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Catarina Martins acusa Câmara de Almada de "desumanizar" moradores do 2.ª Torrão

03 nov, 2022 - 16:24 • Lusa

Líder bloquista critica processo de realojamento na sequência da demolição de casas.

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A coordenadora do Bloco de Esquerda acusou hoje a Câmara de Almada de ter realizado um processo desumano no realojamento dos moradores do bairro do segundo Torrão, na Trafaria, tratando as pessoas como objetos.

Catarina Martins falava durante uma visita ao bairro do 2º Torrão, na Trafaria, concelho de Almada, onde algumas casas foram demolidas e as pessoas realojadas devido ao risco de derrocada das construções situadas sobre uma linha de água que atravessa o bairro.

Este procedimento decorreu na primeira semana de outubro e a forma como tem sido conduzido tem vindo a ser criticada pelos moradores, oposição e organizações como a Amnistia Internacional.

Na visita ao bairro, a líder do Bloco de Esquerda lançou um apelo ao Estado Português "para que se comporte como uma pessoa de bem e olhe para cada cidadão e cidadã com respeito" e acusou a autarquia de conduzir o processo de uma forma que considerou não ser digna de um Estado de direito e que ofende a democracia.

"Quem aqui vive trabalha e muito, trabalha muito por pouco salário. Quem aqui vive constrói este país todos os dias e não pode ser tratado assim", disse Catarina Martins em declarações à comunicação social.

A coordenadora do BE acrescentou que os moradores do bairro exigem um direito de cidadania de serem tratados com respeito, considerando que o mesmo não está a ser feito pela autarquia de Almada.

"A Câmara Municipal de Almada faz um processo de desumanização desta gente, achando que os pode tratar como objetos", disse.

Para Catarina Martins, o que é fundamental neste momento é que todas as pessoas que ficam sem a habitação tenham um programa de realojamento e que as soluções não sejam de um mês ou dois.

As soluções, defendeu, devem permitir que as pessoas possam reconstruir as suas vidas, mudar as suas crianças de escola, organizar a sua profissão e viver em casas com condições de habitabilidade.

As declarações da líder do BE ocorrem depois de ter ouvido relatos dos moradores de que algumas das casas onde se encontram alojados não têm gás, água e luz e num dos casos ter uma fuga de gás.

"Ter uma habitação não pode ser um luxo, ninguém pede aqui uma habitação de luxo. Pede uma coisa tão simples como uma casa com condições de habitabilidade por um preço que possa pagar, e é isso que a Câmara Municipal de Almada é responsável por garantir", frisou.

Ao longo da visita da coordenadora do Bloco de Esquerda vários moradores do bairro foram relatando os seus casos.

Sebastião, uma das pessoas cuja casa em que vivia foi demolida, contou que ficou sem ter para onde ir depois de ter recusado a solução de alojamento num centro de acolhimento noturno por considerar que as condições não são humanas e por se sentir inseguro.

A opção de Sebastião, um angolano que esteve em várias obras de construção de estradas em Portugal e que tem vários problemas de saúde resultantes de um acidente de trabalho, foi voltar para o bairro onde é ajudado por uma moradora desde o inicio de outubro.

"A casa não era minha. Tinha um quarto alugado. Pagava 200 euros. Tudo bem o programa é bom por causa da vala compreende-se mas estava lá alguém, temos de a acolher. Sinto-me como escumalha" disse.

Um jovem alojado numa casa em Vila Nova da Caparica disse que a casa não tem gás ligado porque existe uma suspeita de uma fuga e que até agora ninguém resolveu o problema.

"Estamos há um mês sem gás em casa. Tenho de tomar banho no trabalho", disse Patrick Silva.

Catarina Martins considera que a autarquia de Almada "não pode fazer de conta que nada tem a ver com estas situações".

O 2.º Torrão, na freguesia da Trafaria, é um bairro precário do concelho de Almada, distrito de Setúbal, com mais de três mil pessoas, que há cerca de 40 anos se começou a formar ilegalmente, uma condição que se mantém, assim como as carências habitacionais, a falta de luz, de esgotos ou de limpeza nas ruas.

Segundo Torrão. Viver num bairro de lata no século XXI
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