10 mar, 2022 - 07:57 • Liliana Monteiro
A proposta de Orçamento do Estado para 2022, que foi chumbada na generalidade em outubro do ano passado, previa um gasto de 2.451,3 milhões de euros com o setor da Defesa Nacional, ou seja, mais 28,5 milhões que no ano anterior.
Se recuarmos no tempo, percebemos que, em três anos, a verba atribuída a este setor aumentou em 83,9 milhões: 2019- 2.338,9% ; 2020- 2.445,7% ; 2021-2.422,8%.
No último ano - e por ramos da Defesa - a maior fatia de despesa consolidada foi atribuída ao Exército (ramo com mais meios e valências espalhadas territorialmente e frequentemente envolvido em missões no estrangeiro) seguindo-se depois a Marinha e por fim a Força Aérea. A Despesa com pessoal representou 46,8% e para forças nacionais destacadas foram destinados 63 milhões de euros.
A Lei de Programação Militar (LPM) recebeu uma das maiores dotações orçamentais em 2021 com previsão de mais 21,3 milhões em 2022. A LPM define os investimentos no reequipamento das Forças Armadas até 2030 e é um dos capítulos que fez crescer a verba da Defesa no último Orçamento do Estado e muito previsivelmente no próximo.
2021 contou ainda com uma dotação para reformas e pensões mais reduzida que em 2020.
O investimento em Defesa “gera valor acrescentado na investigação, na indústria, na inovação e contribuirá para a recuperação, a renovação e a internacionalização da economia portuguesa”, lê-se no relatório que acompanhava a proposta do OE2022 que acrescentava ainda que “este investimento será crucial na projeção internacional do país, assegurando o cumprimento cabal das missões de paz e segurança internacionais, nomeadamente no quadro da ONU, da UE e da NATO”.
Na sequência do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, o ministro da Defesa, João Gomes Cravinho, admitiu já aumentar o Orçamento das Forças Armadas nos próximos anos, sublinhando que todos os países da NATO têm de reforçar o investimento militar.
Hora da Verdade
Imitar a Alemanha com 2% do PIB para a Defesa? “Ob(...)
O Orçamento da Aliança Atlântica é composto por uma partilha de custos e assenta numa fórmula relacionada com o Produto Interno Bruto de cada país membro, ao todo, 30 países.
A meta estabelecida pela NATO é de um contributo de 2% do PIB até 2024. O Governo português ainda não chegou lá, assim como vários países membros.
Em 2017, Portugal contribuiu com 1,24% do PIB, ou seja, 2.398 milhões de euros para a NATO; em 2018, foram 1,36%, representando 2.728 milhões.
Este ano de 2022, o contributo português para o pacote europeu de apoio militar às forças armadas ucranianas será entre 8 e 10 milhões de euros.
Em 2018, o primeiro-ministro António Costa identificava as áreas a investir: programas de investigação e desenvolvimento nas ciências do espaço, desenvolvimento de aparelhos não tripulados (navais e aéreos), vestuário e calçado. O que não surge no discurso do investimento é o reforço de efetivos.
Fontes militares apontam para a falta de três mil militares, lembrando que seria ainda necessário resolver discrepâncias nos vencimentos das funções mais baixas das Forças Armadas em relação às várias categorias e por comparação às forças policiais da GNR e PSP.
A Alemanha, por exemplo, anunciou já que as forças armadas vão ter uma verba extraordinária de 100 mil milhões de euros para equipamento, com o país aumentar o investimento anual em Defesa para mais de 2% do PIB e diz ser esse o plano para os próximos anos.
A França, que fez, em 2018, um aumento significativo das contas da defesa, já veio recentemente dizer que não pretende dar mais dinheiro à NATO.
Em 2020, o Reino Unido fez o maior investimento na indústria da Defesa dos últimos 30 anos, a justificá-lo o facto de considerar que já na altura a situação internacional era “mais perigosa e intensamente competitiva” que nunca desde o período da Guerra Fria. A revisão do orçamento de Defesa acrescentou mais 18,5 mil milhões de euros de investimento até 2024.
Também os Estados Unidos, membro da NATO, aumentaram o orçamento da defesa para os 677 mil milhões de euros com grande aposta no nuclear e prevendo um aumento de salário de 2,7% pra os militares.
O Fundo Europeu de Defesa (FED) está ligado à implementação da Estratégia Global da UE para a Política Externa e de Segurança em matéria de segurança e defesa. No orçamento de longo prazo da UE para o período de 2021-2027, a Comissão propõe aumentar a autonomia estratégica da UE, fortalecer a capacidade de proteger os seus cidadãos e reforçar a posição da UE a nível mundial, com um total 13 milhões de euros.
Numa revista da área e abordando a questão dos orçamentos de defesa nos países industrializados, o Tenente-general Pilav Alfredo Pereira da Cruz sublinha que "os custos com a defesa das nações estão intimamente ligados com a segurança e com a previsibilidade da guerra (...).”
“O paradigma da segurança das nações está a mudar vertiginosamente, as metodologias, onde assentam o planeamento e a elaboração dos orçamentos de defesa, já respondem mal às reais necessidades da segurança dos cidadãos. Na tentativa de resolver o aumento exponencial dos armamentos e dos custos dos recursos humanos, que oneram extraordinariamente os gastos com a defesa global, nomeadamente, nos países mais desenvolvidos, América do Norte, Europa e Extremo Oriente, as governanças dos Estados têm procurado parcerias de defesa com empresas privadas”, diz.
Contas feitas, são 1.049 militares, sete aeronaves, um navio e 162 viaturas táticas. Meios disponíveis para serem ativados numa força de elevada prontidão de até sete dias, designada “Very High Readiness Joint Task Force”. A NATO decidiu, de forma unânime, "reforçar" a presença militar junto à Ucrânia, Portugal antecipou por isso o envio de militares, será uma companhia de infantaria colocada estrategicamente na Roménia composta por 174 militares.
A NATO pediu aos estados-membros uma aposta de 20% do orçamento. Nessa meta estão incluídos países como a Croácia, Luxemburgo, Grécia, Noruega, Estados Unidos e Itália. Abaixo da meta surge Portugal e países como a Alemanha, Bélgica, Canadá e Eslovénia.
Em 2021, tínhamos 29 mil efetivos, menos mil militares que em 2014.
A tabela é liderada, naturalmente, pelos Estados Unidos, seguido da Turquia, França, Alemanha, Itália, Espanha, Polonia e Grécia. No final, com menos militares, surge o Luxemburgo antecedido por Montenegro, Macedónia, Estónia, Albânia e Letónia.
O orçamento civil (pessoal civil, custos operacionais e despesas com programas civis) aumentou 8,9% em relação a 2021 e é de 289,10 milhões. Já o orçamento militar (custos operacionais do quartel-general, programas, missões e operações da estrutura de comando da NATO em todo o mundo) fixou-se nos 2.728 milhões de euros, sofrendo uma redução de 3%. Além dos orçamentos civil e militar, o terceiro principal elemento de financiamento comum da Aliança é o Programa de Investimento em Segurança da NATO, que cobre investimentos em construção e sistemas de comando e controlo e que fixou o seu limite máximo para 2022 em 790 milhões de euros.
De acordo com informação da NATO, entre o período temporal de 2014 e 2021 foi a Grécia quem dedicou mais orçamento, 3.82%. Entre os países que cumpriram - e até superaram - o pedido de 2% dedicado à defesa feito pela NATO estão os Estados Unidos com 3.52%, Croácia com 2.79%, Reino Unido com 2.29%, Estónia com 2,28%, Letónia com 2.27%, Polonia com 2.10%, Lituânia, Roménia e França. Portugal surge em 18º. lugar praticamente a par da Alemanha.