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“Os pobres não podem esperar”. Lamego homenageia D. António Francisco dos Santos

19 mar, 2021 - 14:52 • Olímpia Mairos

Autarcas, sacerdotes e bispos associaram-se à homenagem no dia em que se completam 16 anos da ordenação episcopal do antigo bispo do Porto. “Uma figura de relevo da Igreja” que continua a dizer muito à sociedade.

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A autarquia de Lamego prestou, esta sexta-feira, homenagem a D. António Francisco dos Santos, cidadão honorário e medalha de ouro da cidade de Lamego e bispo do Porto à data do seu falecimento, a 11 de setembro, de 2017.

A cerimónia, limitada no seu número de participantes, teve lugar na rotunda do Centro Escolar de Lamego Nº1, local onde foi edificado um mural evocativo da sua passagem por Lamego, com a inscrição “Os pobres não podem esperar”.

Seguiu-se uma sessão simbólica no auditório do estabelecimento de ensino com a intervenção de diversas individualidades, algumas em formato online, que ficaram marcadas pela vida de D. António Francisco.

Tratou-se de “uma cerimónia simples, bem merecida, bem devida”, disse à Renascença o presidente da Câmara de Lamego, Ângelo Moura, explicando que “D. António é um dos melhores, um cidadão de Lamego que fica no coração de todos os lamecenses. E a homenagem fica agora também materializada neste pequeno mural que hoje entregamos a Lamego”. Uma homenagem onde, há 16 anos, foi ordenado bispo.

O presidente da Câmara de Cinfães, Armando Mourisco, associou-se à homenagem a D. António Francisco e recordou-o como um “homem bom e generoso”, que “se orgulhava nas suas origens humildes, na sua terra e nas suas gentes, humilde e simples com os simples, mas poderoso e sábio com os fortes”.

“Deixa nas nossas memórias uma mensagem de fraternidade, de solidariedade e humanidade”, afirmou.

Já Eduardo Vítor Rodrigues, presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia, destacou a “figura inspiradora e magistral”, defendendo que a melhor forma de perpetuar o antigo bispo da Diocese do Porto “é recordar o seu legado, o sentido de serviço e entrega à comunidade e olhar para o seu exemplo”.

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, também se uniu à homenagem, referindo que guarda “extraordinárias recordações”.

“Foi ele que resolveu vir aqui, a pé, com a sua simpatia, para cumprimentar o presidente da Câmara do Porto e manifestar todo o seu empenho na relação que, depois, estabelecemos”, afirmou o autarca do Porto, realçando a “extraordinária colaboração” e sublinhando que “a cidade do Porto celebra-o em conjunto com Vila Nova de Gaia, com uma nova ponte que há de ter o nome dele”.

Na sua intervenção, o pároco de Santa Cristina de Tendais, terra natal de D. António Francisco, o padre Adriano Pereira destacou a “atenção, a proximidade e a amizade” que D. António Francisco dispensou a todos, gestos que eram consequência do seu modo de vida em Deus” e expressou a sua “gratidão pela vida e pela missão”.

“Um padre e um bispo com coração”

De D. António Francisco dos Santos, o bispo de Aveiro recordou “a paixão pela caridade, o ardor pela evangelização dos crentes e não crentes e o espírito de oração”. E D. Manuel Linda, bispo do Porto, falou de “uma figura incontornável”, destacando a “simpatia e a capacidade de estabelecer diálogo com todos”.

Já D. Jorge Ortiga, arcebispo de Braga, recordou o antigo bispo do Porto como “um padre com coração” e um “bispo com coração”, um “coração generoso, grande, um coração que se doou a todos, à Igreja, aos pobres”.

D. António Francisco foi “alguém que nunca se colocou no centro, descentralizou-se sempre, colocando os outros em primeiro lugar. Estruturou a sua vida na lógica do dom de si mesmo”, disse D. Jorge Ortiga.

Para o bispo de Lamego, D. António Couto, o homenageado foi “uma figura de relevo da Igreja em Portugal”, explicando que “não foi um homem do social”, mas “um homem do amor a Deus, que tem em si a sua própria razão”.

“Esse Deus que é amor e esse amor tem também a sua razão em D. António Francisco e é por causa disso que ele ama os pobres e que disse que os pobres não podem esperar, porque o amor de Deus tem de chegar até eles como uma torrente. Não se pode desligar D. António Francisco do amor de Deus”, afirmou o bispo de Lamego.

“Não podemos apenas ser solidários, temos que ser proativos”

Na sua intervenção, o bispo auxiliar de Lisboa e presidente do Conselho de Gerência do Grupo Renascença Multimédia, D. Américo Aguiar, recordou o “homem de raízes que consagrou todo o seu coração ao serviço dos outros”.

“Ele queria meter no coração todos os diocesanos do Porto”, disse D. Américo Aguiar, vigário-geral da Diocese do Porto, na altura do falecimento de D. António Francisco dos Santos.

Referindo-se à frase inscrita no mural, hoje inaugurado e benzido, D. Américo Aguiar afirmou, em declarações à Renascença, que o lema “os pobres não podem esperar” continua atual e “a ecoar no nosso coração”.

“Estamos a viver uma pandemia que está a levar ao limite muitas famílias. Algumas famílias já ultrapassaram este limite. E temos que estar atentos àqueles que gritam e que já nem ruído fazem, só fazem o gesto de gritar”, observou o bispo auxiliar de Lisboa.

D. Américo Aguiar aludiu ao Dia do Pai, alertando que “não podemos esquecer os pais, as famílias, em que chega a hora do almoço e não têm o que pôr em cima da mesa, porque estão desempregados, porque a situação financeira está debilitada”.

“E nós não podemos apenas estar solidários, temos que ser proativos, porque eles não podem esperar. É isso que ele [D. António Francisco] nos pede todos os dias. E é esse grito que ele faz ecoar no nosso coração, que sejamos capazes de ir ao encontro de quem mais precisa”, concluiu.

D. António Francisco dos Santos nasceu em Tendais, Cinfães, em 1948, foi ordenado bispo em 2005, na sé de Lamego, e assumiu a diocese do Porto em 2014, sucedendo a D. Manuel Clemente. Antes, foi bispo auxiliar na arquidiocese de Braga e bispo titular na diocese de Aveiro. Faleceu a 11 de setembro de 2017.

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