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“Nenhum bombeiro abandonou o posto mesmo com famílias e casas em risco”

12 ago, 2016 - 16:10

O comandante dos bombeiros do Funchal conta como se fez o combate às chamas num dos incêndios mais dramáticos da história da ilha.

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Nenhum dos bombeiros municipais do Funchal abandonou o seu posto, apesar de terem as casas e famílias em risco, assegurou esta sexta-feira o comandante, que enfrentou pela primeira vez o “drama” de um fogo florestal descer à cidade.

“Foram dias complicados, não só para mim, como também para toda a população, e, em especial, para todos os bombeiros que estiveram no terreno”, disse José Minas à agência Lusa.

O responsável enalteceu o empenhamento no combate aos vários fogos que deflagraram na segunda-feira na freguesia de São Roque, nas zonas altas do Funchal, e que afectaram outras localidades do concelho, tendo as chamas descido à cidade, onde provocaram três mortos, consumiram muitas casas e lançaram algum caos.

O comandante dos Bombeiros Municipais do Funchal (BMF) reconheceu que a situação foi “psicologicamente muito difícil, porque os bombeiros também residem no Funchal e nas zonas afectadas” pelo fogo.

Mas, assegurou, “nenhum bombeiro desta corporação deixou de prestar assistência à população em detrimento da sua protecção, dos seus bens ou das suas famílias”, vincando que “todos estiveram ao serviço da população, sendo extremamente difícil deixar a família em casa, muitas vezes em zonas expostas e vir trabalhar em prol dos outros”.

José Minas referiu que a Câmara do Funchal disponibilizou, desde a primeira hora, apoio psicológico para os efectivos da corporação, além de assistência ao nível da fisioterapia.

"Pela primeira vez na carreira”, José Minas apanhou “uma situação de combate a incêndios florestais que se propagaram à área urbana, à zona antiga [São Pedro], tendo vivido “momentos extremamente dramáticos e extenuantes do ponto de vista físico e, principalmente, psicológico”.

Para o responsável da corporação dos municipais do Funchal, o momento mais crítico e “marcante” do combate aos incêndios dos últimos dias foi a “situação na zona histórica”.

José Minas recorda que foi das primeiras pessoas a chegar ao local, sendo na altura “o condutor” do presidente do município, Paulo Câfofo, que se “apercebeu de toda a intervenção e do drama” que se desenrolava naquela zona baixa da cidade.

“Trabalhámos com muito poucos meios. Tivemos que gerir muito bem os meios existentes no local, principalmente porque não conseguíamos colocar viaturas de combate imediatamente no local”, apontou.

Na opinião do comandante, foi um “milagre colocar as auto-escadas na zona” e conseguir canalizar água para a zona “foi um trabalho dramático”.

“Tivemos problemas de abastecimento de água, como temos sempre”, admitiu, argumentando ser “impossível numa cidade com a orografia do Funchal que não haja quebras de água, principalmente nas zonas altas”.

No caso do foco na zona de São Pedro, onde foram consumidos alguns imóveis e foi necessário evacuar uma unidade hoteleira, os bombeiros pediram “um aumento de caudal de pressão, através dos serviços da câmara para aquela zona”.

“Foi com essa água que fizemos o combate”, sustentou, acrescentando que neste ataque ao fogo apenas tiveram o apoio de um pronto-socorro dos Voluntários Madeirenses (BVM) e de uma viatura do dispositivo do Aeroporto Internacional da Madeira, “com uma bomba específica que se dirigiu para aquela zona”.

Segundo José Minas, “se não fosse a água da rede pública” aquele quarteirão na baixa da cidade seria “perdido completamente”.

“Este [foco] foi o que marcou, porque tudo o resto foram situações que, infelizmente, já passei por elas em várias ocasiões”, observou.

Outra situação complicada foi a necessidade de retirar as pessoas das habitações em perigo, para a qual é necessário recorrer à intervenção da Polícia de Segurança Pública (PSP), que “fez um trabalho excepcional”.

“Não temos nenhuma situação de ferimentos graves” nos bombeiros da corporação, disse José Minas, mencionando que se registaram alguns casos de problemas com inalação de fumos, o que exigiu que “passassem algum período na câmara hiperbárica sob pressão” e uma bombeira “com uma lesão ocular que se encontra a recuperar em casa”.

José Minas indicou que os BMF ficaram “com oito bombeiros que não conseguem nos próximos dias prestar apoio, porque estão com algumas lesões, mas nada de preocupante”.

A corporação dos Municipais do Funchal teve a quase totalidade dos efectivos, exceptuando os que estão ausentes da região, em férias, num total de 90 elementos, envolvidos no combate aos incêndios.

“Muitos estavam a gozar férias e interromperam para combater o fogo, como eu”, concluiu.

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  • graciano
    12 set, 2016 alemanha 10:39
    nenhum bombeiro hoje trabalha sem receber ser bombeiro e uma profissao sujeita aos seus problemas como todas as profissoes 3 dias sem ir a casa ha pessoas em outras profissoes que estao meses e ate anos estiveram muitas horas seguidas num incendio mas o resto do ano estao de ferias murreram ficaram feridos um pedreiro uma mulher de limpeza tambem pode murrer ou ficar feridos ha paciencia
  • Paulo Fernandes
    12 ago, 2016 Norte 22:17
    Tenho o máximo de respeito pelos bombeiros e autoridades em geral, mas não posso deixar de considerar absurdas estas declarações sob o ponto de vista dos chefes de familia que aparentemente deixaram os seus entes queridos à sua sorte, para andarem a salvar desconhecidos... Acho estas declarações um flop sem sentido. Bem hajam os bombeiros.
  • Juan Panvini
    12 ago, 2016 Mafra 16:51
    Espero que o governo regional, enalteça e valorize corretamente estes homens e mulheres, muitos dão a sua própria vida sem receberem 1 tostão, mas que só se lembram deles para poderem aparecer na televisão.

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