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Curdos iraquianos prontos a defender os seus irmãos na Síria

10 ago, 2013 - 16:01 • Filipe d’Avillez

Nas últimas semanas há registo de confrontos entre grupos rebeldes islamistas e milícias curdas. Intervenção do Curdistão iraquiano seria mais um passo na internacionalização do conflito.  

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O presidente do Curdistão, uma região autónoma do Iraque, diz-se pronto para intervir na Síria caso se confirme que os curdos daquele país estão a ser vítimas de ataques por parte de grupos islamistas.

Numa carta colocada online, e noticiada pela Reuters, Masoud Barzani diz que enviou representantes para a Síria para averiguar da veracidade dos relatos de massacres contra a população curda.

Ao longo da guerra civil, que dura há mais de dois anos, os curdos têm evitado tomar partido pelo regime ou pelos rebeldes, mas aproveitaram para tornar a sua região, no nordeste do país, praticamente autónoma.

Recentemente há relatos de graves confrontos entre grupos islamistas que actuam na Síria, no combate ao regime de Damasco, e milícias curdas.

O Curdistão Iraquiano é das zonas mais pacíficas e bem governadas do país. Com uma autonomia que se aproxima da independência, tem grupos bem armados e financiados. Uma eventual intervenção poderia ainda implicar a intervenção de veteranos rebeldes do PKK, a milícia curda que actua na Turquia. A significativa presença de curdos na Turquia poderia ainda tornar mais difícil a vida da oposição síria caso os conflitos piorem, uma vez que está concentrada precisamente em zonas que fazem fronteira com o norte da Síria, que é controlada actualmente pela oposição.

Manta de retalhos
A Síria é um país composto por várias etnias e grupos religiosos. O regime está apoiado na minoria alauita, uma variante do Islão xiita, que representa cerca de 10% da população. A maioria dos sírios, cerca de 75%, são muçulmanos sunitas e estes compõem o grosso da oposição a Bashar al-Assad.

Existe ainda uma população cristã, cerca de 10% do total. Os cristãos encontram-se espalhados um pouco por todo o país. Com algumas excepções, a maioria apoia Assad uma vez que temem o assalto ao poder dos sunitas e as eventuais consequências de um regime islamista.

Cerca de 3% da população é drusa, uma religião distinta, que habitam sobretudo a zona fronteiriça com Israel. Os drusos são conhecidos por serem bons combatentes, e leais aos países onde vivem, mas na Síria têm evitado tomar partido ostensivamente por Assad ou contra ele.

Por fim, os curdos são cerca de 9% da população. Na sua maioria são muçulmanos sunitas, estando por isso contabilizados entre os 75% de sunitas, mas formam um grupo étnico distinto.

Toda esta mistura aumenta gravemente o risco de intervenção estrangeira, com países e religiões a defender os seus irmãos de fé ou de sangue, por interesse ou por lealdade. Assim o Irão, a grande potência xiita da região, tem apoiado financeira, politica e militarmente Damasco. A mesma linha tem sido adoptada, sobretudo com apoio militar, por parte do Hezbollah, o partido e milícia xiita que actua no Líbano.

As potências sunitas da região, incluindo a Turquia e as monarquias do golfo, têm apoiado os rebeldes, financiando-os. Muitos grupos rebeldes, sobretudo os de pendor mais islamista, são aliás constituídos por estrangeiros.

Do Iraque têm chegado voluntários quer sunitas, para combater com os rebeldes, quer xiitas, para combater pelo regime. Agora, corre-se o risco de uma intervenção musculada por parte dos curdos.

Mais de 100 mil pessoas já morreram nesta guerra civil que se arrasta há mais de dois anos na Síria.
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