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Adaberto Campos Fernandes

Festa dos sportinguistas. “Talvez seja altura de as várias autoridades se sentarem à mesa”

12 mai, 2021 - 09:47 • Redação

Ex-ministro da Saúde Adalberto Campos Fernandes considera que as regras “não eram antecipadamente claras” e que se calhar é mais seguro “ter uma multidão num ambiente controlado”. Virologista Paulo Paixão diz que ontem foi “o nosso espírito latino no seu pior”.

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Adalberto Campos Fernandes, antigo ministro da Saúde, defende que é altura de as várias autoridades se sentarem à mesma mesa para analisar eventos que envolvam muitas emoções, como o que aconteceu na terça-feira, em que o Sporting foi campeão.

“Nestes grandes eventos e nestas situações que mobilizam paixões e grande entusiamo das pessoas é sempre perigoso ficar a meio da ponte e ontem creio que ficámos a meio da ponte”, começa por dizer à Renascença.

“As regras não eram antecipadamente muito claras, as próprias autoridades policiais devem ter tido alguma dificuldade em saber o que fazer no controlo das massas e das pessoas. Talvez fosse altura de se sentarem à volta da mesa as autoridades policiais, de saúde, desportivas e considerar a possibilidade de talvez a multidão concentrada num ambiente controlado seja mais seguro do que ter o estádio fechado e depois acabar com as consequências no exterior serem mais negativas”, defende.

O antigo ministro apela, assim, a que as autoridades equacionem os moldes em que vão decorrer ocasiões futuras, como seja a final da Taça de Portugal, que se realiza daqui a menos de duas semanas.


“O nosso espírito latino está no seu pior”

Em declarações à Renascença, o virologista Paulo Paixão admite que não era fácil evitar o extravasar da alegria sportinguista, mas este foi um evento que nunca devia ter acontecido e que dá uma mensagem contraditória ao resto do país.

“Imagino que neste momento milhares ou milhões de portugueses estão a olhar e a dizer que umas vezes se cumprem regras, outras vezes, seja por causa do futebol ou por outro motivo qualquer, pode-se infringir tudo e correr elevados riscos”, critica.

“Realmente, não poderia e não deveria ser assim”, defende, sem avançar soluções. “Como é que se poderia conter isso quando são situações que envolvem milhares de pessoas sem arranjar grandes desacatos e grandes confusões é algo que a mim me ultrapassa”, admite.

Na opinião do presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, “em termos de autoridade de saúde”, uma alternativa era “proibir totalmente” os festejos, “o que seria um problema, porque no fundo a DGS não proibiu outras situações anteriores. Estas daqui ainda mais difíceis são de controlar, porque é muita gente a festejar”.

“Penso que o nosso espírito latino está no seu pior. Infelizmente, é isto que acontece”, conclui.

O balanço oficial é aguardado para mais tarde, mas a polícia confirma vários feridos e detenções na sequência dos festejos do título nacional de futebol do Sporting.

As autoridades chegaram a disparar balas de borracha para conter os milhares de adeptos. Vários objetos foram arremessados à polícia, como pedras e garrafas, mas a noite fica sobretudo marcada pelo incumprimento das regras sanitárias. Em pleno estado de calamidade, não foi respeitado o distanciamento social, nem o uso de máscara.

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