28 nov, 2024 - 22:14 • Lara Castro , com Reuters
O partido, Sonho Georgiano, que detém o poder na Geórgia, anunciou esta quinta-feira que vai suspender as negociações da adesão com a União Europeia, até 2028.
Também irá recusar os subsídio orçamentais de Bruxelas, suspendendo assim de forma efetiva o pedido de adesão à UE, um objetivo nacional de há muito tempo.
Como resposta à decisão, milhares de manifestantes pró-UE bloquearam as ruas da capital Tiblissi, enquanto a Presidente do país acusou o Governo de declarar "guerra" ao próprio povo com a suspensão das negociações de entrada no "clube europeu".
O Sonho Georgiano acusou a UE de uma "sucessão de insultos", afirmando, em comunicado, que a União Europeia estava a aproveitar-se das negociações para "chantagear" a Geórgia e "organizar uma revolução no país".
Por conseguinte, o Parlamento tomou a decisão de “não incluir na ordem do dia a questão da abertura de negociações com a União Europeia até ao final de 2028." Além disso, recusou "qualquer subvenção orçamental da União Europeia até ao final de 2028”.
O país, com 3,7 milhões de habitantes, tem inscrito na sua Constituição o objetivo de aderir à UE, e tem sido tradicionalmente um dos estados mais pró-ocidentais, sucessores da União Soviética.
As relações da Geórgia com Bruxelas deterioraram-se fortemente nos últimos meses, devido a alegações de autoritarismo e tendências pró-russas lançadas sobre o Governo de Tiblissi.
A Sonho Georgiano afirma que não é pró-russo e que está empenhado na democracia e na integração com o Ocidente. Diz que ainda quer aderir à UE, mas tem-se envolvido repetidamente em conflitos diplomáticos com Bruxelas nos últimos anos, ao mesmo tempo que aprofundou laços com a vizinha Rússia.
A UE não fez qualquer comentário formal de imediato sobre o anúncio do partido georgiano. Mas um funcionário europeu disse a decisão desta quinta-feira tinha um grande impacto, acrescentando que o Governo estava a fazer o que a União Europeia temia e esperava que não fizesse.
As sondagens mostram que cerca de 80% dos georgianos apoiam a adesão à UE, inclusive a bandeira da união é hasteada ao lado da bandeira nacional no exterior de praticamente todos os edifícios governamentais do país.
A oposição pró-ocidental da Geórgia reagiu ao anúncio do Governo com indignação, enquanto vários milhares de manifestantes bloquearam estradas e concentraram-se em frente ao Parlamento e à sede do partido no poder. Os meios de comunicação social locais noticiaram protestos também em várias cidades da província.
Giorgi Vashadze, um dos principais líderes da oposição, escreveu no Facebook: “o governo autoproclamado e ilegítimo já assinou legalmente a traição à Geórgia e ao povo georgiano”.
A Presidente Salome Zourabichvili, pró-UE e crítica do Sonho Georgiano, afirmou que o partido no poder "não declarou a paz, mas a guerra contra o seu próprio povo, o seu passado e o seu futuro”.
O mandato da Presidente da Geórgia termina em dezembro e o partido que está no poder já nomeou um antigo deputado com opiniões anti-ocidentais para a substituir.
A oposição afirma que as eleições de outubro, cujos resultados oficiais deram ao Sonho Georgiano quase 54% dos votos, foram fraudulentas e recusou-se a ocupar os seus lugares. Os países ocidentais apelaram à abertura de um inquérito sobre as alegadas infrações. Tanto o Sonho Georgiano como a comissão eleitoral do país afirmam que as eleições foram livres e justas.
Depois do anúncio dos resultados, os partidos da o(...)
Esta quinta-feira, o primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobakhidze, disse aos jornalistas que a adesão à UE poderia prejudicar a economia do país, uma vez que obrigaria Tiblissi a cancelar os acordos de isenção de vistos e os acordos comerciais com outros países.
A UE concedeu à Geórgia o estatuto de país candidato em dezembro de 2023, mas viu como obstáculos à adesão uma série de leis aprovadas pelo partido do poder desde então, incluindo restrições aos “agentes estrangeiros” e aos direitos LGBT.
Críticos estrangeiros e nacionais do Sonho Georgiano afirmam que o partido está a orientar a Geórgia de volta para Moscovo, de onde obteve a independência em 1991.
A Rússia e a Geórgia não mantêm relações diplomáticas formais desde a guerra de 2008, mas tiveram recentemente uma reaproximação, com Moscovo a levantar a proibição de voos para a Geórgia e a eliminar um regime restrito de vistos para os georgianos que trabalham na Rússia.
As sondagens de opinião mostram que a maioria dos georgianos não gosta da Rússia, que continua a apoiar duas regiões separatistas da Geórgia e que invadiu o país vizinho numa guerra de cinco dias, em 2008.
O Presidente russo, Vladimir Putin, que se encontrava de visita ao Cazaquistão, elogiou a “coragem e o carácter” demonstrados pelas autoridades georgianas ao aprovarem a lei dos agentes estrangeiros, que os críticos nacionais comparam à legislação russa.