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Educação

Pais de alunos com necessidades especiais desesperam com greve dos professores

10 jan, 2023 - 21:32 • Fátima Casanova

Encarregados de educação escreveram uma carta aberta ao ministro da Educação. Ficar dentro da carrinha escolar à espera para saber se o professor vai dar aulas, tem sido a nova rotina de muitos alunos.

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A greve de professores está a deixar muitos pais de crianças com necessidades educativas especiais à beira de um ataque de nervos. O Movimento Cidadão Diferente pede estabilidade ao ministro da Educação, João Costa.

Ficar dentro da carrinha escolar à espera para saber se o professor vai dar aulas tem sido a nova rotina de muitos alunos.

Desde 9 de dezembro, quando começou a greve de professores convocada pelo STOP - Sindicato de Todos os Profissionais da Educação, que está instalada a incerteza nas escolas, com reflexos nas aprendizagens dos alunos e na dinâmica familiar, especialmente das famílias que com crianças com Necessidades Educativas Especiais (NEE).

O Movimento Cidadão Diferente escreveu uma carta aberta ao ministro da Educação para “denunciar a forma como as escolas estão a tratar os alunos com NEE durante este período de greves consecutivas”.

Miguel Azevedo, o presidente do Movimento, fala em “centenas de alunos e famílias a serem tratados como carne para canhão de norte a sul do país”.

À Renascença, este responsável denuncia que muitos alunos ficam no transporte escolar “entre as 8h30 e as 10h00 à espera para saberem se vão ter aulas ou não”.

Miguel Azevedo explica que ficam apenas com o motorista, “sem qualquer tipo de acompanhamento especializado que os possa tranquilizar”.

Pais ameaçados com despedimento

O presidente do Movimento Cidadão Diferente diz que, face à incerteza que se vive nas escolas, muitos pais acabam por chegar atrasados ou até faltar ao trabalho.

À Renascença, Miguel Azevedo conta que quando os pais levam os filhos à escola, por volta das 8h30, se o professor ainda não tiver chegado, ficam à espera para saber se o docente só faz greve ao primeiro tempo da manhã. A confirmar-se, a criança entra na escola às 10h00 e os pais chegam atrasados ao trabalho, conta este responsável.

Pior, é quando o professor titular faz greve o dia inteiro, diz Miguel Azevedo, acrescentando que, nesse caso, os pais têm de ficar com as crianças.

O presidente do Movimento Cidadão Diferente revela à Renascença que “há já tentativas de despedimento de pessoas”.

Na carta aberta, dirigida ao ministro da Educação, secretária de Estado da Inclusão e deputados da Comissão de Educação e Ciência, são relatados dois casos.

Por um lado, uma mãe de Vila Nova de Gaia, que diz que “os meninos precisam de estabilidade nas suas rotinas, não podemos, pura e simplesmente, deixar os nossos filhos de manhã (7h30 até 8h45) nas CAF e depois ligam-nos às 10h00 para os ir buscar, ou esperar com eles ao portão da escola até às 9h00 para ver se o professor chega, imaginam o sofrimento das crianças que estão sujeitas a esta situação? Pois muitas delas são muito sensíveis a grandes ajuntamentos/confusões, barulhos, etc.”

“Ou então o professor faz greve ao primeiro tempo, temos de sair do emprego, ir buscar os meninos, ir para casa, ligar para a escola perto das 10h00 para saber se o professor regressa, e voltar a levar os meninos à escola. No entanto ficam sem almoço pois este é marcado diariamente até as 9h30, ou seja, temos de voltar a ir buscá-los para almoçar", sublinha esta mãe de Gaia,

Outra encarregada de educação de Braga, conta que na escola do seu filho e as outras crianças “ficam dentro do taxi/ambulância (transporte escolar) até a professora titular entrar na escola e dê aulas”.

“Se a professora titular fizer greve, temos que nos deslocar à escola para ficar com as crianças até às 10h00, hora em que começam as aulas", afirma.

O Movimento Cidadão Diferente admite que estas greves têm impacto em todos os alunos, mas destaca que no caso dos alunos com NEE “agrava-se o problema, pois eles não sabem o que se passa e ficarem trancados num carro à espera, é um ato desumano”. Este Movimento pede, por isso, aos governantes que tomem “ações rápidas que corrijam urgentemente esta situação”.

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  • Pergunto
    11 jan, 2023 Eu 13:41
    Mas os Pais, pelo menos os que têm crianças menores que é o que importa, os outros já são autónomos, os Pais em caso de ter de faltar ao trabalho para ficar com filhos pequenos não têm só de pedir uma justificação no Agrupamento de escolas para justificar essas faltas?
  • Escuta Confap
    11 jan, 2023 5 de out 10:33
    A Confap e outras confederações de pais andam para aí a dizer que estão ao lado dos professores - só se for em palavreado estéril, porque o dito apoio nunca se viu em atos concretos - mas reclamam "Serviços mínimos", leia-se, terem um poiso onde deixar os rebentos mesmo que não tenham aulas, e já agora um poiso que também distribua refeições, ou seja, uma escola sem aulas só para lá manter e alimentar "as nossas crianças". Tenho novidades para vocês: como alguém já disse, os Tribunais reconheceram que não há serviços mínimos em Educação, pelo que requisições civis e outras táticas do governo para acabar com greves incómodas, estão fora de causa. Apoiam os Professores? Mostrem isso na prática: apoiem junto do ministro da Educação as pretensões dos Professores que vocês dizem ser justas, mas que até agora não passaram do palavreado estéril. E deixem de reclamar soluções que só podiam ser ilegais.
  • Digo
    11 jan, 2023 Eu 08:21
    Perceberam da pior maneira, a importância do Professor. Infelizmente só no sentido de "haver alguém" que fique com os filhos, e não no sentido da instrução que é dada. Mas é um começo. Talvez comecem a pensar melhor, na postura anti-professor que levam para as reuniões - quando aparecem - e nas agressões verbais e até físicas que exercem. Quanto a esses pedidos de "serviços mínimos" que andam para aí a circular, os Tribunais já se pronunciaram sobre isso em greves anteriores: não há Serviços mínimos na Educação.

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