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Temido pede ao PS que não se deixe "entrincheirar". A habitação constrói-se "com todos"

03 mar, 2023 - 03:21 • Susana Madureira Martins

Numa sessão de esclarecimento aos militantes do PS, a ex-ministra da Saúde vestiu o fato de líder da concelhia de Lisboa, lembrou como o partido eliminou as barracas na cidade e de como é preciso encarar o desafio da habitação "com muita coragem". Aos socialistas, Marta Temido pediu ainda que não se deixem "entrincheirar" sobre este tema.

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Antes mesmo de conseguir dizer "boa noite a todos e a todas", Marta Temido foi aplaudida durante longos segundos pelos militantes do PS de Lisboa quando subiu à tribuna instalada na sala do Altis. O tema da sessão de esclarecimento era o programa "Mais Habitação" e a ex-ministra da Saúde carregou os dois minutos da intervenção com recados ao partido.

Na parte em que a sessão foi aberta aos jornalistas, a presidente da concelhia do PS de Lisboa pediu que o partido não se deixe "entrincheirar" em relação ao tema da habitação.

"Não nos podemos deixar entrincheirar, não podemos deixar de fazer um esforço de nos entendermos, não podemos deixar de fazer um esforço de sairmos daqui mais clarificados", pediu Temido, antes da intervenção da ministra da Habitação, Marina Gonçalves.

A ex-ministra defendeu as medidas do Governo para esta área e pediu que o partido tenha "bem claro" que a resposta à crise da habitação "exige um esforço conjunto, um esforço de todos e exige também equilíbrio".

Um "equilíbrio" que passa por "medidas que convocam os proprietários, medidas que convocam as atividades económicas, como o alojamento local, medidas que convocarão o poder local". É preciso agregar todos, avisa Marta Temido, "porque a cidade e a habitação constroem-se com todos".

Perante a polémica que o programa "Mais Habitação" tem levantado, por exemplo, à boleia da proposta do arrendamento coercivo, a dirigente socialista salientou que os socialistas estão "habituados a enfrentar crises nos últimos anos".

Temido, que fazia anos esta quinta-feira, lembrou mesmo que o PS ultrapassou "no passado desafios enormes relacionados com a habitação" em Lisboa, referindo-se à eliminação de barracas no consulado de João Soares na liderança da autarquia. Agora, os socialistas têm de "encarar este desafio" da habitação "com muita coragem", aconselhou.

À porta fechada, e segundo elementos presentes na reunião contaram à Renascença, os militantes socialistas terão demonstrado "muita expectativa" em relação ao mandato de Marta Temido como presidente da concelhia de Lisboa, cargo que a ex-ministra assumiu há escassas semanas depois da demissão de Davide Amado acusado pelo Ministério Público de participação económica em negócio e abuso de poder.

Ministra pede "sugestões", militantes mostram-se preocupados com alojamento local e imóveis devolutos do Estado

À porta aberta, o discurso da ministra da Habitação não trouxe novidades. Marina Gonçalves disse aos militantes do PS que as medidas do Governo para o setor dão resposta aos objetivos de "proteger as famílias e reforçar uma resposta que é compatível com os rendimentos das famílias".

Perante os militantes do PS de Lisboa, a ministra pediu a mobilização de "todos" numa "tarefa" que implica "uma responsabilização por parte do Estado" e disse aguardar "ansiosamente" as "sugestões" para o debate público que decorre até 10 de março.

E as "sugestões" dos militantes socialistas presentes no Altis não se fizeram esperar. À porta fechada, segundo relataram à Renascença fontes presentes na reunião, Marina Gonçalves ouviu críticas pelo facto de "não se conseguir fazer nada com os imóveis devolutos do Estado", por exemplo.

A "palavra de ordem" é que o pacote de medidas para a Habitação "é equilibrado", mas os militantes socialistas terão mostrado uma série de dúvidas. Terá havido "muita preocupação" com a reavaliação das licenças do alojamento local. A proposta do Governo prevê a avaliação das atuais licenças em 2030.

Os socialistas mostram-se ainda preocupados em relação ao regime dos residentes não habituais. Trata-se de um elemento que não está coberto nas medidas apresentadas pelo Governo e no partido lamenta-se que "se faça algo" sobre o alojamento local ou sobre os vistos gold e não se atue naquele plano.

Ainda segundo elementos presentes na sessão, Marina Gonçalves também terá ouvido "alguma irritação" dos militantes sobre "como é que se permite casas tão caras" ou a sugestão de que é preciso reforçar as cooperativas de habitação, uma das áreas que, de resto, a ministra abordou na intervenção inicial.

Aparentemente, não há uma preocupação por aí além entre os militantes socialistas se o partido está ou não a perder o debate sobre a habitação. Segundo conta uma fonte à Renascença, na sessão de esclarecimento as intervenções dividiram-se entre quem acha que o PS deve "alimentar a indignação popular" com a falta de casas e os que consideram que "este debate exige ponderação e equilíbrio".

Encerrada a sessão em Lisboa, a ministra da Habitação segue esta sexta-feira para o Entroncamento, no distrito de Santarém, para um novo encontro noturno com militantes e simpatizantes socialistas.

"Nós no PS não encaramos nenhum agente do setor como adversário"

Ainda na fase de intervenções à porta aberta, as críticas à oposição ficaram a cargo do secretário-geral adjunto do PS, com João Torres a tomar como alvo Luís Montenegro que defendeu, esta quinta-feira, que os governos do PSD "foram os quatro melhores da democracia portuguesa".

Torres diz que ao ouvir essas declarações do líder social-democrata só "pensava na designada Lei Cristas, na liberalização pouco cuidada e pouco articulada que o mercado imobiliário sofreu", rematando que "essa declaração comprova a dessintonia entre o líder do maior partido da oposição e as reais preocupações dos portugueses".

Sobre o pacote da habitação apresentado pelo Governo, o dirigente socialista lançou outro remoque às oposições, referindo o "período em que se pensou, porventura, que o mercado e as políticas neoliberais tomariam conta de todas as soluções para assegurar a custos acessíveis uma habitação a cada cidadão".

Ora, no PS, conclui João Torres, não se encara "nenhum agente do setor como adversário" e "todos são parte da solução", mas os socialistas "não abdicam de uma regulação do mercado".

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