24 dez, 2021 - 11:26 • Rosário Silva
Por estes dias, muitos emigrantes portugueses estão a chegar ao país para passar a quadra natalícia.
Apesar do receio e da incerteza sobre a evolução da pandemia, muitos decidiram enfrentar as imposições e as limitações impostas para poderem estar, por pouco tempo que seja, com familiares e amigos.
É o caso de José Safara, emigrante na Suécia. Há dois anos estava na Irlanda, mas o ultimo passou-o na Suécia onde é camionista ao serviço de uma empresa na área das energias renováveis.
A Suécia que se destacou na gestão da pandemia por ter, no inicio, adotado uma estratégia mais branda, está agora mais desperta para a realidade, da qual pouco se fala, embora haja cumprimento das regras em vigor.
“A Suécia é muito mais livre, mas também há muito mais controlo”, diz à Renascença. “Não vemos pessoas juntas, vamos a um supermercado e não vemos umas em cima das outras, cada uma tem o seu espaço. Acho que há mais consciência, apesar de não se falar muito sobre a Covid, mas têm todas as precauções, embora não mostrem tanta aflição como cá em Portugal", refere.
Uma angústia que não o impediu de regressar à terra, onde tem mulher e dois filhos pequenos, apesar do controlo apertado, mas também de alguma confusão na chegada a Portugal.
“Fiz o PCR para poder viajar, cheguei ao aeroporto ainda me pediram o antigénio”, começa por contar. “Depois quando cheguei à Irlanda, como o voo não foi do mesmo bilhete, como tive de sair das portas de embarque para fora, fui obrigado a fazer outro antigénio para voltar a entrar.”
Mais confusa foi a chegada a Portugal. À saída do avião “ninguém respeitou ninguém” e, só depois “começou o controlo, onde tivemos de mostrar todos os documentos e testes que fizemos durante a viagem”.
Quem tinha tudo em ordem recebeu uma pulseira para poder passar. Para José Safara estava “tudo muito bem”, mas se esse controlo tivesse começado logo à saída do avião.
“Não eram deixarem desembarcar quatro ou cinco aviões que chegaram ali quase à mesma hora, com toda a gente junta, e só depois é que nos separaram quando foi dada a pulseira”, constata.
Apesar do stress, a vontade era só uma: abraçar os filhos. Este emigrante na Suécia passa a noite da Consoada com um número reduzido de familiares. Todos devidamente testados. Não tem grandes plano para estas férias, a não ser desfrutar do afeto da família.
“Não vamos para lado nenhum, vamos ficar por casa, os gaiatos gostam dos videojogos, vamos ver filmes e saímos só para o que for mesmo necessário, como ir às compras”, adianta este português de 43 anos.
Além do tempo também não estar convidativo ao passeio, José tem consciência que é necessário resguardo. “Não podemos pensar só em nós, mas temos de pensar também nos outros, por isso há que ter cuidado e evitar certas coisas”.
É, no fim de contas, prevenir para não ter que remediar e poder fazer a viagem de regresso, em segurança, depois destas festas.
Esta semana, recorde-se, o ministro dos Negócios Estrangeiros já tinha referido que muitos emigrantes portugueses viriam passar o Natal em Portugal, mostrando-se convicto da sua responsabilidade no cumprimento das regras de prevenção da Covid-19.
Em declarações aos jornalistas no final da apresentação do Relatório da Emigração 2020, que decorreu no Ministério dos Negócios Estrangeiros, em Lisboa, Augusto Santos Silva indicou que o panorama geral é de que existe "um movimento bastante significativo de portugueses ou lusodescendentes que vêm de diferentes países passar o Natal a Portugal".
"Basta ver as chegadas nos aeroportos de Lisboa e Porto para ver esse tipo de movimento de países como a França, a Suíça, o Reino Unido, o Luxemburgo, a Alemanha, países de grande expressão qualitativa e quantitativa das comunidades portuguesas", sublinhou.
Para Augusto Santos Silva estas comunidades portuguesas, têm "uma clara consciência e um claro conhecimento das regras".
"O número de pessoas que chegam sem cumprir a regra do teste negativo ou sem o certificado digital é absolutamente residual e também estão a cumprir as regras em Portugal: uso de máscara em espaços fechados, o distanciamento social, o evitamento de grupos e multidões", adiantou.
De acordo com o Relatório da Emigração 2020, apresentado na ultima terça-feira, em Lisboa, o número de emigrantes portugueses em 2020 foi o mais baixo dos últimos 20 anos, um valor para o qual contribuiu a Covid-19 e o `Brexit`.
Elaborado pelo Observatório da Emigração, um centro de investigação do ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, o relatório indica que, de 80 mil saídas em 2019, esse número baixou para 45 mil em 2020.
A redução foi geral, englobando praticamente todos os destinos tradicionais da emigração portuguesa.