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Estudo Fundação Francisco Manuel dos Santos

Maioria da população sem religião na área metropolitana de Lisboa nasceu em famílias católicas

02 jul, 2019 - 00:07 • Redação com Lusa

Ainda que mais de metade da população se declare católica (54,9%), o peso relativo dos indivíduos que declararam não pertencer a qualquer religião é “cada vez mais significativo", de acordo com dados recolhidos no trabalho desenvolvido para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, sob coordenação de Alfredo Teixeira, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica.

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Mais de metade da população não crente (55,2%) reside na Área Metropolitana de Lisboa (AML), onde a maioria das pessoas sem religião nasceu em famílias com identidade católica, revela um estudo esta quarta-feira divulgado.

Ainda que mais de metade da população se declare católica (54,9%), o peso relativo dos indivíduos que declararam não pertencer a qualquer religião é “cada vez mais significativo”, situando-se em quase 35% e dentro deste grupo, o peso dos não crentes ascende a 21,8%, enquanto os crentes sem religião continuam a afirmar-se, atingindo 13,1%, de acordo com dados recolhidos no trabalho desenvolvido para a Fundação Francisco Manuel dos Santos, sob coordenação de Alfredo Teixeira, da Faculdade de Teologia da Universidade Católica.

As conclusões do estudo “Identidades Religiosas e Dinâmica Social na Área Metropolitana de Lisboa” indicam que o peso dos budistas é equiparável ao dos muçulmanos (menos de 5%), sendo que nenhum dos entrevistados é oriundo de países asiáticos. “São quase todos portugueses ou de países de maioria cristã”, refere o documento. Os autores do estudo consideram que esta realidade se deve ao facto de o budismo ser uma religião cujos princípios se coadunam com “as espiritualidades contemporâneas”, valorizadoras da experiência da interioridade e com capacidade para atrair “principalmente indivíduos urbanos e escolarizados”.

O grupo dos cidadãos sem religião está em crescimento constante, sobretudo no ocidente europeu, e está longe de constituir um conjunto homogéneo.

Entre as posições religiosas minoritárias, mais de metade é constituída por evangélicos e outros protestantes. “Trata-se de um universo representado por algumas igrejas bastante competitivas no campo religioso, revelando melhores condições de autorreprodução”, observam os especialistas em sociologia, teologia e geografia que realizaram o estudo. O peso dos residentes brasileiros (42,3%) é muito elevado nesta minoria religiosa e não foi afetado pela diminuição de imigrantes oriundos daquele país entre 2011 e 2017. Segundo a PORDATA passaram de 111.295 para 83.000 pessoas.

Quem se ressentiu mais com esta inversão foram os evangélicos tradicionais, uma vez que apesar de elegerem a missão evangélica como prioridade, “grande parte das suas igrejas apresenta dificuldades em aderir a novas lógicas de comunicação e de transmissão”. Outros protestantes e evangélicos, "principalmente enquadrados nas chamadas igrejas urbanas, caracterizadas por estilos litúrgicos e formas culturais contemporâneas (música e linguagem) estão em claro crescimento e atraem portugueses, sobretudo os mais jovens”, indica o estudo.

Os estudiosos acreditam que parte dos 3% que afirmam ter trocado o catolicismo por outra religião terá provavelmente “transitado para estes grupos”.

Os muçulmanos estão entre os que menos equacionam transitar para outra comunidade religiosa.

Os evangélicos destacam-se como o grupo com uma militância religiosa mais forte. Cerca de 40% refere estar envolvido em grupos no seio das suas comunidades.

Segundo a investigação, as Testemunhas de Jeová não apresentam indícios de afirmação em contextos urbanos e cosmopolitas. “Mesmo assim, 20% dos seus membros localizam-se no concelho de Lisboa, enquanto a distribuição de evangélicos corresponde a 10,2% nesta área geográfica da AML”, lê-se no documento. A Área Metropolitana de Lisboa é composta por 18 municípios.

O estudo vai ser apresentado publicamente durante um debate nos Paços do Concelho de Lisboa, na presença do coordenador e da coautora Helena Vilaça, bem como do presidente da Comissão de Liberdade Religiosa, José Vera Jardim. O estudo foi feito com recurso a 1.180 inquéritos válidos, recolhidos no ano passado, e os resultados preliminares foram divulgados em dezembro.

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