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Crise do jornalismo

Há uma agência que avalia jornais e Portugal pode ser o próximo teste

03 dez, 2019 - 13:24 • Susana Madureira Martins

Rodrigo Tavares é empresário e está à frente de um projeto já aplicado no Brasil e que, através de uma fórmula matemática, tenta convencer investidores de impacto a injetar dinheiro em jornais impressos ou digitais.

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O mercado dos media em Portugal não é diferente do de outros países. Todas as dificuldades financeiras que os grupos de comunicação estão a sentir, da precariedade à falta de investimento ou perda de publicidade e audiência, existem em todos os países.

O que a ‘Newspaper Impact Rating’ (NIR) tenta fazer é que os jornais – para já, o projeto abrange apenas a imprensa – possam continuar esse trabalho com investimento garantido.

É aqui que entram os investidores de impacto. O empresário Rodrigo Tavares, que está à frente do projeto NIR, diz que este tipo de investidor é motivado "por lucro e tem de fazer avaliação de risco". E segue "um terceiro critério: o do impacto social ou ambiental dos seus investimentos".

Rodrigo Tavares falava esta terça-feira na conferência "Financiamento dos media", que está a decorrer na cidadela de Cascais, com organização do Sindicato de Jornalistas, onde salientou que, se se conseguir "garantir que há grupos de comunicação social que desempenham um papel importante na sociedade que tenham boas repercussões sociais e façam um bom trabalho jornalístico independente tornam-se candidatos a receber investimentos de impacto".

Bom, mas como é que se mede tudo isto, seja a qualidade do jornalismo, o impacto social ou ambiental dos grupos de comunicação social? "Tem de ser mensurado e não pode ser subjetivo", resume o empresário português.

O NIR é recente e já foi aplicado no Brasil a um dos jornais de maior circulação, o estado de São Paulo, também conhecido como Estadão. Rodrigo Tavares diz que foi aplicada "uma das primeiras ferramentas matemáticas que inclui critérios racionais computados por máquinas e seres humanos, de modo a conseguir mensurar o impacto social e a relevância social e independência jornalística" daquele título.

E isto, ainda segundo Tavares, custou "zero" ao jornal. E é o que custará a todos os títulos ou grupos de comunicação que queiram fazer uso desta aplicação. O empresário português, que trabalhou vários anos no Brasil diz que agora está "a avaliar quais os mercados" que a NIR vai cobrir.

Neste primeiro ano querem cobrir 5 países e está a ser avaliado "se o mercado português vai ser coberto ou não", assume Rodrigo Tavares. Para começar o projeto vai concentrar-se nos "jornais online e jornais impressos e mais tarde" vai ser avaliado se se alarga a "outros veículos de comunicação" inclusive a rádio.

Arquivos de jornais, uma oportunidade de negócio

Que critérios usa, afinal a NIR, para dar nota aos jornais potencialmente candidatos ao investimento de impacto? Rodrigo Tavares explica que "necessariamente um jornal com muitos seguidores nas redes sociais, mas com baixo conteúdo em termos de qualidade não vai ter um score muito alto".

Por outro lado, "um jornal com altíssima qualidade de conteúdos, boas e várias fontes, mas sem seguidores e sem leitores, vai ter um score necessariamente baixo, os jornais com melhor score são aqueles que têm altíssima qualidade em termos de informação, com alcance global e nacional", resume o empresário.

Depois temos a questão da antiguidade como critério. A NIR tem em consideração "um jornal que tem mais anos e tem um arquivo publico que é visitável tem nota mais alta do que um jornal mais recente, sem leitores e não tem história".

E aqui Tavares dá um exemplo português, pegando no Diário de Noticias (DN) que possui um arquivo com mais de 150 anos de idade "valiosíssimo" e que faz "uma ressonância magnética diária" ao país, ou seja, "tudo o que aconteceu no país nos últimos 150 anos, está ali".

"Um arquivo fascinante de informação", este é um dos critérios para nota alta da NIR. E "quanto mais antigo for o jornal, maior vai ser a sua nota". Tavares salienta que o "arquivo do DN não é relacionado com um grupo económico" e que "aquilo é um património português que precisa de ser preservado".

O empresário recorda que viveu vinte anos fora de Portugal e desabafa que não consegue "entender que a história do DN não seja um tema que se discuta amplamente", acrescentando que "continua a ser um tema silencioso, periférico, marginal, até ao dia em que acontece ao DN aquilo que aconteceu com vários jornais".

Tavares não diz o quê, mas fica implícito o eventual desaparecimento deste título à semelhança do que aconteceu a outros jornais internacionais.

Concluindo a intervenção perante uma plateia de jornalistas, Rodrigo Tavares recordou o exemplo do arquivo do jornal brasileiro Estadão. É parcialmente aberto e se se "quiser continuar a digerir informação" é preciso pagar. Aqui o empresário refere que "não há nada de semelhante em Portugal" e que o arquivo é um "potencial de negócio muito forte também".

A conferência "Financiamento dos media" termina esta terça-feira com a intervenção ao final da tarde do Presidente da República.

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