05 set, 2016 - 00:03 • Ângela Roque
A iniciativa da Pastoral Penitenciária leva hoje a Fátima presos, ex-reclusos e familiares, voluntários e assistentes religiosos de várias dioceses. “Já houve estabelecimentos que privadamente levavam alguns reclusos ao Santuário, mas pensamos que esta será a primeira de nível nacional, com esta dimensão”, diz o coordenador nacional desta área pastoral da Igreja.
O padre João Gonçalves explica que estão convidados “todos os capelães, a que chamamos assistentes espirituais e religiosos, os visitadores voluntários, os colaboradores das capelanias, e também os reclusos, aqueles que reúnam condições e que queiram ir, evidentemente. Irem ex-reclusos, alguns que estão em liberdade condicional, e com os seus familiares, para nós é muito simbólico”, diz este responsável, que espera que muitos se juntem à peregrinação, porque “quanto mais pessoas estiverem a apoiar, mais os reclusos levarão para dentro dos seus estabelecimentos prisionais a notícia de que houve muita gente a rezar com eles e rezar por eles”.
A peregrinação foi propositadamente pensada para ter lugar neste Ano Santo da Misericórdia, e já depois da imagem peregrina de Fátima, que percorreu as dioceses, ter passado por muitas cadeias. “Foram momentos de forte espiritualidade. Foi por isso que decidimos vir agora ao Santuário”, explica João Gonçalves, o “padre das prisões”, assim conhecido por causa do filme/documentário e do livro centrados na sua vida de padre visitador. Diz que muita gente já o procurou depois disso, para saber como ajudar e intervir nesta área. Mas lamenta que, regra geral, só se fale de prisões e de presos quando há polémica, ou quando relatórios de instâncias internacionais, como a Amnistia, deixam o sistema prisional português mal visto. E, afinal, há tanto para fazer: “precisamos de fazer muito mais na prevenção e na ajuda às pessoas que um dia tiveram a desgraça de experimentar entrar numa cadeia. Foram presas, mas que ao menos quando saem sejam apoiadas, agarradas com entusiamo”. E diz que a própria Igreja pode fazer mais: “os párocos deviam estar muito mais atentos a quem é que da sua paróquia está preso. Ver, quando regressam, que tipo de apoio têm. Mas também as instâncias governamentais, a reinserção social, as IPSS’s, os assistentes sociais, todos juntos, para que estas pessoas não voltem à cadeia”. E lembra a experiência dos países nórdicos: “na Noruega e na Suécia, fecham cadeias porque há uma preocupação muito grande de agarrar as pessoas que um dia tiveram a desgraça de entrar numa cadeia. Nunca são largadas, são acompanhadas cá fora até se reinserirem, para evitar precisamente a reincidência”.
A Igreja católica consegue ter um capelão ou assistente espiritual em todas as prisões do país, “isso todas têm, graças a Deus”, congratula-se o padre João. Mas, o ideal seria que todas as dioceses tivessem um serviço de pastoral penitenciária. “Independentemente de terem ou não uma cadeia no seu âmbito territorial, deviam ter uma comissão ou departamento nesta área, ligado à pastoral sócio-caritativa. Mas nem todas as dioceses chegaram a esta sensibilidade assim tão grande. São muito poucas as que têm um serviço assim, devidamente organizado”, lamenta.
A data ainda não foi escolhida, mas o coordenador da Pastoral Penitenciária revela a intenção de criar um Dia Nacional de Sensibilização para esta área, e que poderá ser assinalado com uma nova peregrinação a Fátima. Para já espera que muitos cristãos participem na de hoje, que vai ser presidida pelo bispo auxiliar de Lisboa, D. Joaquim Mendes, e que terá dois momentos altos: a eucaristia na Basílica da Santíssima Trindade, às 11h, e a despedida e consagração junto na Capelinha das Aparições, pelas 15 horas.
No próximo dia 6 de Novembro a Pastoral Penitenciária de Portugal vai participar na peregrinação internacional mundial a Roma. “O Papa está a fazer um apelo enorme para que haja muitos presos em Roma nesse dia, e o governo italiano está a dar todo o apoio”. Portugal também lá estará com uma representação para “ouvir o Santo Padre, que nunca esquece os presos, e também não os quis esquecer neste Ano da Misericórdia”, sublinha o padre João Gonçalves.