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Metro em Gaia. Idosas surpreendidas com perspetiva de demolição das suas casas

15 out, 2022 - 14:35 • Lusa

Estudo da nova linha Rubi do Metro do Porto contempla a demolição das casas onde vivem há 35 anos. Em causa está a construção da linha Rubi, prevista no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).

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Três idosas moradoras em Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia, mostraram-se surpreendidas com o estudo da nova linha Rubi do Metro do Porto, que contempla a demolição das suas habitações.

"A casa já é nossa há 35 anos, sabemos e conhecemos aqui tudo à volta, as pessoas também nos conhecem, estamos aqui ambientados, fomos apanhados de surpresa. Não dormi, esta noite", disse à Lusa Helena Vilela, de 70 anos.

A residente na rua António Rodrigues da Rocha considera a situação "um descalabro, uma falta de respeito pelas pessoas", acrescentando que soube da situação relativa à sua casa através da Internet e "não houve uma palavra" da parte da Metro do Porto.

"Acho isso um escândalo. Tenham vergonha. Não veio uma pessoa aqui tocar à porta, bater, esclarecer-nos, mandar uma carta", afirmou, à porta de sua casa.

A construção da nova estação de Santo Ovídio, em Vila Nova de Gaia (distrito do Porto), englobada na empreitada da linha Rubi (Santo Ovídio - Casa da Música) implica que "será necessário demolir a totalidade das construções existentes na parcela limitada pela Rua António Rodrigues Rocha (a norte) e o largo da Igreja Paroquial de Santo Ovídio", segundo o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) apresentado na quarta-feira.

"Estou revoltadíssima, assim como pessoas que me rodeiam aqui à volta, que são vizinhas, com uma certa idade. Inclusivamente, está aqui uma senhora ao lado que eu nem sequer tenho a coragem de lhe bater à porta, porque tenho medo que ela se aflija", disse Helena Vilela.

A moradora é também mãe de um filho com trissomia 21, vivendo numa zona "onde ele se desloca para a escola e para as atividades extra-escola sozinho, apanha transportes porque os transportes estão muito próximos, o hospital está muito próximo, e ele nasceu quase aqui, veio para aqui com 2 anos e está aqui ambientado".

Também Maria Albina Fernandes, de 80 anos, disse que até teve "que tomar um Victan [medicamento para a ansiedade], porque não queria acreditar" na possibilidade da demolição da sua casa.

"Já me tinham dito uns colegas", acrescentou, confirmando que não recebeu "nada" em termos de comunicação oficial, e considerando a situação "uma ingratidão, uma asneira".

Já Fernanda Sousa, também de 80 anos, "não sabia de nada" até agora. "Estou surpresa, é uma novidade para mim, e estou revoltada. Já não tenho idade para estas coisas. Ninguém nos disse nada. Ninguém tocou à campainha, nada, nada", lamentou.

Moradores afetados informados após haver Declaração de Impacto Ambiental

Contactada pela Lusa, fonte oficial da Metro do Porto referiu que "o projeto só está pronto para ser lançado a concurso quando tiver a Declaração de Impacto Ambiental [DIA]", e nessa fase é que deverão ser informados os moradores afetados.

A mesma fonte adiantou que "é sempre possível que a DIA ou seja condicionada ou proponha alterações pontuais", abrindo também a possibilidade a que "mesmo antes da DIA o propor", a Metro do Porto identifique situações "que podem ser melhoradas e resolvidas".

"Neste caso, quando avançarmos para concurso, aí vamos tratar de ver quais são as parcelas e qual é a solução", referiu a mesma fonte, descartando que nesta fase exista a necessidade de "tomar a iniciativa de falar", pelo facto do projeto ainda não estar fechado.

O cenário da demolição das habitações entre a rua António Rodrigues da Rocha e a igreja de Santo Ovídio acontecerá, segundo o resumo não técnico, "independentemente da solução selecionada para o túnel a oeste", para o qual o estudo apresenta duas soluções: a base e a alternativa.

No vídeo apresentado pela Metro do Porto para a zona, bem como nos documentos do EIA, é visível que a quase dezena de moradias atualmente no local dará lugar à nova estação de Santo Ovídio, que ligará a linha rubi à linha Amarela (Hospital de São João - Santo Ovídio, e atualmente em obras até Vila d"Este) e à futura estação de comboio de alta velocidade.

A solução base para a construção do túnel implica a demolição adicional de mais habitações, nomeadamente na Rua Conde D. Pedro, mas a solução alternativa, com desvio do túnel, evita a afetação.

Se forem demolidas as moradias na Rua Conde D. Pedro, em causa está a intervenção, à superfície, na Zona Especial de Proteção da Escola Primária do Cedro (1958-1960), da autoria do arquiteto Fernando Távora, um edifício classificado como monumento de interesse público.

Em Gaia, as estações previstas para a linha Rubi são Santo Ovídio, Soares dos Reis, Devesas, Rotunda, Candal e Arrábida, e no Porto Campo Alegre e Casa da Música.

A construção da linha Rubi, prevista no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), custará 300 milhões de euros mais IVA, e deverá terminar no final de 2025.

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