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Adriano Moreira festeja centenário com 100 "ilustres" transmontanos

05 set, 2022 - 20:00 • Pedro Valente Lima

Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa promove uma homenagem ao homem nascido em Grijó de Vale Benfeito, Macedo de Cavaleiros, que foi preso pela PIDE, foi ministro de Salazar e liderou um dos partidos fundadores da Democracia.

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Um século de vida, entre o Estado Novo e a Democracia, entre a política e a academia. Adriano Moreira faz cem anos na terça-feira, dia 6, e vai ter direito a uma homenagem.

A cerimónia, marcada para as 10h00, no Pavilhão do Conhecimento, é organizada pela Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro de Lisboa, associação que, de acordo com o seu presidente, Hirondino Isaías, pretende homenagear o "nome maior da região".

"Acho que todo o transmontano se revê na postura que ele sempre teve ao longo da vida", sublinha Hirondino Isaías, em declarações à Renascença.

"É, provavelmente, o único português vivo que é respeitado vindo de regimes totalmente distintos", reforça.

A organização convidou para a homenagem várias das instituições a que Adriano Moreira "esteve ligado, onde lecionou, onde foi presidente", como a Sociedade de Geografia de Lisboa, a Academia das Ciências de Lisboa, a Ordem dos Advogados, o Instituto Universitário Militar ou ainda a Universidade de Lisboa.

O presidente da Câmara de Macedo de Cavaleiros, Benjamim Rodrigues, e o líder do CDS-PP, Nuno Melo, também marcarão presença na cerimónia. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, deverá também comparecer.

Mais de 200 pessoas deverão estar presentes, embora a família tenha pedido aos promotores para que o evento decorra do modo mais discreto possível.

A homenagem terá a particularidade de motivar a condecoração de uma centena de personalidades de Trás-os-Montes. "Há quem coloque um bolo com cem velas e nós colocamos cem ilustres a receber um certificado para comemorar os cem anos dele. Ou seja, um por cada ano de vida dele", explica o presidente da casa regionalista.

A organização irá reconhecer figuras como a pintora Graça Morais, a deputada Edite Estrela, a jornalista Dina Aguiar ou os futebolistas Pizzi e Simão Sabrosa. Na lista, encontram-se ainda honras a título póstumo, como a que será concedida a António Passos Coelho, pai do antigo primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho.

"Qualquer transmontano e alto-duriense tem que se sentir honrado por todo o percurso que Adriano Moreira fez", diz, ainda, o presidente da Casa de Trás-os-Montes e Alto Douro.

"Ele é um grande exemplo para todos nós e tomáramos muitos de nós ter um pouco da sua projeção e um pouco da sua imagem", remata.

A mais mediática descendente de Adriano Moreira, Isabel, a quarta dos seis filhos do professor e dirigente político, diz à Renascença que "é difícil descrever em palavras" o significado desta "data fortíssima".

"É um século de vida de uma pessoa que abraçou décadas impressionantes da nossa história, mas que, ao mesmo tempo, é o nosso pai. Portanto, é um misto de emoções enorme", confessa.

A deputada do PS diz-se feliz por assistir ao reconhecimento recente das "muitas facetas" do pai: "Na vertente política, na vertente universitária, na vertente de pensador..."

"Claro que as conhecemos, mas, vendo-as revisitadas, de uma forma aprofundada e de uma maneira tão acarinhada, é, de facto, muito emocionante."

Ao percorrer as memórias, Isabel Moreira recorda um pai que "deu sempre um amor incondicional" aos filhos.

"Deu-me todas as ferramentas que eu poderia sonhar em termos de vontade de querer saber, procurar, descobrir, ser eu própria, ser livre e ser apoiada incondicionalmente", revela.

Desvalorizando as eventuais divergências políticas e partidárias, a deputada destaca que herdou o essencial do pai: "Em termos de valores fundamentais, como o apego a um certo sentido de justiça, acho que isso foi passado a todos e a todas de uma maneira muito forte. Nesse sentido, acho que foi um pai que nós podemos olhar para ele e dizer todos os dias: 'obrigada'."

Adriano Moreira é uma das figuras marcantes dos cenários político e académico do último século em Portugal. Nascido em Macedo de Cavaleiros, doutorou-se em Direito e cedo enveredou pela carreira de professor universitário. Entre muitos outros cargos, foi presidente da Academia das Ciências de Lisboa.

No panorama político, durante o Estado Novo, fez parte da delegação portuguesa nas Nações Unidas e foi, posteriormente, ministro do Ultramar. Saiu porque Salazar discordou de muitas das medidas que defendia para o Ultramar.

Já em democracia, Adriano Moreira foi deputado do CDS-PP entre 1979 e 1995, tendo sido presidente do partido por duas ocasiões. Recentemente, entre 2015 e 2019, foi membro do Conselho de Estado.

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