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Organização da sociedade “leva a que o casamento seja pouco apelativo”

14 mai, 2022 - 08:30 • Henrique Cunha

Em declarações à Renascença, Francisco Pombas, da Pastoral Familiar, diz que está na altura de mudar para enfrentar os desafios do "inverno demográfico" na Europa.

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O problema do “inverno demográfico” em Portugal “é precipitado pelo aumento do número de divórcios e pelo facto de os portugueses casarem cada vez mais tarde”, afirma o diretor do departamento nacional da Pastoral Familiar, Francisco Pombas.

Em declarações à Renascença, Francisco Pombas destaca que os jovens continuam a ver na família um pilar fundamental, mas o problema reside na forma como a sociedade está organizada.

O responsável entende que merece particular reflexão a preocupante realidade demonstrada sobre “a redução do número de casamento e o aumento de divórcios, a que se junta o facto de a idade em que as pessoas resolvem casar ter vindo a subir de forma consecutiva”.

Francisco Pombas junta-lhe “o baixo número de pessoas que constituem as famílias, que é resultado do baixo número de nascimentos, do problema de natalidade que temos em Portugal, e que é transversal a toda a Europa”.

“Eu diria que esta questão do inverno demográfico, é em conjunto com as alterações climáticas, o tema mais preocupante para o mundo como o conhecemos e para o mundo ocidental e que, curiosamente, o Papa Francisco, em 2015 e 2016, lançou dois grandes documentos refletindo sobre isto”, afirma.

Francisco Pombas garante que “são temas que estão na agenda da Pastoral Familiar e que refletem claramente a realidade da nossa sociedade”.

Para o diretor do departamento nacional da Pastoral Familiar, a organização da sociedade “leva a que o casamento seja pouco apelativo”, assim como “o ritmo da nossa vida social que “nos dá um sentimento de preenchimento, embora esse preenchimento seja muito superficial”.

Por outro lado, o responsável não esquece “o stress com que vivemos, os baixos salários, a própria precariedade laboral, o preço da habitação”, fatores sociais que “levam a que se crie esta crise de números; do número de casamentos e de desvalorização da família”.

Francisco Pombas diz que “também há algumas questões socioculturais que não têm a ver com a organização da sociedade, e que dificultam que os jovens assumam opções permanentes, assumam opções para o resto da vida”, e que estão relacionadas com “a forma como encaramos aquilo que nós designamos pelo vínculo para toda a vida”.

Ainda assim, o responsável assegura que os jovens valorizam a família e que isso ficou bem claro no Sínodo dos Jovens em Roma, e sobretudo nas respostas aos inquéritos aí realizados em que os jovens afirmavam que a instituição que eles mais valorizam e em quem mais confiavam ainda era a família”.

“Portanto, os jovens continuam a ver na família um pilar fundamental. O problema é que a forma como a sociedade neste momento está organizada dificulta muito que isso se concretize na realidade”, sublinha.

As estatísticas das últimas décadas apontam para o facto de Portugal registar cada vez menos casamentos e revelam que os portugueses casam cada vez mais tarde.

Por outro lado, nota-se um progressivo aumento do número de divórcios de casamentos católicos.

Francisco Pombas afirma que “talvez o maior desafio que a Pastoral Familiar tem em Portugal é o de fazer uma preparação para o casamento que não seja exclusivamente uma preparação para a cerimónia e uma preparação para o sacramento em si”.

“Isso é importante, mas falta uma preparação com mais tempo para que aquele rapaz, aquela rapariga, percebam se, verdadeiramente, o passo que estão a dar é um passo para toda a vida e é um passo assente nos pilares que eu falei a liberdade, a fidelidade e a fecundidade”, defende.

O responsável diz que “esse trabalho preparatório é um grande desafio para as estruturas da pastoral familiar em Portugal”.

Francisco Pombas insiste na necessidade de melhorar os cursos de preparação para o matrimónio, até porque no momento atual o número de casos de divórcio não se diferencia pelo facto de o casamento ter sido apenas civil ou por ser um casamento católico.

“É fundamental que os noivos que se preparam para o matrimónio percebam se aquela pessoa é realmente a pessoa com quem querer partilhar o resto das suas vidas”, conclui.

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