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Paulo Rangel "convictamente" contra a eutanásia e a favor do referendo sobre matéria "tão grave"

08 fev, 2020 - 16:29 • Susana Madureira Martins

O eurodeputado diz não ser "muito amigo de referendos", mas, "à medida que o tempo passa", fica convencido de que é "necessário um referendo", porque "não há nenhum debate sério na sociedade portuguesa sobre este assunto".

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O euro-deputado do PSD Paulo Rangel diz não ser "muito amigo de referendos", mas que a falta de debate na sociedade sobre a questão da eutanásia leva-o a defender o manifesto em defesa de um referendo à legalização da morte assistida.

À entrada para o congresso do PSD, a decorrer em Viana do Castelo, Rangel disse que "não estava nessa linha inicial", mas, "à medida que o tempo passa", fica convencido de que é "necessário um referendo", porque "não há nenhum debate sério na sociedade portuguesa sobre este assunto".

Paulo Rangel recorda aquilo a que se assiste na Holanda, onde se discute a possibilidade da venda de fármacos que permitem o suicídio de idosos, e questiona como é possível "conviver com isto".

"Está agora em discussão a tal pílula sem dia seguinte, que é dar a todas as pessoas de 70 anos um comprimido que lhes permite matarem-se quando quiserem."

Paulo Rangel defende referendo sobre eutanásia, para evitar decisão "nas costas dos portugueses"
No congresso, Paulo Rangel defendeu um referendo sobre a eutanásia, para evitar decisão "nas costas dos portugueses"

"Para além de poder provocar danos enormes, porque pode provocar homicídios e não suicídios, porque nem sei como é que pode ser controlável, significa que as pessoas de setenta anos não têm valor?", questiona o eurodeputado.

Numa altura em que o parlamento se prepara para discutir os projectos de lei para a legalização da eutanásia, Paulo Rangel salienta que o assunto é "demasiado sério, levado a limites muito complicados" e que "a sociedade portuguesa merece um debate sobre esta matéria".

O que se vê, segundo Rangel, é um debate "um bocado à socapa, quinze dias depois do orçamento" para "decidir sobre uma matéria desta transcendência".

"É, sinceramente, grave que isto não seja objecto de um debate nacional."

O referendo não era para o eurodeputado do PSD uma "posição de partida", mas "não havendo uma discussão nacional", a consulta "talvez seja a forma de provocar essa discussão nacional".

Neste quadro, Rangel adere ao manifesto defendido por diversas personalidades, como a ex-líder do PSD Manuela Ferreira Leite, a favor do referendo.

Em resposta a uma pergunta da Renascença, o eurodeputado mostra-se crítico da posição da Igreja Católica sobre esta matéria, considerando-a de "tímida".

"A Igreja, em algumas matérias, tem sido demasiado tímida, devia estar mais activa", diz Rangel, acrescentando que "faz tudo com alguma cerimónia".

A Igreja "é uma das responsáveis por o debate não ser tão vivo", declara o eurodeputado, confessando que faz esta afirmação "com pena", mas pelo facto de entender que a Igreja Católica "já podia estar há muito tempo com um debate muito forte e com os próprios bispos a falarem".

"Esta é uma matéria na qual existe uma posição muito clara dos cristãos, em geral, e, em particular, dos católicos" e que "essa voz deve ser ouvida".

O eurodeputado assume-se como "um cristão de cultura católica" e considera que "as Igrejas têm de tomar posições porque "são parceiros da sociedade, são parceiros públicos e devem exprimir as suas posições".

Nestas declarações, Rangel refere que "o debate sobre esta matéria é zero, e há muitas confusões: uma coisa é distanásia outra coisa é eutanásia, outra coisa é cuidados paliativos, outra coisa é morte assistida e a clarificação destes conceitos ajudaria a sociedade portuguesa a maturar a decisão".

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  • João Lopes
    09 fev, 2020 11:36
    Henrique Raposo, Expresso Diário 5-02-2020: «A sociedade, como um todo, não pode responder ao desespero com um encolher de ombros. Quando alguém procura o suicídio, o nosso impulso moral é tentar salvar essa pessoa. Quando alguém se quer matar atirando-se de uma ponte ou prédio, o nosso impulso moral é agarrá-lo, desrespeitando assim a sua vontade. Porque é que este impulso moral desaparece quando a tentativa é feita num hospital? O suicídio, seja em que forma for, não pode ser um valor e uma prática social».

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