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"Para lá da Igreja". APAV defende investigação independente de abusos em toda a sociedade

03 mar, 2023 - 10:00 • André Rodrigues

O desporto é uma das áreas que a APAV encara como passível de mais escrutínio, mas o secretário de Estado do Desporto diz que "não há dados suficientes" para abrir investigação independente no setor.

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A Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) defende que a investigação do fenómeno dos abusos sexuais deve continuar para além da esfera da Igreja Católica.

Questionada pela Renascença sobre a hipótese de uma comissão independente para analisar eventuais denúncias que possam surgir noutros setores da sociedade, Carla Ferreira, responsável da rede CARE da APAV - que acompanha a violência sexual contra crianças e jovens - diz ser necessário continuar a investigar e denunciar estes casos: na Igreja, mas não só.

“Será que os números da violência sexual no desporto justificam a existência de uma comissão independente? E eu retribuo a pergunta, será que os números de abuso sexual no contexto da Igreja Católica justificavam a criação de uma comissão independente? É que, se nós vamos apenas pelos números que estão atualmente registados, vamos ter, nalguns contextos, números aparentemente muito baixos”, adverte a responsável.

Neste contexto, Carla Ferreira defenda a multiplicação do que classifica como “movimentos de desocultação” de casos de abusos: “Se, a seguir, se vai fazer isto no desporto, ou se, paralelamente, se vai fazer noutros contextos - como o ensino, o acolhimento ou as atividades extracurriculares -, é sempre importante. Quantas vítimas contaram pela primeira vez na sua história à Comissão Independente? Muitas, cerca de 50%."

Por outro lado, a responsável pela rede de apoio contra a violência de crianças e jovens na APAV admite que o reforço dos mecanismos independentes de investigação pode, até, contribuir para a dissuasão de comportamentos de abuso.

Mas não chega: “Pode existir uma comissão independente, mas, paralelamente, tem de haver estruturas de resposta para as vítimas. A dissuasão consegue-se quando todas estas ferramentas estão a acontecer em conjunto."

Comissão Independente no desporto? “Não há dados que nos levem aí”

Confrontado com o facto de a APAV ter sugerido o setor do desporto como uma das áreas de ação transversal na investigação de denúncias de abuso sexual, o secretário de Estado do Desporto começa por referir que, “independentemente de os números serem escassos, basta uma situação para se considerar extremamente grave e preocupante”.

O caso mais mediático é o do treinador Miguel Afonso, acusado de assédio sexual por parte das jogadoras do Rio Ave na época 2020/2021.

De resto, em fevereiro, as federações de andebol, basquetebol, futebol, patinagem e voleibol lançaram uma campanha a apelar à denúncia de situações de assédio, mas João Paulo Correia considera que, nesta altura, não há dados suficientes que justifiquem avançar com uma comissão independente ou com qualquer mecanismo semelhante.

“Não conhecemos nenhum caso, pelo menos nos últimos tempos. Não tenho conhecimento nenhum caso de abuso sexual. Os casos que conhecemos são de assédio, igualmente graves, mas não lhe consigo dar essa resposta porque teria, obviamente, de nascer de uma consciencialização geral, como aconteceu no caso da Igreja”.

Perante a insistência da Renascença sobre a criação de uma comissão independente para abrir caminho a uma melhor caracterização do fenómeno no setor do desporto, o secretário de Estado diz que “nem sim nem não”, porque, do conhecimento que diz ter da situação, “não há dados suficientes que nos levem aí”.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt

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