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Nuno Formigo, especialista em Ecologia e Ambiente

Fim da seca à vista? "É preciso chover muito mais"

29 out, 2022 - 13:38 • Beatriz Lopes

As depressões "Armand" e "Beátrice" tentaram ajudar nas últimas semanas e a chuva veio para ficar pelo menos nos primeiros dias de Novembro. Mas "ainda é uma gota no oceano", sublinha Nuno Formigo, especialista em Ecologia e Ambiente. No final de setembro, a seca severa ainda atingia 32% do país, dez vezes mais do que há um ano.

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A chuva que tem caído não resolve a situação de seca em Portugal nem vai salvar as plantações agrícolas, alerta Nuno Formigo, especialista em Ecologia e Ambiente. "A chuva ainda é uma gota no oceano", reforça.

O professor e diretor do mestrado em Ecologia e Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (FCUP) explica que "a chuva que está a vir agora vai, sobretudo, servir para repor os níveis dos lençóis freáticos, não chega para repor os níveis antes da seca que tivemos".

Quanto às produções agrícolas, "a chuva não vai fazer grande coisa", sublinha Nuno Formigo, dado que "As colheitas de Outono já estão passadas e, portanto, a fazer alguma coisa, será para a Primavera seguinte."

Também no enchimento de barragens, "a chuva ainda é uma gota no oceano", "é preciso chover muito mais para repor os níveis das barragens, algumas delas têm disponibilidades inferiores a 40% e é preciso perceber que as nossas barragens servem não só para abastecimento urbano, para rega, mas também para a produção de eletricidade".

No caso da produção de eletricidade, o investigador alerta para "um problema grande", com Portugal a fechar as centrais térmicas e a depender essencialmente das energias renováveis e sobretudo das hidroelétricas.

De acordo com o índice PDSI, divulgado pelo Instituto Português do Mar e da Atmosfera e referente a setembro, 0,2% do território permanece em seca extrema, mas seca severa atinge ainda 32% do país (dez vezes mais do que há um ano, em outubro). E é por este motivo sublinha Nuno Formigo que "numa primeira fase, esta chuva só vai alagar, vai fazer poças à superfície, porque o solo está tão seco que não é capaz de absorver logo à primeira".

Mas os problemas não ficam por aqui: "A chuva não está a cair onde é mais precisa", alerta o investigador.

"Está a chover muito, mas a maior parte da chuva está a cair no litoral. Temos aqui também um problema de uma distribuição assimétrica da chuva: está a cair onde nem era tão precisa que é nas zonas mais urbanas e está a cair menos para o que era preciso nas zonas mais rurais".

Já questionado sobre as declarações da Ministra da Agricultura, Maria do Céu Antunes, que esta sexta-feira sublinhou que as chuvas dos últimos dias já garantem pastagens e condições para as culturas de outono/inverno, Nuno Formigo não contraria, mas alerta que "as pastagens não terão qualidade".

"Não serão pastagens iguais às que seriam se não tivéssemos tido a seca. A água que é necessária para as plantas é aquela que fica nas primeiras camadas do solo, a chamada reserva hídrica, onde as raízes das plantas vão buscar a água. Como a reserva hidrológica está muito diminuída, a água não vai ficar pelas camadas superficiais do solo, a maior parte dela vai escorrer, vai infiltrar-se", reforça.

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