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​Doentes Covid nos hospitais. São mais novos, sem vacina e chegam em estado mais grave

16 jul, 2021 - 07:30 • Anabela Góis

Perfil dos internados mudou. Têm em média 55 anos e ficam menos tempo nos cuidados intensivos. O coordenador da resposta dos cuidados intensivos na região de Lisboa e Vale do Tejo garante, no entanto, que a situação nos hospitais, para já, está controlada.

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Foto: Juan Ignacio Roncoroni/EPA
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Foto: EPA
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O perfil dos doentes internados nos hospitais com Covid-19 mudou. É o que explica à Renascença o coordenador da resposta dos cuidados intensivos na região de Lisboa e Vale do Tejo, António Pais Martins.

São mais jovens, a média agora é de 55 anos, e a maioria não tem qualquer dose de vacina feita. Ficam menos tempo nos cuidados intensivos, mas chegam ao hospital em estado mais grave da doença.

Pais Martins sublinha que a lotação dos hospitais está para já controlada e que as transferências de doentes que aconteceram foram preventivas. Acredita que estamos à beira do pico da quarta vaga, mas pede cuidados redobrados. “Estamos numa fase crucial da luta contra a pandemia”, remata.

Qual é a taxa de ocupação de camas em UCI na região de Lisboa? Estamos a aproximar-nos da fase crítica?

Temos 94 doentes internados em cuidados intensivos Covid de nível de gravidade 3 e temos 120 camas disponíveis, taxa de ocupação de 78%, ou seja, aquém da linha vermelhas dos 85% que não queremos ultrapassar. Até 85% temos rentabilidade em termos de recursos humanos e materiais e garantimos que nenhum doente fique à porta ou com espera prolongada para admissão em cuidados intensivos. Esse é o nosso objetivo. A expansão tem sido feita em função da procura e até agora a situação está perfeitamente controlada.

Mas já houve hospitais que foram obrigados a aumentar camas em enfermaria, como foi o caso de Santa Maria…

Sim, sem dúvida. Em termos de internamentos em enfermaria temos tido um crescimento exponencial. Temos 372 doentes internados em enfermaria para 411 camas afetas a doentes Covid, o que dá uma taxa de ocupação de cerca de 80%. Naturalmente a expansão é feita em função do número de doentes que necessitam de internamento. O Hospital de Santa Maria é um exemplo daquilo que foi feito em termos de aumento da capacidade, já para não falar do Centro Hospitalar Lisboa central que tem uma taxa de ocupação ligeiramente superior. A situação está controlada até ao momento.

Mas, entretanto, foram transferidos doentes porque é que foi necessário fazer isso?

É aquilo que nós chamamos “transferências profiláticas”, não porque não houvesse capacidade de internamento em unidades da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, mas nós baseamo-nos num funcionamos em rede, não só entre hospitais da região da Grande Lisboa, entre os três principais eixos de referências para doentes críticos que são encabeçados pelos três grandes centros hospitalares de Lisboa. Para não ultrapassarmos e para mantermos este funcionamento em rede foi decidida a transferências, até agora, de apenas dois doentes para fora da região. É uma situação perfeitamente controlada.

E em relação à média de tempo que os doentes passam em Unidades de cuidados intensivos, mantém-se igual ao que acontecia nas primeiras fases?

Não temos ainda números consistentes para afirmar isso, mas parece-nos que a média da duração de internamento tem vindo a diminuir ligeiramente. No Centro Hospital Lisboa Ocidental passamos de uma média de 12,4 dias para uma média de 10 dias o que é significativo e tem impacto na rotação de doentes, porque quanto menos dias os doentes passam internados, maior número de camas é liberto.

E isto deve-se a quê? Com a idade dos doentes ou com o facto de haver alguns vacinados?

Sim. Cerca de 20 a 30% dos doentes que nós temos admitidos tem uma toma da vacina, portanto, digamos que o seu estado imunológico ainda não está capaz de lutar totalmente contra a doença. Mas, esse fator aliado ao facto de a média de idade ter reduzido– neste momento posso dizer-lhe que dos 15 doentes internados nas duas unidades afetas a doentes Covid no Centro Hospital Lisboa Ocidental é de 55 anos, portanto a média desceu substancialmente - então temos doentes mais novos, com menos comorbilidades, e alguns deles sem comorbilidades que permitem esta redução da duração média de internamento na unidade.

Se a média é de 55 anos, que idade tem o mais novo nesta altura?

Posso dizer-lhe que esta noite procedi à intubação traquial e conexão ao ventilador de um jovem de 32 anos. Tivemos já uma jovem de 23 anos, portanto, têm aparecido aqui e além doentes na faixa entre os 20 e os 30… O grosso está naturalmente situado na faixa entre os 30 e os 45/50 anos, a maioria doentes não vacinados, à semelhança aliás do que acontece nos outros países.

E os doentes chegam numa fase avançada da doença?

Sim. Também é verdade que como são doentes de uma faixa etária mais nova, digamos que a reserva fisiológica é maior e, portanto, atrasam ou protelam a vinda à urgência e não é pouco frequente que o doente chegue à urgência já com uma pneumonia Covid e com uma doença Covid em fase já muito avançada. Muitas vezes o tempo que medeia entre a admissão do doente na urgência e a transferência para uma unidade de cuidados intensivos é realmente muito menor. Nós temos doentes que entram quase diretamente passado pouco tempo, e estou a falar nem menos de uma hora, e são admitidos numa unidade de cuidados intensivos.

Nestes últimos dias temos ouvido que estaremos muito perto de atingir o pico de casos da Região da Grande Lisboa. É essa a perceção que tem no dia a dia no hospital.? Já estaremos próximos do pico ou vamos continuar a crescer?

Eu sou um otimista por natureza e à semelhança da opinião de muitos colegas com quem contacto diariamente para discussão de casos e otimização de recursos, acredito que estaremos perto do pico, digamos assim, para depois atingirmos o planalto e começarmos a reduzir esta pressão que se faz ainda sentir nos hospitais da região de Lisboa.

Eu sei que todos nós estamos cansados - médicos incluídos - e queremos, como muitas vezes se ouve na Comunicação Social, voltar a viver, mas estamos numa fase crucial da luta contra a pandemia. E também é verdade que a pandemia não se controla dentro dos hospitais, a pandemia controla-se a montante do Sistema Nacional de Saúde. Portanto mais um pequeno esforço de respeito pelas regras, de respeito pelo distanciamento social, adesão massiva à vacinação e nós no final do verão teremos a pandemia perfeitamente controlada. É óbvio que esta doença veio para ficar, mas não pode ter o peso que teve e continua a ter no Serviço Nacional de Saúde.

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