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Observatório da Saúde dos Povos

Vai nascer em Portugal uma biblioteca virtual científica para melhorar terapêuticas

07 ago, 2019 - 15:34 • Sandra Afonso

Iniciativa pretende funcionar como instrumento de prevenção na Saúde Pública. Além de reunir e disponibilizar na mesma plataforma informação até agora dispersa, pretende também dinamizar investigações na área da saúde.

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Sabia que no Brasil já descobriram como cultivar tudo o que o Homem precisa no pior dos solos, quer seja de calcário ou vulcânico, como é o açoriano? E sabia que os Açores já sabem lidar melhor com doenças derivadas da insularidade do que os cabo-verdianos? Agora imagine como estes povos poderiam beneficiar com a partilha de conhecimentos e dados. É com esse objetivo em mente que surge agora em Portugal o "Observatório da Saúde dos Povos", uma biblioteca virtual de acesso livre para estudos científicos.

A palavra de ordem é "prevenção", seguida de "aprendizagem". Em linhas gerais, o objetivo da plataforma é recolher o máximo de informação possível e aprender, connosco e com os outros, para prevenir e melhorar terapêuticas.

Numa primeira fase, a biblioteca virtual vai começar por reunir “pesquisas de contexto hospitalar que abranjam patologias degenerativas, nos casos oncológicos, inflamatórios, reumáticos e neurológicos”, explica à Renascença Paula Mouta, diretora do Observatório da Saúde dos Povos. Mas a porta não está fechada a outras áreas, até porque “existe uma abrangência muito grande de estudos em ambiente hospitalar”, neste momento dispersos ou mesmo em suspenso por falta de apoios.

Habituada a receber no seu consultório em Lisboa doentes de Angola, do Brasil e de outros países, Paula Mouta cedo percebeu que tinha dados suficientes para cruzar informação.

Em causa está a análise da “epigenética” e o que pode influenciar a nossa saúde, desde a alimentação aos hábitos de vida, passando pela poluição aérea, marítima, sonora e eletromagnética, pelo clima, a agricultura, a qualidade da água de consumo, os hábitos culturais socioeconómicos e religiosos e até a estrutura emocional e fisiológica de cada pessoa e de grupos de pessoas consoante a sua região geográfica.

“É uma mudança de paradigma”, explica a médica. “Em vez de tratar exclusivamente a doença, é encontrar a raiz do problema, mudar a alimentação, os hábitos de vida.” Para isso, pretende-se cruzar informação sobre diferentes investigações e experiências em curso, incluindo na Europa, e os respetivos resultados. Paula Mouta exemplifica: “Nós entramos numa farmácia na Alemanha e metade do que é vendido é natural e a outra metade é química e a pessoa tem duas prescrições no consultório.”

Esta nova plataforma admite publicar estudos já realizados, mas será dada primazia a novas investigações. Para isso, conta com a colaboração do Hospital Saint Louis e do LaBEST – Laboratório para o Empreendedorismo, Sociedade e Tecnologia do Instituto Piaget, que vai validar os trabalhos científicos para publicação.

À Renascença, Jaqueline Silva, do Instituto Piaget, admite que o objetivo é cimentar um portal de referência na área científica à escala internacional.

A apresentação oficial do Observatório da Saúde dos Povos está marcada para 11 e 12 de Outubro, nos Açores, numa cimeira que vai reunir vários especialistas internacionais de diferentes áreas.

Será a partir dos dados já recolhidos por cada um que serão depois definidas as principais áreas de análise e investigação a apresentar na segunda cimeira, no ano seguinte.

O Observatório já está registado na plataforma da European Association Cancer Research. O próximo passo é chegar ao Parlamento Europeu e garantir financiamento comunitário.
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