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Cristo Rei faz 65 anos. “É mais do que um miradouro sobre Lisboa”

17 mai, 2024 - 06:00 • Ângela Roque

Monumento está a receber 1,1 milhões de visitantes por ano, superando os números da pré-pandemia. A Renascença falou com o bispo de Setúbal e com o reitor do Santuário sobre a importância do Cristo Rei, que está a receber cada vez mais peregrinações internacionais, a maioria do oriente.

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Há 65 anos que o Cristo Rei abraça Lisboa a partir de Almada. O monumento foi inaugurado a 17 de maio de 1959. A vista privilegiada é um atrativo turístico inegável, mas o local é muito mais do que um miradouro, lembra à Renascença o atual bispo de Setúbal, cardeal Américo Aguiar.

“Queremos que seja mais do que um miradouro – ou mira Tejo, neste caso. Queremos que seja mais do que um lugar alto onde se espreita, onde se tem uma boa vista da cidade de Lisboa. Queremos que seja subida, mas espiritual, um encontro no próprio coração de Cristo. E estes 65 anos são momento de paragem, de reflexão, oração e de sonhar o futuro”, sublinha.

Na Nota Pastoral que divulgou, para assinalar esta data, D. Américo diz que “urge apostar nos melhores meios para um trabalho de evangelização diligente”. À Renascença admite que a requalificação do espaço e a aposta feita nos últimos anos ao nível da arte sacra contribuíram para o aumento do número de visitantes, não só turistas.

“A maioria das pessoas que se desloca ao Cristo Rei é para uma experiência turística, ponto. Mas, fazendo essa visita, uma boa parte descobre a oferta da experiência espiritual. Ao chegarem lá e ao lhes ser proposto um encontro com Cristo vivo, com a mensagem associada a esta espiritualidade do Sagrado Coração de Jesus, estou convencido que uma boa parte dessas pessoas leva uma semente no seu coração, uma experiência espiritual de terem estado no Santuário de Cristo Rei”, refere, lembrando de seguida a sua experiência pessoal, quando foi responsável pela Torre dos Clérigos, no Porto.

“Há muita má semelhança, entre os Clérigos e o Cristo Rei, por serem um ponto a que as pessoas sobem para ter uma vista especial. E há um esforço suplementar de colocar aqui, com toda a liberdade, a proposta de uma experiência espiritual. Não é fácil, é um desafio significativo, por isso é que as equipas da reitoria nos últimos anos têm feito esforço para melhorar a proposta de vivência espiritual nessa visita ao monumento de Cristo Rei”.

Mais visitantes e mais peregrinações

O reitor do Santuário de Cristo Rei confirma a tendência crescente de visitantes, com números que já superam os da pré-pandemia. “A partir de 2022 as presenças são cada vez mais expressivas, seja de nacionais, de portugueses, seja de estrangeiros, inclusivé de pessoas que vêm em peregrinações organizadas, com um sentido de fé”, diz à Renascença o padre Carlos Filipe da Silva, adiantando: “o ano passado registámos um milhão e 100 mil visitas ao nosso Santuário, e parece-nos que este ano os números até podem superar os do ano passado”.

Este responsável destaca o aumento dos peregrinos, que não vão ao Cristo Rei apenas para ver Lisboa. “Diariamente temos aqui peregrinações organizadas, sobretudo do oriente, que pedem celebração da Eucaristia, a visita aos locais mais importantes do Santuário, a visita às relíquias e à Capela da Adoração, uma vez que desde de fevereiro temos a Adoração continuada da Eucaristia, a chamada Adoração Perpétua”.

O padre Carlos reconhece que a aposta na vertente artística e cultural no Santuário tem sido uma maneira de atrair mais visitantes, mas também mais fiéis. “Como nos diz o Papa Francisco, no documento sobre os Santuários, a via da beleza é uma via que se dirige de modo particular aos santuários, porque são, por natureza, lugares de beleza, por serem monumentos e por convocarem a tradição da arte cristã, para serem um lugar especial onde cada um dos visitantes e peregrinos se pode encontrar com Deus através das obras de arte. Aqui, no Santuário, tem-se feito esse esforço. Creio que o futuro pede-nos para assim continuarmos”.

A quem nunca visitou o Cristo Rei, deixa um convite. “A própria geografia do sítio convoca as pessoas, é sempre deslumbrante, as vistas que aqui temos enchem-nos o coração e o espírito de quem nos visita! O terraço do monumento é o grande miradouro sobre Lisboa, mas não posso deixar de dizer, nesta ocasião dos 65 anos, que vir a este Santuário é descobrir o coração de Jesus, que está muito presente na Eucaristia e na adoração que se faz, dia e noite, dia após dia e mês após mês, neste Santuário”.

Três dias de celebrações

Os 65 anos da inauguração do Cristo Rei, em Almada, são assinalados esta sexta-feira com uma Missa Solene, às 17 horas, seguida de uma conferência pelo Patriarca Emérito de Lisboa, D. Manuel Clemente. Mas, as celebrações prosseguem sábado, com um concerto do Coro Regina Coeli (infantil), às 21h30, e encerram domingo, com Eucaristia às 11h30, onde o Santuário irá aderir à Rede Mundial de Oração do Papa.

“É a formalização da relação próxima do Santuário com as intenções de oração do Santo Padre. É uma etapa importante, que reafirma e anima a espiritualidade do Coração de Jesus que preside à idealização, conceção e conservação da simbólica cristã e católica deste monumento, e dá-nos a possibilidade de projetar a pastoral do Santuário para o futuro”, sublinha o padre Carlos Filipe Silva.

Depois de um almoço partilhado, às 15h, será apresentado o Caminho do Coração, um momento de reflexão e espiritualidade.

À Renascença, o cardeal Américo Aguiar diz esperar que muitos queiram unir-se à festa, e explica que o objetivo da Nota Pastoral “O Santuário de Cristo Rei – Passado, Presente e Futuro”, que divulgou para esta data, é a de “agradecer, manifestar gratidão” por todos os que foram responsáveis pela edificação deste monumento/santuário.

O documento começa por lembrar que o projeto do Cristo Rei foi um “sonho” do cardeal Cerejeira, e que é “indissociável da espiritualidade do Coração de Jesus”, a que ele esteve sempre ligado.

“Em 1936, ao sobrevoar, de avião, a cidade do Rio de Janeiro, perante a contemplação da imponente imagem do Cristo Redentor do Corcovado, tem a inspiração de erigir, em Portugal – mais especificamente em frente a Lisboa – um Santuário dedicado ao Sagrado Coração de Jesus. Assim nasce, qual embrião, o Santuário de Cristo Rei”, lê-se na Nota.

O projeto ganhou “um novo sentido e vigor” em 1939, no início da II Guerra Mundial, quando o monumento ficou ligado à intenção de livrar Portugal do conflito armado. Assim, “a 20 de abril de 1940, em Fátima, os Bispos Portugueses, no final do seu retiro anual, fazem o voto de erguer, em frente da capital, um monumento à realeza de Jesus Cristo: ‘Se Portugal fosse poupado da Guerra, erguer-se-ia sobre Lisboa um Monumento ao Sagrado Coração de Jesus, sinal visível de como Deus, através do Amor, deseja conquistar para Si toda a humanidade’ “.

O monumento a Cristo Rei foi inaugurado a 17 de maio de 1959, 10 anos depois de ter sido lançada a primeira pedra.

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