24 nov, 2024 - 11:06 • Lusa
Pezarat Correia e Sousa e Castro recusaram participar na sessão evocativa do 25 de Novembro de 1975 na Assembleia da República, considerando que a data está a ser deturpada e não pode ser equiparada ao 25 de Abril.
Em declarações à agência Lusa, o general Pedro de Pezarat Correia e o coronel Rodrigo de Sousa e Castro, ambos membros iniciais do Grupo dos Nove, da ala moderada do Movimento das Forças Armadas (MFA), indicaram que receberam um convite para marcar presença na sessão solene do 25 de Novembro, que vai decorrer esta segunda-feira no parlamento, mas declinaram.
À Lusa, Sousa e Castro disse ter recusado esse convite por discordar que a Assembleia da República assinale o 25 de Novembro e o 25 de Abril com "a mesma dignidade institucional".
"As duas datas não são comparáveis. Logo, do ponto de vista de uma instituição como a Assembleia da República, não pode haver o mesmo tratamento. Não devia haver o mesmo tratamento", disse Sousa e Castro, que foi também Capitão de Abril e membro do Conselho da Revolução.
Para o coronel, "enquanto o 25 de Abril é uma data que comemora, relembra, a revolução do 25 de Abril que derrubou uma ditadura de 48 anos, o outro acontecimento - que foram vários acontecimentos que culminaram no 25 de Novembro - é absolutamente distinto".
"Porque esse outro acontecimento apenas pôs termo a algumas derivas de extremos que são inerentes a movimentos revolucionários. Portanto, não há comparação possível", reforçou, salientando que, enquanto antigo Capitão de Abril, membro do Conselho da Revolução e do Grupo dos Nove, tem "plena consciência" de que as duas datas "não podem ser equiparáveis do ponto de vista da dignidade institucional".
Questionado se concorda com Vasco Lourenço quando afirmou que a direita foi a "principal derrotada" do 25 de Novembro, Sousa e Castro respondeu que a data "foi um acontecimento que pôs termo a derivas de extremos".
"Quem foi derrotado foi a extrema-esquerda e a extrema-direita. Não foi a direita nem a esquerda democrática", referiu. .
Já o general Pezarat Correia disse à Lusa ter declinado o convite para participar na sessão solene por considerar que "o 25 de Novembro que se está ali a comemorar não é o 25 de Novembro" em que ele próprio participou.
"Sou contrário a esta celebração, como a de todas as datas fraturantes. Fala-se que se pôs um ponto final num confronto, quando do outro lado estavam todos presos ou saíram para o exílio", afirmou.
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Para Pezarat Correia, "a democracia conseguiu-se não por causa do 25 de Novembro, mas apesar do 25 Novembro".
"Logo a seguir, em Abril de 1976, aprovou-se a Constituição revolucionária e as conquistas estavam lá, embora depois disso ela tenha sido adulterada e abandonada por força do processo que se foi seguindo", afirmou, acrescentando que a Constituição também "foi aprovada não por causa do 25 de Novembro, mas apesar do 25 de Novembro".
Contactado pela agência Lusa, o general Garcia dos Santos, que também integrou o Grupo dos Nove, disse não ter sido convidado para a sessão solene, mas não quis comentar se concorda com a realização da sessão na Assembleia da República.
O Capitão de Abril Vasco Lourenço, também já afirmou que não vai marcar presença na sessão solene, acusando a direita de estar a distorcer a história para esconder que foi a "principal derrotada" do 25 de Novembro e de pretender desvalorizar a relevância do 25 de Abril.
O Grupo dos Nove foi composto por militares conotados com a ala moderada do Movimento das Forças Armadas (MFA) que, em 07 de agosto de 1975, lançaram um documento conhecido como o "Documento dos Nove", em que se opunham aos modelos socialistas da União Soviética e da Europa do Leste, assim como à social-democracia europeia, propondo antes uma terceira via, baseada na "formação de um amplo e sólido bloco social de apoio a um projeto nacional de transição para o socialismo", mas "inseparável da democracia política".
Em 25 de Novembro de 1975, cerca de mil paraquedistas da Base Escola de Tancos ocuparam o Comando da Região Aérea de Monsanto e seis bases aéreas, ato que o Grupo dos Nove considerou o indício de que poderia estar em preparação um golpe pela chamada esquerda militar.
A tentativa de sublevação daquelas unidades militares, conotadas com setores da extrema-esquerda, foi travada por um dispositivo com base no regimento de comandos da Amadora, sob o comando do então tenente-coronel Ramalho Eanes.