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Reportagem

Dois navios da Marinha partem numa longa missão. Golfo da Guiné “é zona de risco”

15 abr, 2023 - 09:38 • Liliana Monteiro

Com 81 militares a bordo do “Setúbal” e do “Centauro”, com média de idades na casa dos 30 anos, esta é a quarta força nacional destacada que a Marinha envia este ano para operações fora do território nacional.

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NRP Setúbal e NRP Centauro iniciam missão de 33 mil quilómetros
NRP Setúbal e NRP Centauro iniciam missão de 33 mil quilómetros

Daniela Boto é alentejana, tem 21 anos e é uma das poucas mulheres (seis) que seguem na missão do navio “NRP Setúbal” durante mais de quatro meses rumo a águas do continente Africano, no âmbito da iniciativa Mar Aberto, ao abrigo da qual a Marinha empenha meios face à insegurança marítima verificada no Golfo da Guiné.

Esta jovem, de estatura magra e sorriso fácil, está há cinco meses destacada no “NRP Setúbal” depois de ter terminado a recruta em 2021.

“Tenho expectativas altas, vou ter sempre saudades de casa, mas sei que vai passar rápido! Vim para a Marinha para vencer obstáculos e estar sempre preparada para vários cenários. Sempre gostei muito de navios e das Forças Armadas”, conta-nos com uma voz trémula e nervosa, mas com a certeza do que pretende nesta missão onde desempenha funções na área das comunicações e é responsável pela transmissão do serviço para terra.

Esta missão deverá percorrer 17 mil milhas (33 mil quilómetros), vai cruzar-se com 14 países, cerca de 20 portos diferentes e participar nas comemorações do dia de Portugal que este ano vão decorrer na cidade do Cabo na África do Sul.

“O principal objectivo é contribuir para a segurança marítima no Golfo da Guiné e promover a política externa do Estado Português. Desenvolvemos ações de cooperação com países amigos, missão de diplomacia nos vários portos e países visitados’, explica o comandante Nicholson Lavrador, da Força Nacional Destacada.

O comandante afirma que o Golfo da Guiné “é uma zona de risco, é a zona mais perigosa em termos de pirataria no globo, tomamos as nossas precauções, levamos equipa de segurança de fuzileiros e este é um navio de guerra e não estamos indefesos”, garante.

Do Golfo da Guiné têm chegado notícias que dão conta de ataques a navios de transporte de combustível por parte de piratas. Primeiro, um petroleiro dinamarquês e, mais recentemente, um com bandeira chinesa.

O NRP Setúbal conta com uma guarnição de 70 militares e o NRP Centauro com 11 militares da Marinha, ao todo são 81 operacionais.

A missão foi reforçada com uma equipa de fuzileiros, que vai realizar exercícios em Angola, e com capacidade de projecção para terra, uma equipa de mergulhadores e uma equipa médica.

Aos 42 anos, a enfermeira Cláudia Santos cumpre a segunda longa missão no mar. “A primeira foi mais fácil porque não tinha pequeninos, esta é diferente”.

“A preparação faz-se dizendo que a mãe vai salvar pessoas no mar e vai ajudar quem necessita, entre elas crianças, e os meus filhos ficam sensibilizados e dizem que a mãe é uma heroína!”, descreve orgulhosa ao falar dos filhos com seis e quatro anos.

As saudades a bordo, diz, resolvem-se através de algumas comunicações, “havendo internet vai-se às redes sociais e ao WhattsApp”.

Encontramo-la numa espécie de gabinete com vários materiais, alguns aparelhos e uma marquesa mesmo no meio da sala.

“Estamos prontos a intervir num cenário até de multivítimas, na embarcação vai um enfermeiro e um médico, assim como socorristas. Basicamente, surgem enjoos e ferimentos ligeiros como cortes. Levamos equipamentos com valência pré-hospitalar, levamos um ventilador e um aparelho que permite colher sangue, por exemplo.”

O capitão de Fragata Aristides Pereira da Costa é quem vai comandar o “NRP Setúbal” e tem consciência que para uma boa parte dos seus homens e mulheres será a primeira missão do género.

“Para 40% a 50% estas áreas do continente africano serão uma novidade, África do Sul e Moçambique serão áreas de operações e portos completamente novos. São Tomé, Guiné, Cabo Verde, Angola e Luanda, Maputo vai ser um marco porque vamos fazer a antiga rota de Bartolomeu Dias e será um marco para o navio, o outro serão as comemorações do 10 de junho na África do Sul.”

Todos os setores de um navio são importantes e a cozinha não é exceção. “A cozinha tem pessoal dedicado a confeção, fazem o pequeno almoço, almoço e jantar. Temos as chamadas duas mesas, uma para os que entram ao serviço e a segunda para quem sai de serviço. Ao fim da noite há também um suplemento para quem vai trabalhar durante a noite”, conta-nos o comandante Aristides Pereira da Costa.

Entre almoçar, jantar e as tarefas administrativas que muitas vezes têm de fazer, os militares conseguem descansar entre sete a oito horas.

“Rendemos de três em três horas, garantindo sempre vigilância e operacionais 24h sob 24h.”

Mas a missão é feita também com o empenhamento do “NRP Centauro”, uma lancha mais pequena que leva a bordo 11 homens. Vai viajar apenas até São Tomé, onde vai render o “NRP Zaire”, que lá está há cinco anos numa missão de capacitação da guarda costeira daquele país.

O segundo tenente Silvestre Rodrigues, de 27 anos, é comandante desta embarcação há quase um ano e diz não ter dúvidas que esta viagem histórica vai marcar a carreira.

“O maior desafio é efetuar a viagem para São Tomé, é a primeira vez que um navio desta classe vai para tão longe de águas nacionais. Vamos acompanhados pelo NRP Setúbal que dará apoio em caso de necessidade. Estas missões são desafiantes porque estamos longe da família e amigos”, admitindo que é com orgulho que vai comandar o navio num passo importante que se vai escrever na carreira que está a fazer.

“Vamos tentar pensar que vamos estar distantes da família, mas vamos conhecer países diferentes e sabemos que haverá muitos dias bons e outros maus”, concluiu o comandante Nicholson Lavrador.

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  • Emanuel Dias
    22 abr, 2023 New Milford 01:23
    Não se esqueçam de levar os remos não vá a embarcação avariar

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