02 mar, 2020 - 07:20 • Lusa
O Presidente da República defendeu que “quanto mais amplo for o leque de escolhas” nas eleições presidenciais do próximo ano “melhor”, considerando que tal valoriza a democracia.
Numa entrevista ao humorista Ricardo Araújo Pereira na estreia do seu programa na SIC “Isto é gozar com quem trabalha”, gravada na sexta-feira e emitida domingo à noite, o chefe de Estado foi desafiado a dizer “quem ficou mais irritado” com a hipótese de a ex-eurodeputada socialista Ana Gomes se candidatar a Belém: ele próprio ou António Costa.
“Não posso falar pelo primeiro-ministro, neste caso pelo líder do PS, posso falar por mim. Eu por mim, como Presidente da República, é o contrário de estar irritado, acho que é positivo: o que valoriza a democracia é a importância das eleições e a eleição é tão mais importante quanto mais vasto for o leque das escolhas dos portugueses”, afirmou.
Marcelo Rebelo de Sousa disse que tal hipótese se aplica quer a Ana Gomes quer ao deputado André Ventura, que lançou formalmente a candidatura no sábado.
“Quanto mais amplo for o leque melhor, se alguém pensa que tem condições de ser o melhor Presidente da República para Portugal deve lançar-se”, instou.
Sem desfazer o ‘tabu’ sobre a sua eventual recandidatura, Marcelo colocou a hipótese no plano teórico, o que provocou gargalhadas entre a plateia.
“Mas vamos imaginar que eu sou candidato, aí também pensaria exatamente o mesmo: para qualquer candidato só valoriza o papel da eleição haver o maior número de portugueses e portuguesas que acham ‘eu sou o ou a melhor para este lugar’ e aparecerem”, considerou.
Na entrevista, o chefe de Estado foi desafiado por Ricardo Araújo Pereira a apontar características positivas e negativas aos líderes políticos, e fez a ressalva que apontaria apenas aspetos “pessoais e não políticos”.
Sobre o primeiro-ministro, António Costa, reiterou tratar-se de um “otimista irritante” e salientou como aspeto positivo a sua capacidade de resistência “física e psíquica”.
“Agora qual é outra face da realidade? É o irritante maximiza os cenários favoráveis e minimiza a hipótese de cenários desfavoráveis. Tudo tem um preço”, apontou.
Já ao líder do PSD, Rui Rio, o Presidente da República elogiou “a grande determinação” e o facto de, em algumas matérias, “não flutuar e ser previsível”.
“Quem entender que pode modificá-lo engana-se. Qual é a outra face da realidade? A determinação levada ao extremo pode ser teimosia”, referiu.
À coordenadora do BE, Catarina Martins, o chefe de Estado destacou pela positiva a sua capacidade de comunicação: “É muito clara, muito incisiva, a mensagem passa com grande eficácia. A outra face da moeda é que essa facilidade da comunicação pode dar aparência de frieza, de rispidez”, considerou.
Do secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, o Presidente destacou o afeto e a genuinidade, “muito ligado à sua forma simples, não simplista, de ser”.
“O que me impressiona a falar com Jerónimo de Sousa é que é muito preocupado, às vezes dá a sensação que tem o peso do mundo em cima dos ombros”, referiu, dizendo que também encontrou essa característica no antigo chefe de Estado Jorge Sampaio.
Marcelo Rebelo de Sousa disse ainda não conhecer bem o novo líder do CDS-PP, Francisco Rodrigues dos Santos, mas considerou-o uma pessoa “bem-intencionada e voluntariosa”, apontando-lhe como “problema” a inexperiência própria de quem “está a dar os primeiros passos”.
Já sobre André Silva, porta-voz do PAN, o Presidente da República considerou que trata um “núcleo de problemas que não são artificiais”, mas corre o risco de ser “monotemático”.
Dos três novos protagonistas no parlamento, André Ventura, João Cotrim Figueiredo e Joacine Katar Moreira, o chefe de Estado preferiu não destacar características pelo pouco tempo de convivência.
Ricardo Araújo Pereira ainda tentou que o Presidente da República respondesse se valerá a pena vetar a lei da eutanásia - sobre a qual não tem feito quaisquer comentários -, argumentando que mesmo esses doentes correm o risco de ficar nas listas de espera, mas obteve apenas uma nova pergunta como resposta. “Porque é que não disse isso aos subscritores dos projetos quando estes tiveram de optar em fazer uma lei nova?”, questionou Marcelo Rebelo de Sousa.