtuosidades em comum para toda esta diocese que este ano está de gala”, diz o sacerdote.

A par da competição entre pares, a iniciativa é entendida como uma oportunidade para testemunhar Deus aos mais jovens e não só.

“Creio que é um desafio cada vez maior, fazê-lo. Não há, creio, com verdade, muitas atividades com que o possamos fazer com esta franqueza e também com este cariz tão direto e, portanto, neste sentido de equipa, de diocese e de sacerdócio é uma realidade e um desafio que a Igreja deve assumir”, defende, realçando que esta é também “uma forma de mostrarmos que a Igreja está ativa na sociedade. E em tudo quanto nos seja possível, devemos dar testemunho da nossa fé”.

“Não são profissionais, mas são muito profissionais”

Engane-se quem pense que estes padres jogadores não são exímios na arte da bola. Quem o diz é o selecionador nacional de futsal, Jorge Braz, que apadrinha o torneio.

“São padres campeões da Europa, várias vezes. A última edição morosa, mas, certamente, com qualidade e com entusiamo para voltarem ao ouro. É fantástico ver o entusiasmo que eles têm à volta do futsal e da prática desta modalidade”, destaca.

O selecionador nacional acrescenta que “são extremamente organizados no processo de treino, na forma como se foram preparando, como foram organizando o processo. Não são profissionais, mas dentro da atividade deles e do que podem fazer são muito profissionais”.

Habituado a ganhar, Jorge Braz garante que é preciso haver sempre alguma fé, quando nos queremos superar.

“Quando nos queremos superar, tem que haver alguma fé. No dia a dia, no trabalho, em acreditarmos muito naquilo que conseguimos fazer. Hoje em dia é muito importante. Por vezes dizemos que estas novas gerações não têm noção das ações que realizam diariamente, vive-se na era digital, vive-se uma geração diferente, mas emoção, a fé, a família são princípios e valores que devem estar sempre associados e que são muito importantes”, observa.

“A questão da fé vai muitas vezes por cliques”

O bispo da Diocese de Vila Real, D. António Augusto Azevedo, afirma que “é com muita alegria que a diocese recebe este evento, concretamente na zona de Chaves, porque, de facto, se enquadra muito bem no conjunto das atividades que fazem parte do programa do centenário”.

“O desporto em si mesmo é uma atividade muito importante para os mais jovens, neste caso é desporto organizado, ou feito, praticado por clérigos. O desporto é sempre uma atividade muito bonita, uma atividade humana muito interessante e, portanto, faz bem aos clérigos também o encontro e convívio. E acho que isso também ajuda a motivá-los para a sua atividade pastoral”, acrescenta.

O responsável da diocese vilarealense sublinha que o torneio “é uma festa, embora haja uma pequenina parte de competição. E, por outro lado, é uma festa que tem uma dimensão nacional”, considerando “muito positivo para os clérigos das várias dioceses encontrarem-se e conviverem, neste caso, através do desporto, embora também haja outros momentos mais espirituais, mas sempre em clima de festa”.

Reportando-se aos tempos em que muitos miúdos iam para o seminário porque sabiam que havia lá um campo de futebol e em muitas aldeias os padres, em conjunto com as autarquias, dinamizaram a criação de recintos desportivos e até de clubes, D. António Augusto entende que “no tempo em que vivemos, a prática desportiva por parte dos sacerdotes “é um bom testemunho para os mais jovens sentirem que o seu pároco também pratica esta atividade”.

É também um meio, um incentivo para aproximar os mais jovens da religião e, ao mesmo tempo, uma forma de desmistificar a figura do sacerdote e transmitir os valores católicos.

“O Papa Francisco tem-nos ajudado muito a valorizar outras formas de chegar aos jovens, de dar o tal clique. A questão da fé vai, muitas vezes, por cliques, da perceção de algo diferente e, portanto, quando se vê padres a jogar futebol, isso, para os jovens, ajuda-os a perceber que vai muito mais além do que a mera função litúrgica, havendo o lado humano e o lado pessoal”, observa.

“Isto também é bem-estar”

Para a cidade de Chaves, esta é mais uma oportunidade de promoção e de dar a conhecer as suas potencialidades.

O presidente da autarquia conta à Renascença que, quando foi desafiado “a colaborar, para criar as condições para se desenvolver uma prova desportiva ligada ao futsal, neste caso com a particularidade de congregar apenas participantes que têm uma característica singular”, viu a iniciativa com “bons olhos”, não só pela sua componente diferenciadora, mas também para combater estereótipos.

“O padre habitualmente está associado a uma batina, a um recolhimento, a um processo mais íntimo e de reflexão, mas, na verdade, é que também são homens. Esta é uma dimensão importante da sua fé e da sua expressão”, destaca Nuno Vaz.

O autarca entende que o torneio pode facilitar também “a reflexão e a discussão sobre a fé, novas abordagens e as novas dinâmicas promovidas pela Igreja”, nomeadamente ao nível do desporto, mas, também, “fazer uma atividade desportiva saudável e, sobretudo, numa cidade e num contexto do Alto Tâmega, que é, como nós temos vindo a afirmar, uma região da água e de bem-estar”.

“E isto também é bem-estar. Isso também contribui, na nossa perspetiva, para a felicidade, não só dos praticantes, mas também dos fiéis e da comunidade em geral”, destaca.

Muitos dos padres que vão entrar em campo são campeões nacionais, outros são campeões da Europa. E para o autarca de Chaves, esta pode ser uma oportunidade para atrair jovens à modalidade e transmitir algumas lições de vida.

“Temos campeões. É sempre importante perceber que em tudo o que fazemos queremos fazer melhor, seja no exercício da atividade política, seja no exercício de uma atividade clerical, seja, depois, numa atividade física, de uma atividade desportiva, porque é de forma competitiva, sempre solidária e humana, mas devemos ser sempre competitivos em tudo”, conclui.

A equipa da Diocese de Vila Real vai ser apresentada no próximo dia 24, às 17h30, num jogo em que vai defrontar a seleção nacional do clero, no Pavilhão Municipal de Chaves.

Após o jogo, realiza-se, às 19h00, o sorteio para o Clericus Cup e às 21h00 terá lugar um encontro que conta com a presença do selecionador nacional de futebol, Fernando Santos, no Auditório do Centro Cultural.

“Venham apoiar os padres da Diocese de Vila Real e escutar aquele que será, sem dúvida, um belo testemunho de quem anuncia Jesus Cristo no mundo do desporto”, desafiam os sacerdotes vilarealenses.

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