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Morreu o padre António Vaz Pinto

01 jul, 2022 - 09:29 • Ângela Roque

Assistente da Renascença nos anos 80 e 90 faleceu de madrugada no hospital de Santa Maria, em Lisboa. Funeral realiza-se segunda-feira.

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O padre António Vaz Pinto morreu esta madrugada, em Lisboa, anunciou o gabinete de comunicação dos Jesuítas. O sacerdote faleceu no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde estava internado desde o dia 8 de junho, na sequência de um tumor pulmonar. A 2 de junho tinha celebrado os 80 anos com familiares e amigos em Évora, onde residia nos últimos tempos.

O funeral vai decorrer na próxima segunda-feira, no cemitério do Lumiar, logo após a missa exequial, às 10h, na igreja do colégio de S. João de Brito.

Assistente da Rádio Renascença entre 1984 e 1997, o padre Vaz Pinto dedicou grande parte da sua vida à formação espiritual dos jovens. Na Companhia de Jesus foi responsável pela criação de vários centros universitários e pelos Leigos para o Desenvolvimento. Mas foi também um dos fundadores do Banco Alimentar contra a Fome e Alto Comissário para as Migrações. Um percurso marcante, sublinha José Luis Ramos Pinheiro, administrador do grupo Renascença Multimédia.

"O padre Vaz Pinto marcou diferentes gerações, acompanhou o discernimento vocacional de muitos jovens e de muitas pessoas, e desenvolveu inúmeras ações pastorais, sempre com selo próprio da Companhia de Jesus a que pertencia", afima este responsável, recordando o papel que teve no grupo RR. "Nos anos 80 foi assistente religioso da rádio, inserindo-se muito bem na febre de renovação, desenvolvimento e modernização da Renascença que, no fundo, lançou as bases daquilo que a RR é hoje".

"Deu sempre um enorme testemunho de fé ao longo da sua vida, e morreu a dar esse testemunho: disse aos médicos que fizessem apenas o que tinham de fazer porque ele estava absolutamente preparado para partir”.

Criatividade e "rasgo"

O diretor de comunicação dos jesuítas, padre José Maria Brito, sublinha a capacidade de entrega, a criatividade e o pioneirismo do padre Vaz Pinto nas várias obras que criou.

“Foi um homem de uma enorme entrega, com imensa capacidade de criatividade e rasgo, e ao mesmo tempo com uma enorme liberdade. Esteve ligado à criação dos Leigos para o Desenvolvimento, dos centros universitários dos jesuítas em Portugal, que é uma marca que também é oferecida à Igreja , com muita importância. Depois também ao centro de S. Cirilo, no Porto, de apoio aos migrantes, e muitas outras iniciativas". Em todas, diz, teve "a liberdade de passar à frente, de deixar aquilo que tinha feito àqueles que continuavam a sua obra e passar com liberdade para a missão seguinte. Esse foi um grande traço da sua vida”.

"Do ponto de vista espiritual, da promoção da justiça, foi um homem que deixou marcas em pessoas”, afirma o responsável pelo Ponto SJ, lembrando "de um modo muito especial tudo aquilo que tem a ver, desde os anos 70, 74, com a criação dos centros universitários, primeiro em Coimbra, depois em Lisboa (CUPAV). Deixou ainda uma marca muito grande e importante também em todas as pessoas que passaram pela Comunidade de Vida Cristã (CVX), que também acompanhou durante muitos anos, as pessoas que foram fazendo exercícios espirituais".

Recorda, ainda, a criação do Fórum Estudante - no âmbito do CUPAV, em Lisboa - como uma das iniciativas mais pioneiras. "Foi tão importante para tantos jovens, ali no final dos anos 80, para a promoção de caminhos de descoberta do ponto de vista profissional e vocacional".

A criação do Banco Alimentar contra a Fome foi outras das iniciativas a que o padre Vaz Pinto esteve ligado, tendo deixando uma marca importante como Alto Comissário para as Migrações. “Deu um contributo importante para que Portugal pudesse ser um país de acolhimento de muitos migrantes e com políticas muito construtivas. Deixou uma marca do acolhimento e abertura a quem vem, e acho que é um trabalho que também lhe podemos agradecer, a ele, à sua equipa".

"Um entusiasta da vida, da esperança, de Deus"

O padre Vasco Pinto Magalhães - atualmente ligado à Brotéria e à igreja da Encarnação, no Chiado - lembra o "entusiasmo" do amigo e colega, que conheceu "nos bancos da escola".

"Um grande amigo. Fizemos o liceu juntos no colégio são João de Brito, entrámos juntos no noviciado da Companhia de Jesus, fizemos estudos de filosofia juntos e viemos juntos a fundar o Centro Universitário Manuel da Nóbrega, em Coimbra. Depois, toda uma vida de desafio um ao outro de complementaridade, de debate, de apoio mútuo, e por isso fica a experiência de um homem que se enriquece, enriquecendo os outros", afirma à Renascença.

Para Vasco PInto Magalhães, Vaz Pinto foi "um entusiasta da vida, da amizade, da esperança, de Deus".

"É a palavra que me ocorre imediatamente, entusiasmo", que "não ficava só em bons desejos, porque era também um empreendedor de muitas atividades, de muitos grupos, de muitas instituições que no currículo dele têm um peso muito grande".

Breve biografia

António Vaz Pinto nasceu em Lisboa, a 2 de junho de 1942, mas tem raízes familiares em Arouca. Entrou para a Companhia de Jesus em 1965, em Soutelo, depois de ter feito os seus estudos no Colégio São João de Brito e de ter frequentado o curso de Direito na Universidade Clássica de Lisboa. Licenciou-se depois em Filosofia, em Braga, e em Teologia na Alemanha, na Universidade de Frankfurt am Maim.

Ordenado padre em 1974, dedicou grande parte da sua vida à formação espiritual dos universitários e ao acompanhamento de vários grupos. Entre as obras mais emblemáticas que criou destaque para os Leigos para o Desenvolvimento (1986), o Centro Universitário Padre Manuel da Nóbrega (1975), em Coimbra, o Centro Universitário Padre António Vieira (1984), em Lisboa.

Foi reitor da Comunidade Pedro Arrupe, em Braga, onde os jesuítas fazem parte da sua formação, e da Basílica do Sagrado Coração, na Póvoa do Varzim. Foi ainda assistente nacional da Comunidade de Vida Cristã (CVX), e durante um longo período, entre 1984 e 1992, foi presidente da direção do Centro Social da Musgueira, em Lisboa.

Foi Alto Comissário para as Migrações e Minorias Étnicas entre 2002 e 2005, altura em que criou o Centro São Cirilo (2002), no Porto, que dá apoio a migrantes e refugiados.

Em 2008, foi nomeado diretor da Revista Brotéria e mais recentemente, em 2014, foi reitor da Igreja de São Roque e capelão da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.

Na década de 80 e 90, o padre Vaz Pinto foi assistente na Rádio Renascença, e colaborou com vários órgãos de comunicação social. Foi também fundador da produtora de conteúdos religiosos Futuro, e esteve no projeto inicial da criação da TVI. Participou igualmente na criação do Banco Alimentar contra a Fome, em 1992, tendo pertencido à sua direção durante vários anos.

Autor de sete livros sobre teologia, filosofia e vida cristã, e dois de memórias, em 2006 foi distinguido pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, com a Grande Oficial Ordem Infante D. Henrique.

Desde 2019 estava na comunidade dos jesuítas em Évora, onde era Capelão da Santa Casa da Misericórdia e desempenhava a sua ação pastoral, acompanhando pessoas e grupos, e orientando exercícios espirituais.

Comentários
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  • Carlos Martins
    03 jul, 2022 Porto 21:13
    A RR deve ter nos seus arquivos as gravações do programa "Fim e Princípio" do Sr. Pe. António Vaz Pinto. Seria um gesto bonito de homenagem e colocar todo esse registo na forma de um podcast da RR, disponível ao público. É que a mensagem, essa, mantém-se muito actual.
  • Desabafo Assim
    01 jul, 2022 Porto 18:12
    Pois aqui está um vulto para luto nacional, um luto diferente, dos pobres, dos abandonados à sua sorte. Nada tenho pelas homenagens aos outros, que tenho eu com isso. Todos nós conhecemos este nome, faz parte do nosso coletivo.

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