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Legislativas 2022

Apesar do mar que os separa, PSD e PCP responsabilizam Costa pela crise

12 jan, 2022 - 22:34 • Susana Madureira Martins com Lusa

"PSD não pode ser alternativa" ao PS que não quis resolver os problemas, acusa João Oliveira. Rui Rio defende redução do IRC para ajudar as empresas a pagarem os melhores salários que o PCP reclama.

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O líder do PSD reconhece que há “um mar de divergências” com o PCP, mas elogia a coerência dos comunistas ao longo de 100 anos de existência. Mas essa coerência, diz Rui Rio, levaria à ruína económica se programa político do PCP fosse concretizado.

Aliás, o social-democrata, que teve direito à primeira réplica no debate com João Oliveira, aludiu ao PCP como um partido parado no tempo, que levaria o país à pobreza, caso o seu programa se concretizasse.

“Aquilo que o PCP coloca no seu programa é a mesma coisa que ir ler, com certeza absoluta, aquilo que o PCP defendia em 1974, 1975, 1976 ou, se calhar, há 100 anos, quando foi criado”, criticou.

O líder da bancada comunista replicou que Rui Rio “como caricaturista não tem um traço muito fino” por dizer que o país ficaria na “pobreza” se fosse governado pelo PCP.

Além disso, João Oliveira afirmou que o PSD de hoje não serve como alternativa para resolver problemas criados pela governação do PS, pretendendo dessa forma vincar as semelhanças entre ambos os partidos.

“O PSD não pode ser alternativa, porque os problemas que os portugueses hoje têm, que o PS não quis resolver, o PSD também não deixou que eles fossem resolvidos”, disse o líder parlamentar comunista, no debate televisivo na SIC.

Exemplo disso, prossegue, é a questão do aumento geral dos salários, “não apenas o salário mínimo, mas todos os salários. O país precisa de um aumento geral dos salários para a resolução dos grandes problemas nacionais e para dinamização do mercado interno e, em primeiro lugar, para a melhoria das condições de vida dos trabalhadores e para o combate às desigualdades”.

Mas, para Rui Rio, antes de melhorar os salários, “há que apoiar as empresas que pagam esses salários”. Para o líder social-democrata, a prioridade é a redução do IRC.

“Má prioridade”, respondeu o líder parlamentar do PCP.

Mas, mesmo no “mar de divergências” entre ambos – expressão usada e repetida por Rui Rio – estiveram de acordo ao culpar António Costa e o PS pela rejeição da proposta de Orçamento do Estado para 2022 que desencadeou as eleições de 30 de janeiro.

“Hoje já ninguém tem dúvidas de que o Governo, o PS, estava convencido de que se fôssemos para eleições teria uma maioria absoluta e fez tudo para que não houvesse Orçamento do Estado aprovado”, sustentou o dirigente comunista, uma tese recorrente do PCP quando é questionado sobre o 'chumbo' da proposta orçamental.

O PCP faz a discussão, prosseguiu, “na medida em que essa discussão é possível” e o PS “sabia que o desfecho" seria o chumbo do orçamento” quando rejeitou as propostas apresentadas pelos comunistas.

“Subscrevo aquilo que o PCP diz”, assinalou Rio, apesar de estar “em total desacordo com o que o PCP pediu ao Governo”.

“O Governo e António Costa, quando se meteram com o PCP, sabiam perfeitamente qual era a lógica de funcionamento do PCP, que é um partido coerente. Era expectável que o PCP fosse pedir o que pediu, fosse negociar o que negociou. [O PS] colocou-se na mão do Partido Comunista, agora não pode responsabilizar o PCP. A culpa é integralmente do Governo”, concretizou.

No entanto, se Rui Rio estivesse na posição de primeiro-ministro também “não dava aquilo que o PCP pediu”.

Na ótica do presidente social-democrata, o PCP defende “o orgulhosamente só”, apesar de não ser o de Salazar, uma vez que defende um “modelo de coletivização que não leva ao enriquecimento, leva ao empobrecimento”.

Rio considerou que “o problema dos salários é fundamental” e definiu-o como uma das prioridades, caso o PSD vença as eleições, sustentando que “melhores empregos são melhores salários”.

Sobre o aumento das pensões, o social-democrata admitiu olhar para o assunto se vencer as eleições, mas “se a economia o permitir”, enaltecendo a necessidade de haver “finanças públicas equilibradas”.

“Quero dar, mas só dou quando posso dar”, vincou.

Na réplica, João Oliveira disse que os eleitores tinham nas palavras de Rio a razão pela qual não é alternativa aos seis anos de Governo socialista.

“Se as pessoas estão descontentes com o PS, que não lhes resolveu os problemas, e estavam a achar que iam encontrar no PSD a alternativa, têm aqui a resposta mais clara possível. Aumento dos salários, reforço do Serviço Nacional de Saúde, aumento das pensões, têm a resposta de que Rio disse que faria o mesmo que António Costa”, elaborou.

O presidente do PSD fez questão de separar bem as águas entre os dois partidos e, apesar de parecer que ambos querem o crescimento económico, o PCP quer “nacionalizar outra vez os setores todos”.

Sobre a nacionalização de todos os setores estratégicos, Oliveira assegurou que os comunistas estão “muito confortáveis com aquilo que a Constituição prevê de uma economia mista”.

Sucessão de Jerónimo? A substituição mais rápida de que precisamos é a nossa pelo secretário-geral do PCP

O dirigente comunista João Oliveira afastou hoje a ideia de que a substituição temporária de Jerónimo de Sousa na campanha para as eleições legislativas seja o início de um caminho para encontrar o próximo secretário-geral do partido.

“Acho que a estenose 'carotídea' afasta completamente essa possibilidade de especulação. Objetivamente, há um impedimento de o meu camarada Jerónimo de Sousa estar aqui e procurou-se encontrar uma solução que não deixasse cair a agenda do secretário-geral e que mantivesse essa participação do PCP”, disse João Oliveira, no início do debate com o presidente social-democrata, no âmbito das eleições legislativas, transmitido na SIC.

João Oliveira e João Ferreira, dois dos dirigentes do PCP com maior presença mediática nos últimos anos, substituem Jerónimo de Sousa no arranque da campanha eleitoral, o que levou vários analistas políticos a especular que se tenha iniciado o processo de sucessão do secretário-geral.

O também líder parlamentar comunista admitiu que pudesse haver essa leitura por parte de “outros partidos”, mas no PCP “essa questão não está colocada”

João Oliveira rejeitou, por isso, “sobressaltos nesse sentido” e proferiu uma frase “com a qual até o João Ferreira está de acordo”: “a substituição mais rápida de que precisamos é a nossa pelo secretário-geral do PCP, pelo Jerónimo de Sousa, que rapidamente nos substitua na campanha eleitoral”.

Já o presidente do PSD, Rui Rio, disse ter “bastante simpatia pessoal” por Jerónimo de Sousa, que considerou ser “extremamente coerente”.

“Tomara que dentro do meu partido houvesse gente assim coerente, mas com a social-democracia...”, ironizou.

O secretário-geral do PCP vai ser operado de urgência à carótida interna esquerda, na quinta-feira, e vai falhar ao arranque da campanha eleitoral os restantes debates.

João Ferreira e João Oliveira, ambos membros da Comissão Política do Comité Central comunista, tomaram a dianteira da campanha comunista até ao regresso de Jerónimo de Sousa, esperado para o final da próxima semana.

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