Emissão Renascença | Ouvir Online
A+ / A-

Morte do PSP Fábio Guerra. Defesas dos ex-fuzileiros recorrem das penas

07 set, 2023 - 15:36 • Lusa

Tribunal de primeira instância “sucumbiu à pressão da opinião pública”, ao assumir que houve intenção dos arguidos e que estavam conformados com uma possível morte.

A+ / A-

As defesas dos ex-fuzileiros Cláudio Coimbra e Vadym Hrynko recorreram das condenações, em cúmulo jurídico, a 20 e 17 anos de prisão, respetivamente, no caso da morte do polícia Fábio Guerra em março de 2022.

Segundo os recursos apresentados junto do Tribunal da Relação de Lisboa, a que a Lusa teve acesso esta quinta-feira, os advogados de Cláudio Coimbra reclamam a nulidade do acórdão de 02 de junho do Juízo Central Criminal de Lisboa e pedem a absolvição dos crimes pelos quais o arguido foi condenado por falta de provas.

Já a defesa de Vadym Hrynko rejeita a condenação por homicídio qualificado do agente da PSP, ao entender que não houve dolo e que em causa estariam ofensas à integridade física graves, agravadas pela morte.

No caso de Cláudio Coimbra, invocam-se a inexistência de atas do julgamento, a incompetência do tribunal para algumas decisões, a alteração substancial dos factos da acusação e erros na apreciação da prova.

Porém, sobressai o argumento de que “não existe nexo de causalidade” entre as lesões da vítima e as agressões, face a uma “erradíssima apreciação” do relatório da autópsia, e a ausência de uma “particular vulnerabilidade” de Fábio Guerra.

Sublinhando que Cláudio Coimbra nunca quis causar a morte aos envolvidos nos confrontos, a defesa aponta também a falta de provas sobre uma atuação em serviço dos polícias ou de “conhecimentos especiais de luta” dos ex-fuzileiros e lembra o cariz “extremamente rápido e intenso” dos acontecimentos, deixando críticas ao comportamento dos agentes e à censura pública do Chefe do Estado-Maior da Armada (CEMA), Gouveia e Melo, a este caso.

“Toda a contenda apenas se prolongou do jeito que se procedeu, única e exclusivamente, pela atitude dos agentes da PSP, que ao intervirem, ao invés de acalmarem a situação, expuseram os envolvidos a mais situações de ‘stress’ e sensações de perigo”, refere o recurso, visando também o CEMA: “Em Portugal, ‘um arruaceiro não faz parte da Marinha’ e também não tem direito a um julgamento justo”.

Por sua vez, a defesa de Vadym Hrynko contestou a “atitude apaziguadora” e a vulnerabilidade atribuída pelo tribunal à vítima, lembrando que tudo se passou em “sessenta segundos de irreflexão, adrenalina, precipitação e violência” e que não foram devidamente consideradas como atenuantes do arguido a ausência de antecedentes criminais, o pedido de desculpa à família no julgamento ou o comportamento na Marinha.

“Qualificar o Senhor Agente Fábio Guerra como uma vítima especialmente vulnerável não faz jus à realidade e é, até, desprimoroso para a sua própria condição”, lê-se no documento, que concretiza: “Deveria, portanto, o arguido ter sido condenado pela prática do crime de homicídio simples ou, como entendemos e na pior das hipóteses, pela prática de um crime de ofensas à integridade física agravadas pelo resultado morte”.

Indica ainda que o tribunal de primeira instância “sucumbiu à pressão da opinião pública”, ao assumir que houve intenção dos arguidos e que estavam conformados com uma possível morte.

Nesse contexto, são apontadas diferenças para o processo da morte do cidadão ucraniano Ihor Homeniuk nas instalações do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras no aeroporto de Lisboa, em 2020, concluindo com o pedido de reformulação da pena.

“Caso o arguido seja condenado pela prática de um crime de ofensas à integridade física grave, agravado pelo resultado morte, deverá ser condenado numa pena de prisão não superior a cinco anos e quatro meses de prisão”, lê-se no recurso, que defende também uma redução substancial dos pedidos de indemnização imputados ao ex-fuzileiro.

O agente da PSP Fábio Guerra, 26 anos, morreu em 21 de março de 2022, no Hospital de São José, em Lisboa, devido a “graves lesões cerebrais” sofridas na sequência das agressões de que foi alvo no exterior da discoteca Mome, em Alcântara, quando se encontrava fora de serviço.

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

Destaques V+