Tempo
|
A+ / A-

Enfermeiros denunciam caos nas urgências de Faro e risco para a segurança dos utentes

07 jan, 2018 - 12:41

Estão a ser violados os direitos dos doentes no hospital de Faro. Enfermeiros dizem que não se responsabilizam por “consequências nocivas” desta situação.

A+ / A-

Os enfermeiros da Urgência do Hospital de Faro denunciaram a incapacidade de resposta do serviço, que dizem estar a colocar a segurança dos utentes e profissionais em risco, e avisam que o número de enfermeiros é insuficiente.

Em missiva enviada na madrugada de sábado à presidente do Conselho de Administração do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve (CHUA), a que a Lusa teve acesso, a equipa avisa que face à situação de "caos" não pode ser responsabilizada por "eventuais ou futuros acontecimentos dos quais resultem consequências nocivas" para os utentes ou familiares.

Segundo os enfermeiros, que querem manter o anonimato, apesar de o número de doentes admitidos ter vindo a aumentar, os recursos humanos e materiais são cada vez mais escassos, um dos fatores que tem conduzido à "diminuição da qualidade assistencial" e "progressiva degradação" da capacidade de resposta às adversidades.

"Ao mesmo tempo, o número de utentes internados em maca no Serviço de Urgência, bem como o seu tempo de permanência no mesmo, tem igualmente sido amplificado", sublinham, acrescentando que "o número de enfermeiros escalados por turno tem-se mantido igual e, em alguns casos, tem sido inferior ao estipulado como o mínimo".

Segundo os profissionais, o serviço tem-se revelado "incapaz de dar resposta às necessidades de utentes, familiares e profissionais que nele operam diariamente" e apesar de admitirem que a origem de alguns dos problemas é externa ao Centro Hospitalar, dizem que a administração "não tem sido capaz de defender as necessidades e os interesses da população".

Na missiva, enviada também para o ministro da Saúde, a equipa refere ainda que o actual plano de contingência é "inadequado", sendo "quase impossível" a sua operacionalização, pois prevê apenas a sua ativação quando o número de utentes no Serviço de Internamento na Urgência (SO) atingir os 30.

Segundo os profissionais, a activação do plano de contingência de um serviço de urgência "não deveria nunca estar dependente do número de utentes internados", uma vez que é um serviço que "não está apto a ser um serviço de internamento", havendo "violação dos direitos dos utentes".

Por outro lado, referem, o facto de haver utentes internados em SO "implica o desvio de meios, tanto humanos como materiais, dos balcões onde utentes, em ficha, aguardam cuidados de urgência".

Por último, acrescentam, o plano de contingência "não faz referência em momento algum a um reforço de pessoal no próprio Serviço de Urgência, o que seria o mais esperado tendo em conta o aumento da afluência ao serviço".

Situação que perdura e está a colocar em causa não só a qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem, mas também a saúde da população em geral e dos profissionais deste serviço de urgência.

Após um inverno muito rigoroso, consideramos que o aumento populacional característico da sazonalidade demográfica desta altura do ano, aliado a um plano de contingência em que não é contemplado qualquer reforço do número de profissionais (enfermeiros e assistentes operacionais), apenas virá agravar estas mesmas situações.

A equipa já tinha enviado, em Agosto passado, uma outra missiva à administração do hospital em que enumerava diversos problemas no funcionamento da urgência, nomeadamente, sobrelotação do serviço, macas sem condições para posicionamentos e conforto do utente ou condições da sala de triagem deficitárias.

Contactada pela Lusa, a administração do CHUA afirmou não ter recebido "formalmente o referido documento", do qual diz apenas ter tido conhecimento através da comunicação social.

"Em nenhum momento, a denominada equipa de enfermagem mencionada no comunicado, contactou através da sua chefia os atuais membros do conselho de Administração no sentido de expor as situações referidas no comunicado agora enviado", referem.

O Conselho de Administração diz ainda estranhar o momento escolhido para enviar o comunicado para a imprensa, na qual o enfermeiro-chefe do serviço de urgência "não se revê", numa altura em que o hospital "tem conseguido dar resposta de forma positiva ao pico de afluência".

Bastonária solidária

A bastonária da ordem dos enfermeiros, Ana Rita Cavaco, recorreu às redes sociais para manifestar solidariedade para com os enfermeiros que fizeram a denúncia.

Numa mensagem publicada ao início da tarde de domingo, Ana Rita Cavaco diz que luta “todos os dias contra esta vergonha.”

“Atacam-me violentamente por dizer que a dignidade das pessoas está no lixo no que diz respeito ao SNS. O SNS é matéria de Segurança Nacional, estruturante para a democracia e liberdade do país.”

A bastonária diz-se “muito orgulhosa” dos seus colegas enfermeiros. “Os enfermeiros portugueses são uns heróis. E perderam o medo. Nunca me calarei, recusem connosco este país.”

“Não chega, senhores governantes, irem visitar urgências e esconder os doentes, já não chega e ainda bem”, termina, antes de dizer que partilha a denúncia original da polémica, “por saber que é verdade.”

[Notícia actualizada às 13h52]

Comentários
Tem 1500 caracteres disponíveis
Todos os campos são de preenchimento obrigatório.

Termos e Condições Todos os comentários são mediados, pelo que a sua publicação pode demorar algum tempo. Os comentários enviados devem cumprir os critérios de publicação estabelecidos pela direcção de Informação da Renascença: não violar os princípios fundamentais dos Direitos do Homem; não ofender o bom nome de terceiros; não conter acusações sobre a vida privada de terceiros; não conter linguagem imprópria. Os comentários que desrespeitarem estes pontos não serão publicados.

  • neptuno
    09 jan, 2018 lisboa 12:49
    Fechem as escolas de enfermagem temporariamente e utilizem os enfermeios que os que tb estão em lugares de gestão e sindicatos a deslocarem-se para o algarve e assumirem funções assistenciais se ainda o sabem fazer.Em tempo de guerra intensa e assassina não se linpam armas.
  • DR XICO
    08 jan, 2018 LISBOA 10:54
    ALGARVE A GALINHA DOS OVOS DE OURO... Todos os governos tem desprezado o Algarve em questões de saúde, a zona do país que mais contribui para a riqueza nacional sem médicos enfermeiros e hospitais miseráveis do 3º mundo onde para além dos portugueses recorrem milhares de estrangeiros. o algarve devia no mínimo ter hospitais decentes em Faro. Portimão, Tavira e centros de saúde abertos até ás 22.00h todo o ano, sãos aos milhares os turistas mesmo agora de inverno. Abram os olhos enquanto é tempo ou lá se vão os Bifes para a Turquia Marrocos, Tunisia etc
  • não é novidade!
    08 jan, 2018 lx 10:18
    Infelizmente já é assim há anos! Médicos e enfermeiros só querem ir para o Algarve passar férias! Estranho é que a "ordem" dos enfermeiros só agora estejam preocupada! Há uns anos quando deixou que mandassem emigrar 20000 enfermeiros não estava tão preocupada!...
  • Joao Silva
    08 jan, 2018 Lisboa 09:56
    Em período de crise, trabalhem 40 horas por semana.
  • fanã
    07 jan, 2018 aveiro 19:45
    Podemos Anualmente, Mensalmente , Diariamente , Hórariamente bater na mesma tecla , indignemos-nos das reles condições do SNS . Facto , é que que o esforço de modernização e eficiência está e continuara a estar aquém do que se deveria considerar digno do Século que vivemos , para os sucessivos Governos a grande prioridade é a Finança ao serviço das grandes potencias económicas . A vida humana tem menos valor que um aparelho electrodoméstico para exportação , isso é a realidade !!!!
  • Filipe
    07 jan, 2018 évora 17:01
    E fazem de propósito os enfermeiros e médicos a tratarem e terem assim os doentes como as imagens na TV mostraram , fazem propositadamente , ponto final parágrafo ! O propósito existe porque essa gente não tem formação alguma em organização do trabalho nem se dá ao luxo por razões sindicais de tratar a saúde em Portugal melhor do que foram tratados os judeus nos campos concentração NAZI . As imagens se fossem a preto e branco pareciam enfermarias da GESTAPO ! Existem mais Hospitais em redor ! Se não tem capacidade peguem nos bombeiros que só mamam euros nas épocas dos fogos e algumas inundações de Inverno , distribuindo os doentes , digamos aqui POBRES do sistema saúde , por outros ou outras entidades da saúde e em último caso o Estado que faça parcerias com entidades PRIVADAS aquando épocas de mais afluências . As gripes sempre existiram , as pessoas são as mesmas em quantidade ! Fazem de propósito e temos mesmo atitudes CRIMINAIS !!! É uma vergonha como tratam aqueles que não tem cartões de saúde de acesso aos privados ! VERGONHA !
  • José Teotonio
    07 jan, 2018 Moncarapacho 13:57
    Eu acho que aquí não é necessario fazer comentários. Todos os habitantes do algarve conhécem a miséria que é o referido estabelecimento hospitalar. Mas para fazer uma pequena idéia basta lá ir uma vez ás urgências e fica logo a ver amiséria que lá existe, é uma vergonha!!!

Destaques V+