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​Pobreza. "Dar um cabaz alimentar é um penso rápido e não chega"

03 jul, 2022 - 12:12 • Henrique Cunha

“Há muita gente a trabalhar que é pobre” e é preciso respostas “ao nível governamental, alerta o presidente da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Setúbal.

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O presidente da União das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Setúbal (UDIPSS Setúbal) avisa que “a sociedade está cada vez mais pobre” e ter um emprego já não é sinónimo de segurança económica.

Em vésperas do arranque de um ciclo de debates, que junta as Uniões Distritais das IPSS de Lisboa, Setúbal e Santarém, Fernando Sousa, presidente da UDIPSS Setúbal, pede respostas “ao nível governamental para aliviar um pouco o empobrecimento”.

O responsável garante que “duplicou ou triplicou a população que se aproximou das instituições” para pedir ajuda, porque “a pandemia foi terrível”, ao deixar “muita gente sem emprego”.

Em entrevista à Renascença, Fernando Sousa entende que “há muita gente a trabalhar que é pobre porque aquilo que ganha não chega sequer para começar a vida; pois hoje em dia ter uma casa custa muito dinheiro e quem vive com ordenado mínimo vê-se aflito para arranjar casa”.

Por outro lado, o responsável alerta para o facto da inflação de preços provocada pela guerra na Ucrânia ter acrescentado dificuldade aos trabalhadores com ordenados mais reduzidos.

“Nós temos apoiado, sobretudo ao nível da alimentação, pois esse é o grande problema e, por exemplo, na instituição em que sou presidente, no concelho do Seixal, vamos dando alimentação a essa gente que trabalha connosco, porque com o dinheiro que ganham já não chega para comprar os alimentos”, revela.

Fernando Sousa afirma que "um simples cabaz alimentar, que se dá agora, não passa de um penso rápido que se está a colocar, pois não chega”. “Tem que haver mais qualquer coisa para aliviar o empobrecimento das pessoas", insiste.

“Encher depósito para apoio domiciliário custa o dobro”

O presidente da UDIPSS de Setúbal chama a atenção para a descapitalização das instituições e lembra que hoje “encher os depósitos de combustível só para apoio domiciliário custa o dobro e não somos compensados por isso”.

“Ainda há pouco recebi via email o valor da comparticipação da Segurança Social para a minha instituição que tem várias valências, como creche, lar de idosos, uma unidade de cuidados continuados, etc. E eu olhei para o valor que lá está e não chega para os salários dos funcionários. Como é que nós vamos nos organizar com o resto?”, pergunta.

O responsável quer respostas de “quem governa” e diz que o ciclo de debates que agora se inicia quer “despertar a sociedade para a dificuldade que está a acontecer e chamar a atenção do poder central e do poder local para tentarmos não agravar mais a situação, mas aliviar”.

“Os idosos continuam fechados”

Fernando Sousa recorda que “a pandemia deixou as pessoas muito frágeis, nomeadamente as pessoas idosas”.

Considera que “é preciso resolver outros problemas, nomeadamente a questão psicológica, porque os nossos idosos ainda continuam fechados”.

“E para ultrapassar esta fase, naturalmente com cautela, precisamos de gente. Precisamos de profissionais que possam levar as pessoas a ter uma vida mais alegre outra vez e mais descontraída”, defende.

Para discutir este e outros problemas, as Uniões das Instituições Particulares de Solidariedade Social de Lisboa, Santarém e Setúbal promovem um debate com “o objetivo de valorizar a importância económica e social das IPSS em Portugal”.

O ciclo de debates arranca esta terça-feira em Setúbal e prossegue com uma conferência em setembro organizada pela União Distrital de Lisboa, terminando com uma conferência organizada pela União de Santarém que debaterá a transferência de competências para as instituições na área social.

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