18 out, 2022 - 09:37 • Olímpia Mairos , com Redação
É pouco comum existirem moscas no outono, mas a verdade é que este outono também não tem sido como o dos outros anos. A ausência do frio é uma das justificações para o número anormal de moscas que não estar a dar descanso de norte a sul do país.
Nalgumas zonas, é difícil não notar a sua presença, até porque, além de incómodos, os insetos são persistentes, como confirmam os lisboetas ouvidos pela Renascença.
É o caso de Ilda, que aponta o quão "incómodas" são as moscas.
"Tem sido demais", acrescenta Francisco Dias. "Deixam as pessoas maldispostas, porque são mesmo nojentas. Estão sempre em todos os espaços: dentro dos autocarros, nas nossas casas... é uma coisa esquisita, mas é verdade, isto torna-se incómodo."
Também o taxista Victor Geirinhas nota que há “muita mosca, muita mosca”, relatando: “Durante um almoço de família arranjei um leque e fui o abanador de serviço.”
João Campelo fala de uma experiência num dia quente em que teve de estar sempre a “enxotá-las e elas sempre a atacar”, explicando que, “à medida que ia ficando um bocadinho mais suado, e irritado, pior era”.
De acordo com Filipe Nunes, investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, “parece haver um número de moscas bastante mais alargado do que seria habitual nesta altura”.
“As que nos estão a causar mais chatices são as moscas domésticas, que vivem muito em zonas urbanas e são relativamente chatas. Por exemplo, a mosca doméstica está a uma temperatura ótima a rondar os 25 graus, e, portanto, entre os 20 e os 30 graus estão às mil maravilhas e nós temos estado com temperaturas dentro destes valores”, assinala.
Uma das principais razões para a existência de tantas moscas, nesta altura do ano, tem a ver com as temperaturas que se fazem sentir. Mas não só: o lixo nas ruas também contribui para o fenómeno.
“Continuamos com temperaturas ótimas para as moscas, e pouca chuva, embora obviamente poderá haver outros fatores. Por exemplo, para o desenvolvimento das moscas facilita a disponibilidade de alimentos, e são moscas que se podem alimentar em zonas urbanas: alimentos nas nossas cozinhas ou de lixo acumulado nas ruas, e também muitas vezes onde existe criação animal”, refere o especialista.
Este investigador alerta que além incomodarem, estes insetos podem representar riscos para a nossa saúde. Algumas espécies podem ser patogénicas.
“Poderá haver algum risco. As moscas, como sabemos, a mosca doméstica, a varejeira, são moscas que vão ter algum impacto na saúde, eu diria sobretudo, transportando agentes patogénicos", alerta.
Segundo o especialista, “as moscas pousam em locais que estão infetados e depois quando estão, por exemplo, nas nossas casas, poderão pousar nos alimentos que estão na cozinha ou em utensílios que nós usamos e assim poderão transportar agentes patogénicos, ou seja, micróbios, bactérias, vírus, etc, que podem causar doenças. Perante o aumento de moscas, obviamente que poderá começar a haver mais destes casos”, alerta.
No entender de Filipe Nunes, “devíamos começar a tentar estudar melhor, ou seja, perceber porque é que isto está a acontecer e perceber se vai passar a ser uma coisa mais recorrente”.