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"Praticando a hipocrisia política" em relação ao Egipto

15 ago, 2013 - 23:57 • José Pedro Frazão

General Loureiro dos Santos diz que o Egipto "é um país fulcral pela sua posição geoestratégica, dimensão e por ser uma referência para todo o mundo árabe” e “deve procurar fazer-se tudo para que não seja um adversário”.

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Existe um pouco de “hipocrisia política” na forma como o Ocidente está a lidar com a situação no Egipto, admite o general Loureiro dos Santos.

O especialista em defesa e estratégia sublinha, em entrevista à Renascença, que os Estados Unidos e todo o mundo, sobretudo o ocidental, “têm um grande interesse estratégico na estabilização Egipto”.

Trata-se de um “país fulcral pela sua posição geoestratégica, dimensão e por ser uma referência para todo o mundo árabe” e “deve procurar fazer-se tudo para que o Egipto não seja um adversário”, defende.

O presidente eleito Mohamed Morsi foi afastado do cargo pelos militares e encontra-se detido, mas os Estados Unidos não consideram ter-se tratado de um golpe de Estado. Loureiro dos Santos considera que o Ocidente utiliza uma “linguagem dúbia, um pouco praticando a hipocrisia política que a ‘realpolitik’ obriga a fazer, mas sempre no sentido de avançar logo que possível com acções democráticas, tanto quanto isso for possível e ao mesmo tempo garantir as ligações ao Egipto”. 

“Em termos de relações internacionais o que conta é o interesse, agora, muitas vezes os Estados encontram-se amarrados a certos argumentos que utilizam quando lhes convém, por exemplo a defesa dos valores ocidentais, dos regimes democráticos, mas nas alturas em que a política de Estado se sobrepõe a esses valores utilizam estas formas hipócritas de fazer política internacional”, frisa o general.

O presidente dos Estados Unidos condenou a violência contra manifestantes no Egipto, que fez mais de 600 mortos em dois dias. Barack Obama também cancelou um exercício militar conjunto com as forças armadas egípcias.

Para o general Loureiro dos Santos, Obama fez esta declaração “para tentar influenciar o actual poder, as forças armadas, a reverter a situação, embora haja a consciência de que não será de um momento para o outro que isso irá acontecer”. Para o resto do mundo, Obama “reafirmou a defesa dos Estados Unidos daquilo que são considerados os valores humanos universais”.

“Não estranharia se ao mesmo tempo houvesse alguma mensagem em privado com o actual poder político no sentido de, por um lado, reforçar esta vontade dos Estados Unidos de as coisas acalmarem e, ao mesmo, de lhes garantir que admitem perfeitamente que não regresse ao poder o presidente deposto e que aceitarão e aconselharão um calendário eleitoral o mais depressa possível”, admite Loureiro dos Santos.

Para o especialista em defesa e estratégia, o exército egípcio "não pode recuar" agora, porque está "demasiado empenhado no processo político" e "foi longe demais".

Em relação à Irmandade Muçulmana, partido do presidente deposto Mohamed Morsi, admite que poderá recuar nos protestos contra o governo interino, para não ficar afastada do poder.

"A Irmandade Muçulmana para ascender ao poder terá que haver uma situação democrática ou, pelo menos que permita eleições. Penso que a Irmandade Muçulmana procurará na altura própria inverter o seu caminho, mas neste momento não poderá recuar bruscamente", argumenta Loureiro dos Santos.

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