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D. Manuel Felício

“Diocese da Guarda não está em isolamento. Continuamos a fazer bem sem olhar a quem”

06 abr, 2020 - 15:54 • Liliana Carona

Em entrevista à Renascença, o bispo da Guarda, D. Manuel Felício, deixa um aviso: “o que estamos a viver não vai deixar nada igual. Temos de nos ir preparando para fazer sacrifícios”.

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O bispo da Guarda diz que o isolamento social a que todos estão obrigados não impede a solidariedade, que está a crescer na região. Em entrevista à Renascença, D. Manuel Felício fala do empenho da diocese na procura de respostas concretas para combater a crise.

Avesso a fazer propaganda sobre o que a Diocese da Guarda está a fazer em época de pandemia, mas instando em entrevista a responder a algumas dúvidas e perguntas, o bispo da Guarda, D. Manuel Felício, responde sem papas na língua à questão: O que tem feito a diocese? Meia dúzia de ventiladores oferecidos por instituições e sacerdotes à Unidade Local de Saúde (ULS), o centro apostólico transformado em hospital de retaguarda com 80 camas, o convento de Gouveia das Irmãs de São João Batista, distribui refeições por quem mais precisa e reservou um andar com 30 camas para as autoridades de saúde as utilizarem como quiserem.

O bispo da Diocese da Guarda está em isolamento social, mas não é bem um isolamento, pois não D. Manuel Felício?

Há duas semanas que não saio à rua, mas estou sempre em contacto por email, telefone, e temos de estar ainda mais em contacto, ainda que por outros caminhos que não sejam caminhos físicos. O nosso isolamento físico não é real, porque há outras formas de estarmos em contacto sem ser contacto físico.

O repto é para encontrarmos as situações mais difíceis. Há casos concretos de apoio a serviços públicos a nível de fornecimento de refeições. Repare o nosso isolamento físico não é isolamento real, há outras formas de contacto, o repto aos sacerdotes e instituições diocesanas, é para que os contactos se intensifiquem. As nossas casas religiosas apoiam até serviços públicos que têm dificuldades em refeições e as nossas casas estão a oferecer refeições a serviços públicos.

E há mais casos concretos em que o apoio esteja a ser prestado pela diocese, além desse que já referiu de oferecer refeições a serviços públicos?

Perante o pedido de solidariedade para que a nossa ULS tenha 20 ventiladores de prevenção, foram várias as instituições da Igreja que responderam, uma delas o Centro Paroquial do Pínzio que se pôs logo à frente para oferecer cinco ventiladores, cada ventilador custa à volta de 20 mil euros. Nós os padres também nos associamos e oferecemos um ventilador. Para estes meios indispensáveis temos de garantir este esforço de garantir a solidariedade.

Há outras disponibilidades que a diocese da Guarda está a ter, por exemplo, um acordo com a Câmara Municipal para que o nosso Centro Apostólico, seja um hospital de retaguarda. Nós, a diocese, oferecemos o edifício, a câmara municipal oferece a manutenção, e esta parceria permite um hospital de retaguarda com 80 quartos. E tivemos outra feliz notícia ainda hoje, que o NERGA - Núcleo Empresarial da Região da Guarda ofereceu o seu melhor espaço para um lugar de testes rápidos. Esta é a hora de pormos a funcionar um conjunto de valores e coloca-los ao serviço das pessoas.

Em Gouveia, o Convento Casa da Rainha do Mundo das Irmãs de São João Batista é outro desses exemplos de ajuda?

O Convento Casa da Rainha do Mundo das Irmãs de São João Batista ofereceu um dos andares do Convento com 30 camas para que as autoridades de saúde as possam utilizar como entenderem, além de fornecerem refeições a quem mais precisa. São apenas alguns exemplos, porque há mais, felizmente pela diocese o isolamento é aparente. As pessoas estão em contacto por outros meios, tanto os sacerdotes como as ordens religiosas, as 30 comunidades que temos estão preocupadas em identificar as necessidades reais, mesmo que envolva algum risco. As pessoas, quando está em causa o bem, temos de sacrificar alguma segurança.

Há casos registados da Covid-19 nos lares ao abrigo da diocese da Guarda?

Tenho de lhe dizer que estou muito contente. Tenho ligado a todas as instituições religiosas, e as regras de contenção definidas atempadamente estão a ter muito bons resultados. Nós praticamente não temos casos nos nossos lares. Tivemos um caso de uma funcionária, em Pínzio, que foi imediatamente isolada.

Está habituado a ouvir críticas sobre um suposto silêncio da Igreja em tempos de crise como esta?

Nós estamos cá, não é para nos baterem palmas, nem vivermos do “show-off” da comunicação social, quem quiser ver, vê, quem não quiser não vê, também cometemos erros, mas estamos preocupados em responder a cada caso próprio, não é um discurso de espetáculo. Não conseguimos responder a tudo. Aquilo que dizem de nós, se é faltar à verdade, o problema não é nosso.

Continuamos a fazer bem sem olhar a quem e sem preocupação que nos batam palmas. Estamos cá para servir e o que nos diz o Evangelho: “só fizeste o que devias e não tens direito a outra recompensa”. Este é o meu 16.º ano à frente da diocese, tenho 72 anos, 360 paróquias, é a crise mais grave que alguma vez ultrapassamos é inqualificável e sem paralelo. O que estamos a viver não vai deixar nada igual. Temos de nos ir preparando para fazer sacrifícios, ou seja, consumir menos e partilhar mais. Não vale a pena tapar o sol com a peneira e não ter medo de o dizer.

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