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Afonso Cabral

​Di María: benção ou maldição?

19 abr, 2024 - 13:10

O treinador e comentador Afonso Cabral analisa o regresso à Luz do argentino, a quem "as pernas pesaram e o batimento cardíaco acelerou" contra o Marselha. "Ficou a jogar no metro quadrado junto à linha. Toda a gente no estádio viu, menos Schmidt."

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A 6 de julho de 2023 aterrou em Portugal Ángel di María. De volta ao clube que o lançou para os maiores da Europa, o internacional argentino escolheu "com o coração", segundo o próprio e "abdicou de muitos milhões", segundo o presidente do Benfica, Rui Costa.

Tinham sido três anos de águia ao peito. Um Campeonato e duas Taças da Liga foi o saldo coletivo do jovem argentino que depois brilhou no Real Madrid e PSG, com uma passagem atribulada pelo Manchester United. Antes do regresso a Portugal, houve uma paragem em Itália para defender as cores da Juventus. Com 35 anos, Allegri reconhecia-lhe o potencial técnico e lacunas físicas próprias da idade e das pernas de um jogador que caminhou nos maiores palcos mundiais. Fez um total de 40 jogos e pouco mais de 2000 minutos ao longo da temporada numa média de cerca de 55 minutos por partida. Os jogadores não são eternos, e o extremo que acompanhou Messi nas maiores conquistas argentinas não foge à regra.

Depois de regressar a Portugal, a 25 de agosto foi substituído por Schmidt na derrota frente ao Boavista e assumiu que não gostava de ser substituído. Coincidência ou não, nos três jogos seguintes antes da paragem de seleções fez os 90 minutos completos. A sua gestão foi quase nula e até em jogos da Taça da Liga foi utilizado. Ao dia de hoje, e já contabilizados os 120 minutos (!) contra o Marselha, o argentino soma 3647 minutos de utilização espalhados por 44 jogos. É uma média de 82 minutos por jogo, bem superior à época anterior com o plantel transalpino da Juventus.

A tendência seria baixar, mas o menor grau de exigência da Liga Portuguesa face à Serie A podia justificar um aumento nos números. Afinal, o Benfica passa boa parte do tempo com a bola e aí possivelmente não há melhor na Liga.

Porque ainda hoje di María é de outro nível. Inventa lances, faz jogar, desenha jogadas a regra e esquadro com o seu pé esquerdo e marca golos. Os números são assinaláveis (16 golos e 11 assistências) para um extremo, e o que oferece ao Benfica ofensivamente pode fazer mudar um jogo de um momento para o outro.

Defensivamente, é menos um e alguém que não se vai preocupar muito com as tarefas defensivas. Pode lutar nos duelos mas não corre para trás, com medo que lhe falte oxigénio na frente. Sporting e Porto já aproveitaram a forma como o argentino falha de forma regular na proteção do segundo poste em situações de cruzamento.

Na primeira mão dos quartos de final em Marselha, di María parou. As pernas pesaram-lhe e o batimento cardíaco acelerou, não foi o mesmo nos últimos 20 minutos, e ficou a jogar no metro quadrado junto à linha lateral bem perto de Roger Schmidt. Toda a gente no estádio viu, menos o alemão: estaria refém das declarações de 25 de agosto ou acharia aquela a melhor solução para a equipa?

Todos os jogadores querem estar sempre em campo. Felizmente, há um cérebro por trás de um plantel que decide quais os melhores momentos para cada jogador. Até ver, na opinião de Schmidt, para di María todos os momentos em campo são bons.

De um Benfica triturador em 22/23 passámos a um Benfica muito aquém das suas possibilidades (pois poucos podem ter a coragem de dizer que, individualmente, não é o melhor plantel da Liga portuguesa). A gestão dos nomes foi algo que Schmidt não conseguiu ultrapassar e, com prejuízo para di María, o extremo é a personificação do desnorte que se vive na Luz. Porque tal como ele, o Benfica é mais equipa quando está fresco e, tal como ele, o Benfica não consegue estar fresco porque a gestão não está a ser feita para o proteger.

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