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Pandemia de Covid-19

Cerca de 27% dos portugueses já terão anticorpos contra o novo coronavírus

16 abr, 2021 - 01:18 • Marta Grosso com redação e Lusa

Estudo serológico desenvolvido pelo Instituto de Medicina Molecular indica que será, sobretudo, através da vacinação que Portugal alcançará a imunidade de grupo, lá para setembro.

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Cerca de 27% da população portuguesa terão anticorpos contra a Covid-19, o que significa que um em cada quatro portugueses terá desenvolvido, até agora, imunidade ao vírus. Os dados são do mais recente estudo serológico, desenvolvido pelo Instituto de Medicina Molecular.

À Renascença, Bruno Silva Santos, coordenador do estudo, explica que os investigadores chegaram a esta estimativa com base em análises a uma amostra da população, feitas no início de março e a que somaram depois o efeito esperado da vacinação.

“O que concluímos é que 13% das pessoas analisadas tinham anticorpos contra o novo coronavírus, que foram adquiridos por via natural. Portanto, foram pessoas que não tinham sido vacinadas e só podem ter esses anticorpos específicos porque entraram em contacto com o vírus, foram infetadas; tiveram Covid-19”, começa por dizer.

“O que acontece depois é que, devido à campanha de vacinação nos últimos meses, a esses 13% há a adicionar as pessoas que já receberam a vacina e isso leva-nos, ao dia de hoje, ao valor de 27%”, concretiza.

O Painel Serológico Longitudinal Covid-19 analisou a presença de anticorpos para o SARS-CoV-2 em colheitas de sangue feitas entre 1 e 17 de março.

“No início de março, quando fizemos o estudo, estávamos em 17% [de população imunizada], mas como a vacinação continuou e se intensificou de março a abril, no dia de hoje teremos 27% dos portugueses”, adianta Bruno Silva Santos à Renascença.

Para Portugal atingir a imunidade de grupo, precisa de 75% da população com anticorpos contra o novo coronavírus – está, pois, ainda muito aquém. Mas, “se não houver mais restrições nas vacinas”, o investigador e vice-diretor do Instituto de Medicina Molecular considera que em setembro se poderá atingir a imunidade de grupo.

“Neste momento a previsão é que, por volta de setembro, lá chegaremos através da vacinação”, aponta.

“Isso é que é uma grande mensagem deste estudo: é que, via infeção natural, se não vacinarmos, nunca mais lá chegamos, porque um ano de pandemia inteiro, com 17 mil portugueses a morrer com Covid-19 e com dois confinamentos e impacto enorme na nossa economia só nos levou a 13% de imunidade coletiva”, sublinha o também imunologista.

A presença de anticorpos neutralizantes no sangue aumentou 10% “num mês de vacinação” e num quadro de “escassez de vacinas”, destaca ainda, agora em declarações à agência Lusa.

“Isto refuta a tese anterior de que a imunidade de grupo poderia ser atingida por via natural. A chave é a vacinação”, remata.

Os resultados do estudo foram divulgados na quinta-feira.

Como foi feito o estudo?

O Painel Serológico Longitudinal Covid-19 analisou a presença de anticorpos para o SARS-CoV-2 em Portugal continental e nas ilhas, com uma amostra representativa da população portuguesa, constituída por 2.172 pessoas de várias idades e regiões, incluindo 156 que foram vacinadas maioritariamente até ao fim de fevereiro e 264 que tinham revelado anticorpos contra o novo coronavírus num estudo serológico anterior, de setembro e outubro de 2020, conduzido pela mesma equipa.

O Painel Serológico Longitudinal Covid-19 apresenta-se como um "retrato da segunda e terceira vagas da Covid-19" em Portugal através da "proporção da população que, mediante avaliação serológica, desenvolveu anticorpos específicos contra o vírus SARS-CoV-2".

"Dado que a produção de anticorpos aumenta a partir do momento da infeção e podem ser necessárias duas semanas para os detetar numa amostra de sangue através de um teste serológico, os resultados referem-se a pessoas que terão sido infetadas (ou vacinadas) até meados de fevereiro de 2021", ressalva o documento que descreve os resultados.

O estudo resulta de uma parceria entre o Instituto de Medicina Molecular, que coordena o trabalho científico, a Sociedade Francisco Manuel dos Santos e o grupo Jerónimo Martins, que financia.

A amostra foi "selecionada aleatoriamente" para haver "uma distribuição análoga à do país" em termos de densidade populacional, grupo etário, sexo, agregado familiar e nível de escolaridade, sendo que a percentagem de participantes vacinados (7%) "está em linha com a percentagem nacional de vacinação no início do estudo".

Cada participante do painel respondeu a um inquérito epidemiológico, que incluiu perguntas demográficas, profissionais, sobre o agregado familiar, saúde geral, exposição potencial ao SARS-CoV-2, sintomas e possível doença. As recolhas de sangue foram feitas em 314 postos de colheita, de norte a sul de Portugal continental, Madeira e Açores.

Para a caracterização da amostra, desenhada em colaboração com a Pordata, base de dados gerida pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, foram considerados três grupos etários (menos de 18 anos, entre os 18 e os 54 anos e 55 ou mais anos) e a densidade populacional da região de residência (baixa ou média e elevada).

De acordo com o estudo, 15% dos menores de 18 anos terão desenvolvido naturalmente anticorpos contra o SARS-CoV-2, contra 14% dos adultos entre os 18 e os 54 anos e 11% dos maiores de 55 anos. Nas duas últimas faixas etárias, a percentagem sobe, respetivamente, para 21% e 14% tendo em conta também as pessoas vacinadas.

A percentagem estimada da população imune (só através da infeção natural ou incluída a vacinação) é proporcional à densidade populacional, sendo ligeiramente maior (entre 14% e 18%) em áreas de densidade alta (mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado).

Nas regiões de baixa ou média densidade populacional (menos de 60 a 500 habitantes por quilómetro quadrado), a percentagem varia entre 12% e 17%.

[Notícia atualizada às 11h15 com declarações de Bruno Silva Santos à Renascença]

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