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“Last Folio”, uma exposição que reflete “o peso da guerra”

15 jul, 2022 - 10:20 • Henrique Cunha

O Museu e a Igreja da Misericórdia do Porto (MMIPO) recebe uma exposição que retrata a realidade do holocausto numa pequena localidade da Eslováquia. O diretor destaca “a pertinência esmagadora” da mostra que chega ao Porto numa altura em que “a guerra voltou à realidade da vivência europeia”.

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"Last Folio" é o resultado “de uma viagem que um consagrado fotografo canadiano, Yuri Dojc de origem eslovaca, fez à Eslováquia nos anos 90” começa por contar o diretor do Museu da Misericórdia do Porto. “No fundo, acabou por ser uma procura pela sua história pessoal, pelo seu passado pessoal e cultural”, conta Pedro Nunes.

O fotografo que se deslocou a uma pequena vila na Eslováquia, na fronteira com a Ucrânia, de onde era originário, encontrou uma escola judaica abandonada “exatamente como foi deixada após a invasão nazi de 1942”, adianta Pedro Nunes. “Ou seja, estava tudo exatamente como tinha sido deixado na altura da invasão, com livros abertos, registos de alunos, e de toda uma comunidade que desapareceu, que foi deportada para os campos de concentração”. Para além de fotografar a escola, Yuri Dojc “decidiu igualmente procurar os sobreviventes daquele trágico período e perceber quais eram as suas histórias”, relata.

A partir dos testemunhos que encontrou, juntamente com a cineasta Katya Krausova, que é, também, curadora da exposição, “gravaram um documentário com os depoimentos das pessoas e as suas vivências durante aquele período negro da história mundial. Esta é a história do Last folio”, resume Pedro Nunes.

Trata-se de “uma exposição que obriga a refletir sobre o peso da guerra nas gerações que a vivem e nas seguintes”. Ou seja, acrescenta o responsável, “que influência é que isso tem nas gerações que vivem posteriormente”, explica. “É uma exposição com um peso emocional enorme e que nos faz pensar sobre a necessidade de preservar a memória histórica para não voltarmos a cometer os erros do passado”, reforça.

Por outro lado, Pedro Nunes sublinha “a pertinência esmagadora” da mostra numa altura em que “a guerra voltou à realidade da vivência europeia”. O responsável lembra que, apesar da exposição contar com mais de 40 edições e “já ter percorrido grande parte do mundo”, ela chega ao Porto numa altura em que vivemos um período histórico “muito particular”, pelo que, “ganha, ainda, uma maior relevância”, destaca.

Exposição vai estar patente até 20 de novembro

A importância da "Last Folio" é, também, acentuada pelo Provedor da Misericórdia do Porto. Para António Tavares “não poderíamos acolher esta exposição em momento mais oportuno, mais necessário”.

“É uma manifestação artística e uma representação histórica do que nunca devia ter acontecido, de um erro. São as ruínas de um presente que se interrompeu, mas que se perpetua, e de um futuro que nunca existiu”, resume o Provedor da Santa Casa para quem a mostra “obriga a sentir a vulnerabilidade de quem ficou para trás e de cada um de nós no agora”.

Para a Santa Casa da Misericórdia do Porto “a realização desta exposição enfatiza a sua comunhão de valores de tolerância, inclusão e preservação da memória, com a Comunidade Judaica do Porto”.

Esta exposição vai estar patente no MMIPO até 20 de novembro e tem o alto patrocínio das embaixadas da Eslováquia, do Canadá e da Alemanha e da Câmara do Porto.

"Last Folio" começou a sua jornada em 2009, na Biblioteca de Manuscritos de Cambridge. Mais tarde, para marcar os 70 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a exposição esteve patente no edifício das Nações Unidas, em Nova Iorque. Seguiu para Berlim e Moscovo e para outras capitais um pouco por todo o mundo. Atualmente, diversas imagens da exposição já fazem parte do acervo permanente da Biblioteca do Congresso de Washington (EUA).

Yuri Dojc e Katya Krausova, um fotógrafo e uma cineasta, nasceram na antiga Checoslováquia. Quando, em 1968, o seu país foi invadido pelas tropas soviéticas emigraram para o Canadá e para a Inglaterra. Os seus destinos cruzaram-se pelo seu interesse comum em aprofundar a sua história pessoal e do seu país.

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