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Clima contribuiu para bons resultados na época de incêndios

30 set, 2021 - 15:05 • Celso Paiva Sol

Ao contrário do que acontece quando o tempo severidade das condições atmosféricas dá origem a resultados negativos, desta vez o Ministério da Administração Interna não incluiu no seu balanço a influência do clima.

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A fase mais critica para os incêndios florestais chega ao fim com bons resultados, 2021 é o ano com menos ocorrências dos últimos 20, e o terceiro melhor em área ardida.

O sistema de prevenção e combate reivindica o sucesso das novas estratégias, mas é indiscutível que o clima ajudou. Portugal teve um verão ameno, e escapou ao caos que as alterações climáticas espalharam por boa parte da Europa.

Os 27 mil hectares consumidos pelas chamas desde o início do ano, constituem o terceiro melhor resultado das últimas duas décadas, só ultrapassado pelos 17.000 de 2008, e pelos 22.000 de 2014.

A melhoria face ao histórico dos últimos anos estende-se a quase todos os indicadores, com exceção do peso que apenas dois incêndios tiveram no resultado final. Castro Marim (6.629 hectares) e Monchique (1.915 hectares), ambos no Algarve, foram sozinhos responsáveis por um terço do total da área ardida até ao momento.

Positivo está também a ser o número de ocorrências. Nas mesmas estatísticas dos últimos 20 anos, não há registos inferiores aos 7.250 incêndios contabilizados desde o início do ano. A esmagadora maioria deles com origem negligente, e com áreas ardidas inferiores a um hectare.

A influência positiva do clima

Ao contrário do que acontece quando a severidade das condições atmosféricas dá origem a resultados negativos, desta vez o Ministério da Administração Interna não incluiu no seu balanço a influência do clima. E este ano, essa ajuda também foi decisiva.

Embora tenha sido o ano mais quente das últimas duas décadas na Europa, a verdade é que Portugal escapou a esse registo que tantas marcas deixou em vários outros países. O anticiclone da Escandinávia empurrou as depressões para a Europa Central, provocando por exemplo cheias pouco comuns na Alemanha e na Áustria, e o anticiclone dos Açores deslocou-se para Oeste deixando Portugal fora das elevadas temperaturas que fustigaram quase todo o sul da Europa.

Turquia, Grécia, Itália e Espanha não só tiveram temperaturas a rondar os 50 graus, como incêndios de grandes dimensões e consequências.

O verão em Portugal foi normal, sem anomalias dignas de registo, tanto no valor das temperaturas, como nos níveis de precipitação.

Vanda Pires, climatologista na divisão de clima e alterações climáticas do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) lembra que “tirando a semana de 10 a 17 de agosto, em que se registaram temperaturas um pouco acima dos 40 graus nalgumas zonas do país, não se registaram este ano situações extremas. Os valores foram sempre próximos, ou até inferiores ao normal”.

E isso, de acordo com os critérios em permanente atualização, fez com que “o risco de incêndio fosse em geral baixo ao longo de todo o ano. Desde o ano 2000, este ano foi de alguma forma anormal, porque apesar de ter tido temperaturas normais, não teve as situações excecionais que muitas vezes ocorrem no verão”.

Vanda Pires, autora do relatório climatológico do verão 2021 recentemente publicado, explica que o combate aos incêndios foi favorecido com “as noites mais frias e temperaturas mínimas baixas, as segundas mais baixas desde o ano 2000. Foram as noites frescas, e as madrugadas e as manhãs com nevoeiros e nebulosidade baixa, que não deixaram que as temperaturas subissem muito durante o dia”.

O país esteve praticamente dividido ao meio, com o litoral a ser bastante mais fresco que o habitual. “Este verão houve muita frequência de nevoeiros, nebulosidade baixa e às vezes com precipitação, que se prolongavam até ao final da manhã. E isso fez com que as temperaturas nas regiões costeiras não subissem tanto”.

A influência das noites frescas sentiu-se igualmente nas condições do chamado combustível disponível para arder, uma vez que “a humidade relativa do ar elevada associada a temperaturas não muito altas, fez com que o solo não secasse de forma critica”.

E até o vento, tantas vezes fator de risco e adversário no combate aos incêndios, deu este ano a sua ajuda. Vanda Pires explica que “foi um vento sobretudo de norte-noroeste, mais marítimo, mais costeiro, que traz humidade e não permite que haja uma secagem tão grande das florestas. Do solo e de todo o meio ambiente”.

Território em seca menos severa

Não foi um verão chuvoso, como aliás não tem sido nenhum dos últimos 20, mas a menor severidade geral do clima e a tal humidade relativa do ar que se estendeu das noites para os dias, fez com que a situação de seca seja este ano menos gravosa.

No final do verão 78% do território continental estava em seca meteorológica, mas apenas 2% em seca severa – mais concretamente o sotavento algarvio. As regiões do interior norte e centro estão em seca fraca, e algumas zonas de Lisboa, Setúbal e Bragança em seca moderada.

Uma situação “bem menos gravosa do que em vários anos anteriores, e com muito menos consequências” diz a climatologista Vanda Pires que lembra “os anos de seca de 2005, 2012, 2015, 2017 e 2019, bastante mais gravosos”.

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