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Ministra da Saúde demite-se

Uma "desistência" que "não resolve problemas por si". Os partidos sobre a demissão de Temido

30 ago, 2022 - 10:31 • Redação com Lusa

Para o PSD, a demissão da ministra da Saúde "peca por tardia". Para o Livre, "pode ser entendida como uma desistência" do Governo, que sofre agora a sua primeira grande baixa desde que venceu as eleições com maioria absoluta há exatamente cinco meses, a 30 de março.

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PSD

O partido considerou esta terça-feira que a demissão da ministra da Saúde “peca por tardia” e representa a "falência da política de saúde do Governo”, pedindo “novas políticas” no setor, mais do que novos protagonistas.

O vice-presidente do PSD Miguel Pinto Luz reagia em conferência de imprensa à demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, noticiada hoje de madrugada. Questionado sobre o perfil que o PSD entende dever ter o novo ministro, Pinto Luz disse que cabe a António Costa escolher o seu elenco, mas frisou que o importante será mudar de política na área da Saúde.

“A saída da ministra, já tarde na opinião do PSD, não resolve nenhum problema por si. O que importa saber neste momento é se irá António Costa mudar de rumo em termos de políticas de saúde? Ou, se pelo contrário, só escolherá um novo ministro e nada mudará.”

“São urgentes políticas novas, mais do que novos protagonistas. A falência do SNS é da responsabilidade do dr. António Costa”, acusou.

Pinto Luz acusou o Governo de ter uma visão “doutrinária, ideológica” da saúde “que se tornou irrealista e perigosa” e adianta: “Infelizmente, foi preciso morrer uma mãe [uma grávida transferida do Hospital de Santa Maria para o São Francisco Xavier por falta de vagas na neonatologia] para que a ministra se demitisse e António Costa tomasse numa decisão.”

Livre

O Livre considerou esta terça-feira que a demissão da ministra da Saúde, Marta Temido, pode ser interpretada como “uma desistência” do Governo de resolver os problemas na setor e exigiu “sinais claros” do primeiro-ministro.

Em comunicado, o partido representado no Parlamento por Rui Tavares defende que a demissão de Marta Temido, anunciada na madrugada de hoje, “manifesta a incapacidade de fazer face aos muitos sinais de disfuncionamento e degradação” do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

“[A demissão] pode ser entendida como uma desistência [do Governo] quando aquilo de que precisamos é de ação.”

O partido recordou que esta demissão “surge na mesma noite em que foi divulgado mais um caso que gera preocupação em todos, com o falecimento de uma mulher grávida, em Lisboa”, enquanto estava a ser transferida para outro hospital por falta de vaga naquela em que se encontrava.

“Sem uma ação decisiva na defesa do SNS e sem um governo com a coragem de tomar medidas que invertam a situação crónica de suborçamentação de que padece, quem quer que venha a suceder a Marta Temido poderá não vir a ser senão um gestor do declínio do SNS”, advogou o partido da papoila.

"Perante um cenário tão grave, exige-se do primeiro-ministro sinais claros de apoio político a medidas estruturas de defesa" do SNS.

Bloco de Esquerda

A coordenadora do BE, Catarina Martins, diz que o que aconteceu no Hospital de Santa Maria "não define o Serviço Nacional de Saúde (SNS) nem os profissionais de saúde" e também não "permite generalizações".

Face à demissão de Temido, a responsável bloquista destaca que "o Governo tem vindo a adiar sistematicamente todas as condições para o SNS trabalhar, não tem feito investimentos e tem perdido profissionais a cada dia que passa", uma situação que "tem que ser travada já".

Não há tempo a perder. O que é preciso neste momento é uma alteração não apenas de ministra, mas de política para o SNS e deixarmos este remendo permanente em que tudo o que o governo tem para oferecer ao SNS são horas extraordinárias ou prestadores de serviços. O que o SNS precisa é de investimento e de profissionais com condições”.

PAN

Para Inês Sousa Real, do Partido Pessoas Animais Natureza, era esperado que a ministra se responsabilizasse pelo estado de degradação do SNS, ainda que a sua demissão não resolva os problemas em causa.

"Tendo em conta o agravar [da situação] nas urgências, sobretudo obstétricas, de alguma forma era esperado que houvesse aqui uma responsabilização política, mas para o PAN aquilo que é fundamental é que exista, por parte do Governo, uma resposta aos problemas estruturais do SNS que todos nós conhecemos. E isso não se vai resolver com a mera demissão de Marta Temido ou de quem for o titular desta pasta."

Inês Sousa Real defende que o Primeiro-ministro deve agora focar-se nos profissionais de saúde e nos problemas mais urgentes do SNS.

"Enquanto António Costa não perceber que tem de priorizar o investimento público no país onde ele é necessário, bem que podemos mudar os rostos do Ministério da Saúde, que os problemas vão continuar a existir."

Iniciativa Liberal

O partido defende que o Primeiro-ministro deve explicações ao país sobre a demissão da ministra da Saúde.

“A demissão da ministra da Saúde, anunciada esta madrugada, não significa, necessariamente, uma alteração das políticas que este Governo tem vindo a seguir na área da Saúde e que têm conduzido ao caos no SNS que a Iniciativa Liberal denuncia sistematicamente há já largos meses. Ficamos sem saber se se demite uma ministra ou se se acaba uma política”, afirmou o presidente da IL, João Cotrim Figueiredo, numa nota enviada à Lusa.

Para João Cotrim Figueiredo, "se António Costa optar por uma solução de continuidade de políticas e de responsáveis, continuará, também, a ser o maior responsável pelo estado calamitoso do SNS".

A IL insiste na necessidade de "reforma profunda do sistema", baseada "na concorrência entre prestadores e na liberdade de escolha dos doentes".

PCP

Os comunistas defendem que mais importante do que a demissão da ministra da Saúde é saber se o Governo vai avançar com a valorização das carreiras e salários dos trabalhadores do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Em conferência de imprensa, a líder Paula Santos sustentou que a demissão de Marta Temido revela "a necessidade de uma outra política na área da saúde".

"A questão que se coloca neste momento é se o Governo vai ou não avançar com as soluções que são fundamentais para salvar o SNS, se vai ou não avançar no sentido da valorização das carreiras e das remunerações dos trabalhadores da saúde" e com a um regime de dedicação exclusiva, sublinhou a deputada.

Paula Santos rejeitou responder se o PCP esperava a demissão da governante, face aos problemas apontados nos últimos meses ao SNS: "Mais do que as pessoas ou os rostos do Governo, aquilo que é importante - e que é a questão fundamental que o PCP coloca - é a necessidade de avaliação das políticas [encetadas]."

CDS-PP

Nuno Melo considera que a demissão de ministra da Saúde já se justificava "há muito", mas alertou que a mudança do titular da pasta não resolve os problemas estruturais do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

"A morte de uma grávida, sendo um caso grave que naturalmente tem de ser apurado, é um aspeto de um conjunto de circunstâncias que justificavam há muito a mudança de ministra, mas principalmente a mudança de políticas no Serviço Nacional de Saúde", afirmou.

No entanto, segundo o líder centristas que "a mudança de rosto não resolve um único problema estrutural do SNS".

"O que temos agora que ver, uma vez decidido o novo ministro ou ministra, é quais as alterações de postura, as decisões, as medidas propostas por este Governo em relação à saúde que melhorem aquilo que atualmente temos, que é um SNS em estado de pré-falência, numa situação que se agravou profundamente desde 2015 por incompetência que é própria."

Chega

O presidente do Chega, André Ventura, lamentou que tenha sido necessária "a morte de um bebé e agora, recentemente, uma mulher grávida para que Marta Temido e António Costa percebessem que a ministra já não tinha condições de continuar".

"Aquilo que foi uma vitória de Marta Temido e de António Costa era, ao mesmo tempo, o grande fracasso escondido do sistema, um SNS que estava permanentemente em degradação, permanentemente sem capacidade de responder e que os portugueses sentem todos os dias", acusou, referindo ainda que considerava "muito triste e desapontante que tenhamos chegado aqui, quando há semanas tínhamos todos os dados políticos de que esta situação tinha de ser resolvida".

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