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Portugal entre os cinco países da Europa que pior trata os idosos

23 fev, 2018 - 14:56

Da lista negra fazem parte apenas mais quatro países: Sérvia, Áustria, Israel e República da Macedónia.

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Um estudo da Organização Mundial de Saúde, que envolveu 53 países coloca Portugal no grupo dos cinco piores no tratamento aos mais velhos, com 39% dos idosos vítimas de violência.

Os dados foram esta sexta-feira citados, no Porto, numa conferência sobre “Reaprender a Idade: Contributos interdisciplinares”, pela médica e vice-presidente da Comissão de Proteção ao Idoso, Antonieta Dias, que afirmou que “Portugal é o país da Europa que menos investe nas pessoas da terceira idade”.

“Estamos no topo da Europa como o país que menos investimento tem para os idosos. É um estudo que está publicado e ao qual não podemos ficar alheios, para desempenharmos a nossa função de defesa de direitos humanos, de defesa dos direitos dos idosos e de defesa da cidadania”, disse Antonieta Dias.

A especialista frisou que “neste momento somos o país que tem piores condições para cuidar dos idosos, porque falta fazer o investimento credível e acompanhado do idoso”.

Para a médica, o “investimento credível e acompanhado” consiste, nomeadamente, “em criar mais alojamentos, investir nos cuidadores, nas pessoas que acompanham os idosos e alargar o leque de investimento em relação ao apoio da terceira idade”.

A responsável desafiou ainda as instituições que têm lucro a investi-lo na realização de outros lares, permitindo acolher as pessoas que têm condições económicas mínimas.

“Grande parte dos idosos tem reformas de 400/500 euros e não pode pagar mil euros para estar institucionalizado durante um período temporário ou definitivo. O meu desafio é que todos comecemos a despertar para esta problemática e fazer com que os lucros das casas que institucionalizam os idosos sejam investidos em lares adaptáveis aos nossos rendimentos. Estamos na Europa, mas os nossos rendimentos estão a léguas de distâncias de todos os europeus”, frisou.

No seu Relatório de Prevenção contra os Maus Tratos a Idosos, a OMS analisa as agressões nos últimos cinco anos contra os mais velhos, num universo de 53 países europeus, e conclui que “Portugal tem um sério problema no que respeita aos maus tratos contra idosos.”

Da lista negra fazem parte apenas mais quatro países: Sérvia, Áustria, Israel e República da Macedónia.

O presidente da Comissão de Proteção ao Idoso, Carlos Branco, citou dados da Associação de Apoio à Vítima relativos a 2016.

“Em Portugal é já possível aferir um aumento do número das vítimas idosas, apresentando agora 1.009 pessoas idosas vítimas de crime (em média três por dia e 19 por semana). Das 1.009 vítimas registadas em 2016, contra 774 em 2013, 679 tinham idades entre os 65 e os 79 anos (67,4%) e 330 tinham entre 80 e mais de 90 anos (32,6%)”, disse.

Em declarações à Lusa, Carlos Branco considerou que face ao envelhecimento da população, “os apoios existentes não são suficientes” e que, por esse motivo, “a sociedade civil tem de organizar no sentido de tentar mitigar estas situações”.

O responsável disse que a Comissão de Proteção ao Idoso avançou há cerca de um ano com a criação da provedoria do idoso, porque “a nível local, não obstante o trabalho meritório das misericórdias, das próprias autarquias e associações que estão no terreno, não existe nenhuma instituição que se dedique e que se ocupe concretamente dos idosos”

Essa figura, de acordo com Carlos Branco, enquadra-se sempre no município, por serem “as entidades mais próximas das populações, conseguindo de forma hábil diagnosticar os problemas sociais locais”.

“Preconizamos que esse provedor seja indicado pela rede social, a câmara municipal valida em sede de executivo e assembleia municipal e, depois, terá de ser validado pela comissão de proteção ao idoso, com quem vai trabalhar”, explicou.

A experiência piloto foi iniciada em 2017, “em Guimarães e Amares, e, entretanto, já foi alargada à Póvoa de Lanhoso. Existem mais quatro municípios do distrito de Braga onde será implementar já no imediato e ainda na Trofa, distrito do Porto”.

“A ideia é criar mais cinco/seis na região do Porto. A metodologia será diferente dada a dimensão do território, o que está pensado, em termos estratégicos, é implementar esta figura no âmbito das uniões de freguesias”, esclareceu.

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  • fanã
    23 fev, 2018 aveiro 17:45
    "Só não vê quem não quer ver" . Ser Idoso , deveria não ser um problema se se proporciona-se a qualidade de vida devidamente merecida em termos "Humanos" . Basta ser testemunha das situações mais diversas no quotidiano ; Urgências Hospitalares caóticas devido a perca de valências em Hospitais de proximidade , medicações por vezes entregues a credito ou não adquiridas , Lares a preços proibitivos e acessíveis só para altas reformas , alimentação ou medicação é por muitas vezes uma condicionante , o frio e a fome são uma realidade , uma miséria envergonhada para quem teve uma vida de trabalho com pensões mínimas de 300 e poucos € , e o terrível (faz de conta) de sensibilidade dos nossos engravatados Políticos que pretendem que estas situações em termos de Saúde estão melhores que no passado . Deveriam rever a definição do termo SAÚDE , que se define por o bem estar , Físico , Psicológico e Social . Para um País que se pretende "sensível" a todas estas situações , podem querer que não é com beijinhos e abraços e lágrimas de crocodilo ; que a nossa População idosa mais carenciada terá um fim de vida (digno) de uma Nação dita "evoluída" . Salve-se os Bancos e a alta Finança , isso sim sabem "ELES FAZER" . Por isso , neste País dos "desenrascas" e de cegos , quem tem um Olho é Rei !

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