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Aumento do custo de vida. Cabaz alimentar está mais caro 23 euros

19 ago, 2022 - 19:12 • Sérgio Costa , Isabel Pacheco , Rosário Silva

Desde o início da guerra na Ucrânia, ir ao supermercado ficou mais caro cerca de 13%. As contas são da Associação de Defesa do Consumidor. A situação reflete-se também nas instituições que fornecem refeições, alerta a Caritas Portuguesa.

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Desde que a guerra na Ucrânia começou, os preços dos bens alimentares não param de aumentar. Um cabaz de bens essenciais está agora mais caro 23 euros, pelas contas da DECO, a Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor.

Segundo a DECO, a subida atingiu os 12,6%, no preço dos bens alimentares, considerados essenciais, nos últimos seis meses.

A carne, peixe e lacticínios foram as categorias de alimentos que mais subiram, com a carne a registar um aumento de 17,47%, e o peixe, na ordem dos 14,90%.

Na análise da Defesa do Consumidor que, desde final de fevereiro, monitorizou o preço a 63 produtos alimentares essenciais, surgem o óleo alimentar, a farinha para bolos e a pescada fresca, como sendo os bens que mais encareceram, com um aumento igual ou superior a 30%.

Seguem-se o frango, o bife de peru e a bolacha Maria, bens que registam um aumento entre os 26 e os 29%.

Feitas as contas são mais 23 euros no preço de um cabaz de produtos essenciais que, nesta altura, e seis meses depois do início da guerra da Ucrânia, custa, em média, 206 euros e 77 cêntimos.

Numa nota enviada à Renascença, a associação justifica este aumento com o facto de Portugal estar “altamente dependente dos mercados externos para garantir o abastecimento dos cereais necessários ao consumo interno”, que “representam atualmente apenas 3,5% da produção agrícola nacional: sobretudo milho (56%), trigo (19%) e arroz (16%).

“E se no início da década de 90 a autossuficiência em cereais rondava os 50%, atualmente, o valor não ultrapassa os 19,4%, uma das percentagens mais baixas do mundo e que obriga o País a importar cerca de 80% dos cereais que consome”, acrescenta a Deco.

O organismo esclarece que “a invasão da Rússia à Ucrânia, de onde provém grande parte dos cereais consumidos na União Europeia, e em Portugal, veio, por isso, pressionar ainda mais um setor há meses a braços com as consequências de uma pandemia e de uma seca com forte impacto na produção e na criação de stocks”.

Para além disso, aponta “os consecutivos aumentos dos preços ao consumidor, nomeadamente em produtos como os combustíveis e a alimentação, estão a contribuir para um aumento da taxa de inflação”.

“De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), a taxa de inflação acelerou para 9,1% em julho deste ano. Expressa em percentagem, a inflação traduz a subida média do nível de preços num determinado período”, conclui a DECO.

Famílias e instituições optam por produtos mais baratos

Mas a carestia não atinge apenas as famílias. O impacto do aumento do preço da alimentação recai também sobre as instituições que fornecem refeições e que já sentem muitas dificuldades, alerta a presidente da Caritas Portuguesa.

“Essas instituições estão a ter um aumento enorme, não no cabaz, mas no custo da alimentação que dão nas cantinas, nos apoios domiciliários ou nos lares”, menciona, Rita Valadas.

“Todas estas instituições estão com um aumento do custo da sua resposta, com consequências para todas estas pessoas que estão apoiadas pelas respostas sociais, e ainda não temos as escolas abertas, pois quando abrirem vamos sentir isso também, nas cantinas”, adverte a responsável.

A este alerta junta-se uma outra preocupação que se prende com o facto de muitos portugueses estarem já a abdicar de comprar determinados produtos na hora de ir ao supermercado.

“As famílias têm a tentação de deixar de comprar produtos que são mais caros, substituindo-os por outros menos caros. E, enquanto conseguirem fazer isto, não recorrem aos apoios, sobretudo aquelas pessoas que são mais envergonhadas”, afirma, a presidente da Caritas Portuguesa.

Substituir um produto mais caro, por um mais barato, acaba por ser uma estratégia que as famílias e instituições adotam para fazer face ao aumento do preço da alimentação.

Aumento de preços pode ter chegado ao limite

A Renascença procurou saber se esta tendência de subida do preço dos bens alimentares vai continuar.

Eventualmente, poderá ter já chegado ao seu limite. É, pelo menos, a expectativa do economista João Duque que acredita que os preços poderão, a partir de agora, estabilizar.

“Já se está a observar um crescimento cada vez menor, de mês para mês e isto pode significar que estamos a chegar ao cimo, digamos assim, daquilo que é o valor, o preço, o custo, daquilo que é o cabaz de bens alimentares. Se assim for, isto pode querer dizer que a grande pressão já passou. Estamos a chegar ao limite da pressão que é feita sobre as nossas bolsas”, defende.

Para minimizar o impacto da subida de preço dos bens alimentares na vida das famílias, o economista defende uma baixa de impostos.

“Com a subida dos preços, o IVA acompanha com mais 23% e, nessa medida, o aumento dos preços tem sido positivo para a execução orçamental. Claro que há sempre destino a dar a este dinheiro, mas uma das hipóteses, claramente, seria a redução da taxa aplicável aos produtos, que se possam integrar naquilo que são taxas mais favoráveis ao consumidor”, alude o economista.

Por outro lado, aliviar os encargos sobre o setor agrícola, pode ser um outro caminho a seguir.

“O estímulo à contratação e à contratualização de compra a prazo de bens e produtos agrícolas, fertilizantes, etc, no mercado internacional, de maneira a evitar estes preços e, na expetativa de que venham a subir mais, procurar fazer alguma gestão do risco, evitando esses impactos que possam advir para o futuro”, sugere, João Duque.

O especialista lembra que “o aumento dos produtos agrícolas” é “fortemente influenciado pelo aumento dos combustíveis”, por isso, propõe que o Governo dê uma ajuda, uma vez que “tem espaço ao nível da redução da carga fiscal”.

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  • Cidadao
    20 ago, 2022 Lisboa 11:45
    Se há fatores que não se podem controlar, como os preços do petróleo e combustíveis, há outros que podem e entre esses, o tecido produtivo primário é um deles. Se já se produziram 50% dos cereais que consumimos, porque se produzem agora 19,4%? Não deixámos de comer, o que significa que importamos 80% de cereais. Esta situação tem de ser combatida. Em vez de declarações bombásticas e da retórica circular que não leva a lado nenhum, mas que é tão do agrado do governo quando confrontado com problemas reais e perguntas difíceis, a ministra da Agricultura que resolva este caso.

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