03 out, 2022 - 09:58 • Fátima Casanova , Teresa Paula Costa
O caso chega ao Tribunal de Leiria, esta segunda-feira, após os pais do jovem nadador terem feito queixa junto do Ministério Público contra os treinadores que acusam de terem humilhado publicamente o filho e de o terem abandonado em território estrangeiro. Os três são ainda acusados de coação, assédio moral e bullying.
A mãe, que não quer que a família seja identificada com medo de represálias, disse à Renascença querer que “o processo avance o mais rápido possível, porque a situação não pode “passar impune”. Explica que “o que está em causa é a humilhação para com o filho” e lembra que queriam “rapar a cabeça do filho à força”, mas que este recusou e teve de se esconder.
Revela que praxe era habitual para os nadadores que competiam pela primeira vez em Espanha, mas como o filho recusou terá sido “largado” num parque de estacionamento em Badajoz.
A mãe contou ainda que o jovem precisou de acompanhamento psicológico e que desde a primeira hora contou com o apoio do clube que representava.
A direção da Associação Desportiva, Cultural e Recreativa do Bairro dos Anjos é contra as praxes. O vice-presidente Carlos Gonçalves disse que só três dias depois do acontecido é que tomou conhecimento e, de imediato, disponibilizou apoio psicológico.
“Isto aconteceu numa sexta-feira e tivemos conhecimento na segunda-feira com uma reunião com os pais e, na mesma hora, o clube disponibilizou o psicólogo para ajudar”, revelou à Renascença, reconhecendo que só na altura perceberam “que estas situações já se tinham passado”.
Como João Paulo Fróis tinha excluído o atleta do clube, “decidimos pô-lo a praticar uma outra modalidade para manter a condição física, onde está incluída a natação”. Foi sempre acompanhado por colegas da outra modalidade, por forma que fosse garantida a sua segurança.
No clube todos eram informados da oposição às praxes, mas, para prevenir futuras ocorrências, vai haver um documento escrito. Segundo Carlos Gonçalves, “vão continuar a lutar, começando por obrigar todos os colaboradores a assinar um documento que está a ser elaborado por um advogado por causa das praxes, humilhações e outros maus-tratos.”
Os três treinadores envolvidos foram sancionados pelo clube.
A João Paulo Fróis, o coordenador da natação de competição, foi instaurado um processo disciplinar, além de ter sido despedido com justa causa, sendo, por isso, suspenso do trabalho.
Pedro Silva, o treinador do escalão infantil, que também ia na viagem foi alvo de um processo disciplinar.
Filipe Gomes, que, entretanto, “se despediu do clube e formou o Clube Náutico de Leiria” e terá sido “quem transportou a máquina de rapar o cabelo e executou a praxe”, poderá também ser alvo de um processo-crime, dado que o clube já entregou o caso a um advogado para abrir o processo, dado que “ele executa uma coisa com a qual o clube não pactua”.
Já o coordenador de natação fala em “praxe pacífica”. Contactado pela Renascença, o coordenador de natação de competição rejeita as acusações.
João Paulo Frois não quis gravar declarações e remeteu para o comunicado, onde refere que “a praxe decorreu de forma pacífica e sem a sua presença”. Garante “não ser verdade que tenha alinhado e incentivado qualquer violência psicológica ao atleta, sendo igualmente falso que tenha promovido a sua humilhação pública”.
O treinador alega ainda ser falso que o jovem tenha sido abandonado no parque de estacionamento do complexo de piscinas de Badajoz.
O presidente da Federação Portuguesa de Natação admite que a praxe é habitual como “aceitação no grupo de trabalho” e “não vê mal que isso aconteça”, desde que não ponha em causa “aquilo que são os direitos, as liberdades e garantias de cada uma das pessoas”.
António Jose Silva diz que também foi atleta e treinador de natação e, por isso, “sabe o bem o que se passa”.
A Federação Portuguesa de Natação aguarda, entretanto, o desfecho do processo na justiça e também dos processos disciplinares instaurados pelo clube para decidir sobre os passos a dar relativamente aos três treinadores.