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50 anos do PS

PS comemora aniversário a atirar a Marcelo: "Tem banalizado a figura da dissolução"

19 abr, 2023 - 07:00 • Susana Madureira Martins

Os socialistas não escondem o desconforto com os sucessivos avisos do Presidente da República de que não abdica do poder de dissolução do Parlamento e apontam a Marcelo Rebelo de Sousa uma "banalização" dessa figura. Trata-se de um "jogo que não interessa à democracia" avisa-se no PS, no dia em que o partido comemora 50 anos.

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Encharcado em casos e polémicas, com uma comissão de inquérito à gestão da TAP a morder os calcanhares aos protagonistas da maioria absoluta, o PS comemora os 50 anos de existência num contexto político que o estado maior do partido assume que "não é manifestamente fácil".

À Renascença, um alto dirigente socialista garante que a conjuntura política "não afetará as comemorações" do aniversário, que esta quarta-feira e nos próximos dias irão distribuir-se por Lisboa e Porto, como veremos à frente, mas é impossível aos socialistas de topo esconderem o incómodo pela sucessão de polémicas dos últimos meses.

"O contexto político não é fácil, mas também não estamos habituados a tempos fáceis", diz à Renascença a mesma fonte socialista. Ao partido pesa agora a conversa repetida da dissolução do Parlamento e o Presidente da República não sai ileso de responsabilidades por esse peso.

"O Presidente da República tem banalizado a figura da dissolução", sintetiza este alto dirigente socialista, que concede que "não só ele" tem feito essa banalização, mas o facto de Marcelo Rebelo de Sousa salientar em vários momentos que não abdica desse poder causa óbvio desconforto à elite do PS.

No topo do partido salienta-se que "a figura da dissolução é absolutamente excecional na Constituição" e trata-se de um "instrumento último", sendo visto pela mesma fonte socialista como "muito negativo a banalização da dissolução como se de uma arma de arremesso político se tratasse".

À Renascença é garantido que "não há essa espada em cima do PS", que o Parlamento "já foi dissolvido em vários momentos, nomeadamente com Ramalho Eanes, por exemplo", mas é feita uma comparação: "Mário Soares nem nos últimos anos do cavaquismo usou a figura da dissolução", num remoque claro deste alto dirigente socialista a Marcelo.

Face aos recentes avisos do Presidente feitos em Murça de que o "Governo não pode dar por garantido que, porque tem maioria absoluta, isso é um seguro de vida para não haver dissolução", e sobre a constante referência de que pode acontecer após as eleições europeias de 2024, a cúpula socialista questiona-se: "Depois das europeias? Mas porquê?"

Internamente, há a esperança que o voto de protesto contra o Governo não funcione. "Veremos até se não vai revelar uma debilidade à direita com fragmentação do voto à direita", assume a mesma fonte.

No PS não se joga com "outro cenário que não a vitória", mas uma eventual derrota também é desdramatizada. "Não seria a primeira vez que o partido no poder perderia as eleições" europeias, com a cúpula socialista a lembrar o desaire estrondoso de Durão Barroso em 2004.

Congresso em setembro e sem adiamento à vista à boleia de crises políticas

Para além do aniversário dos 50 anos, a vida interna do PS em 2023 deverá ficar marcada também pelas eleições diretas para a liderança e pelo Congresso ainda sem data fixada, mas que está apontado para setembro.

Segundo fonte socialista, o partido está à espera de "afinar a data para não coincidir, por exemplo, com o período legal de campanha das regionais da Madeira", que também ainda não têm calendário marcado, mas que estão previstas para o outono.

Questionado pela Renascença sobre se o Congresso não está sujeito a ser adiado, por exemplo, para o próximo ano, tendo em conta o atual quadro político, económico e social, um alto dirigente do PS garante não vislumbrar a esta distância "nenhuma alteração".

É ainda dito que o calendário do Congresso não é certo, mas que "não será fixado por essa via". Da cúpula do partido é mesmo dito à Renascença que se a reunião "for em janeiro não é por causa e efeito do momento político que vivemos, não vai haver essa causa/efeito".

Sócrates e Pedro Nuno Santos não são tabu

Numa altura em que o PS e o Governo vivem embrulhados em polémicas, uma das mais recentes provocada pelas audições na comissão de inquérito à gestão da TAP e que está a triturar politicamente Pedro Nuno Santos, que vantagem existe em ter o ex-ministro das Infraestruturas presente em qualquer ponto das comemorações?

Qual é a vantagem, tendo em conta a tensão entre o primeiro-ministro e Pedro Nuno Santos, que ficou implícita nas recentes declarações de António Costa à Lusa e depois muito clara no artigo do Observador sobre a fúria do líder socialista em relação ao ex-ministro?

Pedro Nuno, "naturalmente", foi convidado para as comemorações, garante fonte socialista, mas é incerto que apareça em qualquer dos eventos no meio de tanto barulho político. O ex-ministro quer manter-se afastado dos holofotes até setembro, sem dar entrevistas ou entrar em debates. Mas antes terá de assumir em julho o lugar de deputado e ser ouvido no inquérito.

À Renascença, um dirigente socialista salienta que a comissão de inquérito "ainda vai ter muitos momentos" e que "é importante ouvir todos os testemunhos", incluindo o do ex-ministro.

A mesma fonte garante que "não há ninguém excluído da história do partido" e isso vale, tanto para o antigo secretário-geral do PS José Sócrates, que não foi convidado para as comemorações dos 50 anos do partido, porque já não é militante, como vale para Pedro Nuno.

"Ninguém apaga José Sócrates da história do PS", é garantido pela cúpula do partido. O ex-líder do partido "terá cartazes na exposição" que será inaugurada esta quarta-feira na sede em Lisboa e à Renascença é dito que "não há tabus" em relação ao antigo secretário-geral que deu ao PS a primeira maioria absoluta.

Ora, é ainda dito à Renascença que, "por maioria de razão, também em relação a Pedro Nuno Santos não há" tabu. Há um convite feito àquele que tem sido sempre dado como potencial candidato a líder do partido e se quiser aparecer, aparece.

Da homenagem a Soares à festa popular no Porto

As comemorações dos 50 anos do PS são a "oportunidade de todas as gerações saberem o papel atual, mas também o papel histórico" do partido, explica um alto dirigente do partido. Esta quarta-feira de manhã os socialistas têm encontro marcado no cemitério dos Prazeres, em Lisboa, para uma homenagem aos fundadores Mário Soares e Maria Barroso.

É onde irá discursar António Costa que segue depois para o Largo do Rato, em Lisboa, para a inauguração de uma galeria sobre cartazes da história do PS, onde será apresentado um selo comemorativo do aniversário com grafismo produzido pelo próprio partido. Aí será também apresentado o desenho de uma obra de arte urbana.

À noite, os socialistas vão jantar ao Pavilhão Carlos Lopes, em Lisboa, em que estão previstas intervenções do chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, e do antigo presidente do Governo de Espanha, Felipe Gonzalez. É uma sessão onde está previsto que também intervenha o ex-presidente do Parlamento Jaime Gama.

No domingo, as comemorações seguem para norte com a Festa Popular em que Quim Barreiros e Bárbara Tinoco fazem parte do cartaz. No Pavilhão Rosa Mota, no Porto, as intervenções políticas vão ficar a cargo do chefe do Governo espanhol e líder do PSOE, Pedro Sánchez e do presidente do Partido Socialista Europeu (PSE), Stefan Löfven, ex-primeiro-ministro da Suécia.

Pelo meio há outras iniciativas no âmbito das comemorações, mas não exclusivamente organizadas pelo PS. Na quinta-feira está prevista uma conferência no ISCTE, em Lisboa, organizada pela Fundação Friedrich Herbert em que estará presente Martin Schulz, antigo presidente do Parlamento Europeu e onde irá intervir Augusto Santos Silva, presidente do Parlamento.

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