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Entrevista à Renascença

Soluções para o SNS. Antigo ministro da Saúde sugere “pensar fora da caixa”

28 abr, 2022 - 08:04 • Anabela Góis

À Renascença, Adalberto Campos Fernandes admite que o setor privado se tornou um competidor muito forte e defende que os problemas do Serviço Nacional de Saúde não se resolvem com soluções simples. O antigo governante lança hoje o livro “Saúde em Portugal – pensar o futuro”, que reflete a visão de um conjunto de personalidades com uma vasta experiência nas áreas sociais e da saúde.

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Adalberto Campos Fernandes defende uma outra maneira de pensar para resolver o problema da falta de profissionais no Serviço Nacional de Saúde (SNS). O antigo ministro da Saúde considera que o Estado não tem capacidade para competir com o setor privado, que tem muita força em Portugal. A solução deve, por isso, passar por contratos de cooperação mais efetivos e novos modelos de carreiras profissionais.

“Num jogo de confrontação ou de disputa dos profissionais por questões remuneratórias, o Estado fica sempre a perder pelas razões que são conhecidas”, afirma, para logo acrescentar que “o Estado não tem apenas o setor da saúde – tem um conjunto grande de áreas a que tem de responder”.

“Talvez fosse bom pensar fora da caixa e encontrar soluções baseadas, por um lado, num modelo mais mobilizador de projeto profissional, mas também em modelos de cooperação que fossem mais efetivos”, defende em entrevista à Renascença.

A falta de médicos e enfermeiros no serviço público é um dos temas que merecem reflexão no livro lançado nesta quinta-feira e que junta a análise de um conjunto de atores relevantes no setor da saúde, incluindo antigos ministros e responsáveis pelo setor social e privado, numa iniciativa que pretende projetar o futuro.

“Saúde em Portugal – pensar o futuro” é o título da obra que contou com a coordenação de Adalberto Campos Fernandes, para quem Portugal tem dificuldade em fazer a avaliação de políticas. Como exemplo, dá a situação no hospital Beatriz Ângelo, em Loures, que perdeu dezenas de especialistas, sobretudo anestesistas, desde que deixou de ter gestão clínica privada e voltou para a esfera pública.

“É um problema que se coloca em Portugal com grande acuidade, porque o grande dinamismo que o setor privado adquiriu nos últimos anos tornou-o um competidor muito forte por esses recursos”, reconhece o antigo ministro.

No seu entender, muitas vezes, “políticas que possam ter um caráter mais impulsivo, ao contrário de darem bom resultado, podem dar um mau resultado. E isso tem a ver com a avaliação e com a ponderação. Enfim, a questão de Loures é um exemplo concreto de como uma decisão incorre num resultado inconveniente. Mas não se trata apenas de Loures”.

Adalberto Campos Fernandes acredita que problemas complexos nunca têm soluções simples, pelo que não vale a pena pensar que os problemas do SNS se resolvem com mais dinheiro ou que a falta de médicos no setor público se resolve com a abertura de mais universidades e mais cursos.


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É a relação de fronteira entre o setor público, social e privado que tem de ser trabalhada.


“Podemos continuar a formar mais médicos – e essa é uma questão que pode ser discutida – mas podemos estar a formá-los para que eles possam circular pela Europa, trabalhar noutros países, até no espaço extracomunitário. Uma medida aqui em concreto, sozinha, não resolve o problema e também não será com o ‘dumping’ das profissões, não será de facto com uma formação massiva – onde há o risco de a qualidade se perder – que nós vamos resolver um problema estrutural de relação” defende.

“É a relação de fronteira entre o setor público, social e privado que tem de ser trabalhada, do meu ponto de vista, através de soluções que são de cooperação e não de confrontação, porque em situações de confrontação tende a ganhar o mas forte ou o mais poderoso – e, neste caso, o mais forte é o que tem condições”, sustenta o antigo ministro da Saúde.

O livro “Saúde em Portugal – pensar o futuro” é lançado nesta quinta-feira. Reflete a visão de um conjunto de personalidades com uma vasta experiência nas áreas sociais e da saúde e pretende suscitar o debate dos principais desafios que se colocam aos portugueses, na próxima década, neste domínio.

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