Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Mamadou Ba começa a ser julgado por difamação de Mário Machado

26 abr, 2023 - 07:27 • Lusa

No debate instrutório realizado em outubro, Isabel Duarte, advogada de defesa de Mamadou Ba, alegou que neste caso "não há honra suscetível de ser ofendida", acrescentando não compreender os factos imputados ao ativista antirracista pela acusação particular (e que foi acompanhada pelo Ministério Público).

A+ / A-

O ativista antirracista Mamadou Ba começa a ser julgado esta quarta-feira por difamação, publicidade e calúnia, num processo colocado pelo militante neonazi Mário Machado e no qual Ba conta com a ex-ministra Francisca Van Dunem como testemunha.

Em 27 outubro passado, foi tornado público que o ativista antirracismo Mamadou Ba ia a julgamento por difamação do ex-dirigente do movimento "Hammerskins Portugal" Mário Machado, após decisão do juiz de instrução criminal Carlos Alexandre, que proferiu um despacho de pronúncia para julgamento em tribunal singular "nos exatos termos" da acusação do Ministério Público (MP).

O despacho de pronúncia (ida a julgamento) refere que Mamadou Ba "nem sequer veio provar a verdade dos factos", observando que se o arguido tiver conhecimento de crimes praticados por Mário Machado, que os denuncie "no lugar próprio", ou seja, na polícia ou no Ministério Público.

"O que não pode é substituir-se aos tribunais e invocar o direito de liberdade de expressão", concluiu o juiz de instrução criminal, a propósito de o arguido ter em 2020 apelidado nas redes sociais Mário Machado de "assassino" do cabo-verdiano Alcindo Monteiro, morto em Lisboa, em junho de 1995, por elementos de um grupo de "skinheads".

Mário Machado estava ligado àquele grupo, mas não foi condenado por homicídio no julgamento pela morte de Alcindo Monteiro, razão pela qual decidiu apresentar queixa-crime contra Mamadou Ba por difamação, publicidade e calúnia.

"Não há honra suscetível de ser ofendida"

O juiz Carlos Alexandre justificou ainda a sua decisão por entender que Mário Machado já respondeu na justiça por esse caso, questionando: "Pode uma pessoa carregar um anátema toda a vida imputando-se-lhe a participação, a qualquer título, num homicídio, cujo feito já foi introduzido em juízo e objeto de aturado julgamento e com acórdão do STJ, onde é absolvido desse concreto crime, mas condenado por outro? E chamar a isso liberdade de expressão?".

No debate instrutório realizado em outubro, Isabel Duarte, advogada de defesa de Mamadou Ba, alegou que neste caso "não há honra suscetível de ser ofendida", acrescentando não compreender os factos imputados ao ativista antirracista pela acusação particular (e que foi acompanhada pelo Ministério Público).

Entre as testemunhas arroladas pela defesa estão, além de Francisca Van Dunem, a diplomata e socialista Ana Gomes, o ex-líder do BE Francisco Louçã, o sociólogo Boaventura Sousa Santos, o deputado e líder do Livre Rui Tavares, o ex-deputado Miguel Vale de Almeida e os jornalistas Diana Andringa, Daniel Oliveira e Paulo Pena, entre outros.

A ex-ministra Francisca Van Dunem, juíza conselheira jubilada, deporá por escrito, tendo a defesa de Mamadou Ba, a cargo de Isabel Duarte, indicado ainda testemunhas que se vão pronunciar sobre os factos, sobre a personalidade do arguido e sobre o texto que motivou a queixa.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+