23 mai, 2024 - 07:27 • José Pedro Frazão
Novo Aeroporto, Terceira Travessia do Tejo, Linha de Alta Velocidade a partir da capital e ampliação do aeroporto da Portela. Os novos investimentos na Grande Lisboa já foram anunciados, mas, para o diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados falta avaliar as condições necessárias para acolher os imigrantes que vão construir essas grandes obras.
“Era importante perguntar: para fazermos estas obras, de quantos migrantes vamos precisar? É que vamos precisar de muitos. E onde é que eles vão viver? Em que condições?”, questiona André Costa Jorge no programa “Da Capa à Contracapa” que na próxima semana debate o tema das migrações.
O diretor do SJR está convicto que boa parte da mão-de-obra das grandes obras anunciadas será imigrante, dando trabalho aos que já estão em Portugal e criando um “efeito de chamada”, vai trazer mais imigrantes para a Grande Lisboa.
O diretor-geral do Serviço Jesuíta aos Refugiados diz-se “muito preocupado” com as condições sociais, e em especial de habitação, que vão ser dadas a todos aqueles que vão trabalhar nas anunciadas grandes obras da Grande Lisboa.
“Todos criticámos a forma como o Governo qatari geriu as migrações para fazer os estádios no Mundial do Qatar. Nós, para fazer estas obras, quantas pessoas é que vamos precisar e como é que as vamos gerir? Vamos permitir que elas viviam amontoadas, sem direitos, em sistemas de ‘cama quente?”, interroga-se André Costa Jorge.
O dirigente desta organização católica de apoio aos migrantes alerta para a “coragem” de pensar no espaço urbano onde estas pessoas vão viver para trabalhar nestas obras, mas também para fazer reagrupamento familiar. “Vão trazer as suas famílias, crianças. É preciso [fornecer] escolas e dar um conjunto de condições”, avisa o homem que lidera as operações do Serviço Jesuíta aos Refugiados.
André Costa Jorge deseja evitar situações de “profunda injustiça e exploração”, cuja fatura vai ser paga sobretudo pelos mais pobres e pelos imigrantes.
"É importante não cairmos em erros que aconteceram nos últimos 15 anos por esse país fora, em áreas rurais, em que as pessoas vivem em barracões. Vamos permitir que isto aconteça outra vez?”, pergunta este dirigente do SJR para quem toda a sociedade tem que responder ao desafio do acolhimento.
No entanto, sublinha Costa Jorge, as câmaras municipais têm um papel especial neste domínio. “Quem está no terreno são os municípios, que têm que estar claramente envolvidos nos processos de acolhimento. Não se trata apenas da questão documental. É preciso trabalhar para garantir condições básicas de vida às pessoas. E o acesso à habitação é uma delas”.