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Emmanuel Macron visita China com foco na Ucrânia e relações económicas

04 abr, 2023 - 08:23 • Lusa

A viagem de Macron coincide com uma visita à China da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ocorre após uma deslocação ao país asiático do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. Também o chanceler alemão, Olaf Scholz, esteve em Pequim, em novembro passado.

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O presidente francês, Emmanuel Macron, inicia na quarta-feira uma visita de Estado de três dias à China, onde vai abordar com o homólogo chinês, Xi Jinping, a guerra na Ucrânia e as relações económicas bilaterais.

“O presidente Xi Jinping vai reunir-se com [Macron] para planear e liderar, em conjunto, o desenvolvimento futuro das relações sino - francesas e aprofundar a cooperação com a França e a Europa em vários campos”, disse, na segunda-feira, Mao Ning, porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês.

“Eles vão trocar opiniões aprofundadas sobre as principais questões internacionais e regionais”, acrescentou.

A viagem de Macron termina com uma visita a Cantão, a capital da província de Guangdong, no sudeste da China.

“Os presidentes da França e da China vão manter amplas discussões sobre a guerra na Ucrânia, visando trabalhar no sentido de restaurar a paz e o respeito pelo direito internacional, particularmente a integridade territorial e a soberania da Ucrânia”, disse o gabinete do presidente francês, em comunicado.

A viagem de Macron coincide com uma visita à China da presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ocorre após uma deslocação ao país asiático do primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez. Também o chanceler alemão, Olaf Scholz, esteve em Pequim, em novembro passado.

Importância do país asiático como “promotor da paz”

Analistas citados pela imprensa oficial chinesa consideraram que as visitas de líderes europeus a Pequim ilustram o reconhecimento da importância do país asiático como “promotor da paz”.

O “modelo de resolução de disputas internacionais” da China é “amplamente reconhecido” pela comunidade internacional e a visita de líderes europeus ao país “reflete a ânsia da Europa” em alcançar uma solução para a crise na Ucrânia, que “está a preocupar profundamente o continente”, escreveu o Global Times, jornal oficial do Partido Comunista Chinês, com base nas declarações de analistas chineses.

Xi reclamou abertamente um papel maior para a China na resolução de questões internacionais. Num triunfo para o líder chinês, o Irão e a Arábia Saudita anunciaram, no mês passado, em Pequim, um acordo para restabelecerem as relações diplomáticas, cortadas por Riade em 2016.

“A China está a entrar no Oceano”, disse metaforicamente o coronel reformado chinês Zhou Bo, numa entrevista à revista Time. “Não há como voltar atrás”.

As visitas dos líderes europeus ocorrem apenas algumas semanas depois de Xi reunir com o homólogo russo, Vladimir Putin, em Moscovo.

“Se há um único país que pode levar Moscovo a mudar os seus cálculos é a China”, admitiu, na segunda-feira, um funcionário do gabinete de Macron, citado pelo jornal britânico Financial Times.

Numa conversa por telefone com o assessor diplomático do presidente francês, Emmanuel Bonne, após a visita de Xi a Moscovo, o chefe da diplomacia chinesa, Wang Yi, defendeu que a China e a Europa devem chegar a um “consenso estratégico” para promoverem um cessar-fogo e uma resolução política da guerra.

Pequim apresentou uma proposta para a paz, que foi criticada na Europa e nos Estados Unidos por não exigir a retirada das tropas russas e ignorar as reivindicações de soberania de Kiev nos territórios ocupados.

Líder europeia também está em visita à China

Na semana passada, num debate no Parlamento Europeu, Ursula von der Leyen disse que a visita de Xi a Moscovo foi uma “lembrança absoluta” dos objetivos globais de Pequim.

A líder europeia rejeitou as propostas da China para a paz na Ucrânia, mas ressalvou que a “China tem a responsabilidade de desempenhar um papel construtivo no avanço de uma paz justa”.

“Longe de se deixar abater pela invasão atroz e ilegal da Ucrânia, o presidente Xi mantém a sua ‘amizade sem limites’ com a Rússia de Putin”, disse.

Ursula von der Leyen lembrou que a “forma como a China continua a interagir com a guerra de Putin, será um fator determinante para as relações UE - China daqui para a frente”.

Citado pelo jornal de Hong Kong South China Morning Post, o professor de relações internacionais da Universidade de Sichuan, no sudoeste da China, Pang Zhongying, disse que Macron e von der Leyen vão continuar a instar a China a exercer a sua influência sobre a Rússia para acabar com a guerra, enfatizando o ponto em comum com Pequim sobre a necessidade de respeitar a integridade territorial e condenar ameaças de uso de força nuclear.

“Se a China não usar o seu relacionamento com a Rússia, tornar-se-á difícil para os líderes ocidentais acreditar no seu plano de paz ou falar num acordo político”, disse Pang.

Economia na agenda das visitas

As questões económicas também vão estar no topo da agenda das visitas. A presidente da Comissão Europeia disse que o bloco deve considerar restringir o investimento de empresas europeias na China em setores sensíveis, como robótica, computação quântica e inteligência artificial.

“O presidente Macron também pretende defender os interesses das empresas francesas e garantir que uma relação equilibrada com a China beneficia as empresas e os consumidores franceses”, lê-se no comunicado do gabinete do presidente francês.

O líder francês vai ser acompanhado pelo ministro das Finanças, Bruno Le Maire, a ministra dos Negócios Estrangeiros, Catherine Colonna, e líderes de cerca de 50 empresas, incluindo o grupo de energia nuclear EDF e o grupo de água e resíduos Veolia.

A construtora Airbus também faz parte da delegação, numa altura em que está a negociar um contrato para fornecer aviões à China.

A China é o terceiro maior destino das exportações da União Europeia e o maior fornecedor das importações da UE.

Von der Leyen também visitou Washington no início de março para discutir a cooperação em matérias-primas, visando reduzir a dependência da UE face à China. Quase todas as terras raras da Europa provêm da China.

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