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"Construir uma igreja bela, como uma casa de família". A ultima homilia de D. António Francisco dos Santos

11 set, 2017 - 11:52 • Redacção com Ecclesia

Mais de 30 mil pessoas participaram, este sábado, na peregrinação da diocese do Porto a Fátima, no âmbito do centenário das aparições. Foi a última missa presidida pelo bispo do Porto, D. António Francisco dos Santos, que morreu esta segunda-feira. Leia a homilia na íntegra.

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A diocese do Porto levou este sábado mais de 30 mil pessoas em peregrinação à Cova da Iria, assinalando o centenário das aparições de Fátima. Foi a última celebração presidida por D. António Francisco dos Santos, que morreu esta segunda-feira, aos 69 anos, vítima de um "ataque cardíaco fulminante", disse à Renascença fonte da diocese do Porto.

“Aqui pedimos a Nossa Senhora que nos ilumine na prossecução do nosso plano pastoral que hoje começa para sermos capazes de construir uma igreja bela, como uma casa de família, que seja mãe comovida pelas dores e sofrimentos dos seus filhos”, afirmou D. António Francisco dos Santos, na missa que decorreu no recinto de oração do Santuário.

A celebração contou com a participação dos bispos auxiliares do Porto e do bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto.

“Queremos ver espelhado no rosto da igreja do Porto o rosto jovem e belo da igreja que brilha quando é rica em amor”, prosseguiu D. António Francisco dos Santos, citado pela sala de imprensa do Santuário de Fátima.

O bispo do Porto pediu atenção particular aos mais frágeis, dando como exemplo os presos, os doentes ou os sem-abrigo. “Não podemos viver distantes dos dramas humanos nem ficar insensíveis aos seus clamores e indiferentes aos seus sofrimentos”, declarou, convidando os diocesanos a “entrarem na vida concreta dos que sofrem”.

D. António Francisco dos Santos pediu uma disponibilidade missionária de toda a Igreja Católica no Porto, com “novos horizontes de missão iluminados por novos desafios”.

Perante diocesanos das 477 paróquias que formam a diocese do Porto, o prelado rezou pela protecção de Nossa Senhora para o novo ano pastoral e afirmou a comunhão com o Papa Francisco, a partir de Fátima, na oração pela paz na Colômbia, para que se consiga levar “a paz, a concórdia e a esperança a este povo martirizado”.

No final da celebração, também o bispo de Leiria-Fátima deixou uma palavra aos diocesanos do Porto que serviu durante 25 anos, quer no Seminário Maior do Porto quer como sacerdote em várias comunidades.

"Salve querida diocese do Porto, bem-vinda a Fátima e que Nossa Senhora de Fátima te abençoe, ilumine e acompanhe sempre com o seu auxílio materno", referiu.


A homilia de D. António Francisco dos Santos na íntegra:

"1.“Ouvimos no Evangelho Jesus dizer ao discípulo: «Eis a tua Mãe» (Jo 19, 26-27). Temos Mãe! Uma «Senhora tão bonita»: comentavam entre si os videntes de Fátima a caminho de casa, naquele abençoado dia treze de maio de há cem anos. E à noite, a Jacinta não se conteve e desvendou o segredo à mãe: «Hoje vi Nossa Senhora». Tinham visto a Mãe do Céu” (Papa Francisco, Fátima, Homilia, 13.5.2017).

Foi com estas palavras que o Papa Francisco se dirigiu, neste mesmo lugar, à multidão de peregrinos no passado dia treze de maio. Esta palavra era uma primeira ressonância ao texto do Evangelho agora proclamado. O Papa Francisco está hoje na Colômbia para levar a esperança, a concórdia e a paz a um povo ferido pela violência. Estamos em comunhão com ele, de olhos voltados para a «Senhora mais brilhante do que o sol» que os pastorinhos aqui viram e diante de cuja Imagem o Papa Francisco quis demoradamente rezar.

As ruas e as estradas das quatrocentas e setenta e sete paróquias da diocese do Porto, a norte e a sul do Douro, entre o Antuã e o Ave, tornaram-se, hoje, braços de um grande rio a guiar-nos para este mar de fé. Queremos dizer ao futuro este nosso modo feliz e mariano de viver a fé e este desejo incontido de anunciar a alegria do Evangelho no Porto, Cidade da Virgem e Terra de Santa Maria.

Caminhamos juntos a partir das nossas casas e comunidades a cantar a alegria da mesma fé e a proclamar esta bela experiência de sermos: «Com Maria, Igreja do Porto, peregrina e missionária».

Ao longo da visita da Imagem peregrina de Fátima ao Porto, em 2016, Nossa Senhora percorreu os caminhos da diocese e abriu as portas do coração de tantas pessoas, famílias, instituições e comunidades. Ajudou-nos a ver, com o seu olhar, que somos uma Igreja em comunhão, unida e mobilizada para a missão. Guardaremos para sempre o bem acolhido, realizado e multiplicado pela sua presença no nosso coração de leigos, de consagrados, seminaristas, diáconos, sacerdotes e bispos.

É, por isso, de gratidão a Nossa Senhora, Mãe de Deus e nossa Mãe, a minha primeira palavra. É de gratidão igualmente a minha palavra a todos vós, aqui presentes, e a quantos nos acompanham nesta hora. Agradeço-vos pela Igreja que somos e pela experiência de fé, de esperança e de caridade que vivemos juntos: crianças, jovens, famílias, idosos, doentes, sem-abrigo e emigrantes aqui reunidos nesta participativa assembleia diocesana. Rezo com todos e por todos os que estão connosco. Sem todos, e sem cada um de vós, a alegria desta hora não seria possível nem completa.

2. Celebramos, neste santuário, de forma nova, fora de portas dos nossos templos e para lá das habituais fronteiras das nossas comunidades, a alegria da fé. Foi muito belo o caminho percorrido ao longo deste ano pastoral que aqui nos conduziu sob o lema: «Com Maria, renovai-vos nas fontes da alegria». Esta é a segunda peregrinação diocesana que aqui realizamos neste arco de tempo de cem anos de Fátima.

O caminho pastoral não se encerra em nenhum lugar. Também a missão não termina aqui nem agora. Este é, apenas, o início de uma nova etapa de caminho nos desafios por Deus semeados no íntimo da vida de cada um de nós, na alma de cada comunidade cristã e na força dos testemunhos apostólicos que nos dizem que há por toda diocese dinamismo e vigor, iniciativas e propostas de uma fé professada, celebrada, vivida, testemunhada e anunciada com alegria.

A certeza de que Deus nos ama e nos quer felizes, tantas vezes sentida e experimentada, multiplica-se agora em vidas disponíveis que Deus chama, em comunidades vivas que Deus modela e em caminhos aplanados que Deus percorre connosco. Daqui se vislumbram novos horizontes de missão ampliados à dimensão dos desafios, das exigências e da cultura do nosso tempo.

Procuremos escutar o mundo em que vivemos e prestemos mais atenção ao povo peregrino que somos, para no meio deste povo percebermos os sinais que a alegria do encontro com Cristo a todos oferece.

Igreja do Porto: Vive esta hora, que te chama, guiada pelas mãos de Maria, a ir ao encontro de Cristo e a partir de Cristo a anunciar com renovado vigor e acrescido encanto a beleza da fé e a alegria do Evangelho. Viver em Igreja esta paixão evangelizadora é a nossa missão. A vossa e a minha missão!

3. Esta é uma das horas mais significativas de alegria e de comunhão sonhada por Deus para a nossa diocese. Iniciamos agora, em dia da dedicação da nossa Igreja Catedral, o novo ano pastoral, no horizonte do Sínodo Diocesano, que aqui confio, desde já, à protecção da Mãe de Deus e Mãe da Igreja, Senhora do Rosário de Fátima.

Vamos partir daqui «movidos pelo amor de Deus» para que cresça, no Porto, como nos lembra o nosso Plano Diocesano de Pastoral 2017/2018, “uma Igreja bela, verdadeira casa de família, sensível, fraterna, acolhedora e sempre a caminho, mãe comovida com as dores e alegrias dos seus filhos e filhas, cada vez menos em casa, cada mais fora de casa, a quem deve fazer chegar e saber envolver na mais simples e comovente notícia do amor de Deus” (CEP/Carta Pastoral, 16.7.2010).

Como disse de modo extraordinariamente belo e sucinto aqui, em Fátima, o Papa Francisco: “o rosto jovem e belo da Igreja brilha quando é missionária, acolhedora, livre, fiel, pobre de meios e rica no amor (Papa Francisco, Fátima, Homilia, 13.5.2017), (cf. Plano Diocesano de Pastoral, Porto, 2017, pág. 45).

4. Não podemos viver distantes dos dramas humanos nem ficar insensíveis aos seus clamores e indiferentes aos seus desafios. É preciso viver a imensa experiência de ser povo, a experiência de pertencer a um povo. Temos de entrar em contacto com a vida concreta dos outros e manifestar a força da ternura e da bondade de Deus.

5. Peço à Virgem Maria, Senhora de Fátima, Senhora de Vandoma e Senhora da Assunção, nossa Mãe e Padroeira, com as palavras do Papa Francisco, “que nos ajude a anunciar a todos a mensagem da salvação, que nos ensine a acreditar na força revolucionária da bondade, da ternura e do afecto e nos dê a santa audácia de buscar novos caminhos para que chegue a todos o dom da beleza que não se apaga”, a alegria da fé que nunca se esgota e o fascínio das bem-aventuranças que inspiram a missão da Igreja e transformam o Mundo (EG, n.º 288).

Santuário de Fátima, na Peregrinação Diocesana do Porto, 9 de setembro de 2017

António, Bispo do Porto"

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