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Manifesto pede criação da especialidade de Medicina de Urgência

27 mai, 2022 - 07:46 • Anabela Góis , Olímpia Mairos

Mais de 1.200 médicos assinam este documento, que é conhecido no dia em que se assinala o Dia Internacional da Medicina de Urgência.

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Quando se assinala o Dia Internacional da Medicina de Urgência surge um manifesto assinado por mais 1.200 clínicos que denuncia o facto de Portugal não ter ainda criado a especialidade de medicina de urgência, ao contrário do que acontece com a esmagadora maioria dos países europeus.

Em declarações à Renascença, Vitor Almeida, da Sociedade Portuguesa de Medicina de Urgência e Emergência, explica que a ideia é criar equipas fixas e especializadas que possam reforçar o serviço de urgência do SNS que se tem revelado nos últimos tempos tão deficitário.

“Praticamente todas as especialidades hospitalares e não hospitalares, como é o serviço de urgência básica, acabam por fazer parte do seu horário no serviço de urgência. Isso cria uma dinâmica que pouco tem a ver com a dinâmica de equipa. Portanto, nós não temos equipas propriamente fixas naquela urgência a prestar serviço todos os dias. O médico faz hoje 12 ou 18 horas de urgência e depois faz o serviço normal”, refere.

O médico diz que “isto cria problemas logísticos e organizacionais para o próprio hospital, por exemplo, dentro do serviço, porque tem de se ajustar os recursos humanos do ponto de vista do médico àquilo que são necessidade do serviço de urgência e, por outro lado, cria de facto uma heterogeneidade formativa”.

“Nós não temos em Portugal formação contínua verificada e acreditava pela Ordem dos Médicos nesta área”, reforça.

A pandemia e a invasão da Ucrânia, com possível alastramento da guerra para o resto do continente europeu, tornou ainda mais emergente a criação desta especialidade. “O serviço de urgência e emergência também abrange essa área e abrange também a medicina de catástrofes e a medicina de conflito”, esclarece o clínico, lembrando que “a Covid-19 foi uma catástrofe biológica”.

“E neste momento temos a questão de risco de conflito na Europa que poderá arrastar-se e alargar sofrimento”, alerta Vitor Almeida, esclarecendo que os especialistas em medicina de urgência “estão preparados para este tipo de cenários, desde a utilização de equipamento próprio para abordagem de doentes politraumatizados com contaminação, por exemplo, seja radiológica, biológica e química; seja abordagem de um doente vítima de trauma, por exemplo, numa situação de um terramoto”.

“Para além da vertente normal, habitual, da medicina de urgência, têm essa preparação”, frisa, sublinhando que “Portugal não tem equipas devidamente formadas para esta resposta”.

O médico Vitor Almeida, que esteve na origem do manifesto, insta as autoridades competentes, nomeadamente a Ordem dos Médicos, o Ministério da Saúde e o Governo, a criarem a especialidade da medicina de urgência, uma lacuna no nosso sistema de saúde.

Atualmente, existe em Portugal uma competência em emergência médica, a que pode aceder qualquer médico, mas não há qualquer especialidade específica que englobe medicina de urgência e emergência.

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