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Jovens delinquentes na tropa "é um disparate completo", diz major-general

30 abr, 2024 - 12:10 • Liliana Monteiro , Vasco Bertrand Franco , João Malheiro , Marta Pedreira Mixão

O major-general Isidro Morais Pereira defende que ir para as Forças Armadas "não deve ser um castigo".

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O major-general Isidro Morais Pereira afirma que a sugestão do Governo de enviar jovens delinquentes para a tropa é "um disparate completo".

À Renascença, refere que esta ideia "deve envergonhar os portugueses" que acredita que não se revê na proposta avançada por Nuno Melo, ministro da Defesa, e secundada pela ministra da Administração Interna.

Isidro Morais Pereira, que serviu 45 anos nas Forças Armadas, acredita que não é preciso ser-se militar para perceber que esta ideia não é viável e acrescenta que qualquer psicólogo e psiquiatra deverá ser contra esta medida, defendendo que "delinquentes juvenis podem sofrer perturbações, logo é inconveniente colocar-lhes nas mãos armas de fogo".

O major-general partilha que ainda chegou a pensar que a primeira mensagem do ministro da Defesa, tinha sido apenas infeliz, mas agora já tem dúvidas sobre as intenções do Executivo.

"Achei que tinha sido um ato fortuito, ou uma ideia peregrina. Começo a pensar agora se este tipo de ideia não foi discutida em Conselho de Ministros. Parece que dois ministros apoiam esta ideia, que revela uma falta de conhecimento tremendo daquilo que são as Forças Armadas", critica.

"As Forças Armadas não são um castigo. Servir nas Forças Armadas é uma honra. Não é de outra maneira. Esta ideia de que ir para as Forças Armadas é um castigo, não", acrescenta.

"Ter registo criminal limpo" é "um dos critérios fundamentais" para entrar nas Forças Armadas

Em declarações à Renascença, o presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas (AOFA), coronel António Mota, considerou que a possibilidade avançada pelo ministro da defesa é incompreensível, uma vez que uma das condições para se entrar nas forças armadas é ter o registo criminal limpo.

"Um dos critérios fundamentais nas Forças Armadas, desde sempre, para se entrar para os quadros permanentes ou como voluntário é ter o registo criminal limpo. Não sei como, de repente, ao fim de 50/80 anos, se põe se quer esta possibilidade", justifica.

"Nós vemos, sim, que a questão de resolução dos problemas das Forças Armadas - que são muitos e são conhecidos de toda a gente - se fazem atacando os problemas por forma a que a retenção dos militares das FA seja efectiva, que tenham dignidade nas suas funções, missão e vida profissional e pessoal e que as FA sejam atrativas", acrescenta.

A reação surge depois de o ministro da Defesa, Nuno Melo, ter defendido no passado fim de semana, em Aveiro, que o serviço militar poderia ser uma alternativa para jovens que cometem pequenos delitos em vez de serem colocados em instituições que, "na maior pare dos casos, só funcionam como uma escola de crime para a vida", ideia apoiada pela ministra da Administração Interna, Margarida Blasco.

Esta segunda-feira, também a ministra da Administração Interna concordou que o serviço militar obrigatório pode ser uma alternativa para jovens que cometam pequenos delitos, à semelhança do que tinha defendido Nuno Melo.

Em declarações aos jornalistas, no final de um seminário, Margarida Blasco disse que o ministro da Defesa “obviamente que falou em nome de todo o Governo”.

“Aquilo que temos de admitir é que todas as soluções é intenção do Governo implementá-las, adaptá-las aos atuais contextos que, como sabem, são muito exigentes”, referiu.

Entretanto, no plano político, a Iniciativa Liberal quer ouvir Nuno Melo no Parlamento sobre o assunto.

[Notícia atualizada às 18h20 com reação do presidente da Associação de Oficiais das Forças Armadas]

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